Capítulo XXVI - A coroação (Parte II)

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- Eu queria ir à praia!

O pedido de Theo pegou Doroteya de surpresa. Estavam na cozinha, onde a druidesa limpava o local depois que Lina saíra com a família. Após o pedido, o menino a olhava com ansiedade, esperando sua resposta, mas a única coisa que ela conseguia pensar era de onde ele tirara aquela ideia. Como se lesse seus pensamentos, Tommy apareceu na janela em cima da pia, com uma tesoura de podar na mão.

- Eu tinha dado essa ideia a ele. – explicou – De levá-lo à praia em um dia de sol. Mas eu estava pensando no verão, Theo.

- Ah, mas tá sol hoje! – lembrou o menino – E tá calor!

Era verdade. A primavera estava tão quente quanto o inverno fora frio. Doroteya já tinha inclusive trocado seus vestidos pesados por outros mais leves e que não a faziam ter vontade de arrancar roupa e sair correndo para pular no canal.

- Por que essa vontade tão repentina, Theo? - perguntou Doroteya. Seu filho não era dado a rompantes como aquele e isso a intrigava.

O menino ficou visivelmente envergonhado.

- Deixe pra lá... - murmurou baixando a cabeça. - Esperamos o verão. - e fez menção de deixar a cozinha.

Aquilo foi como uma facada no coração de Doroteya.

- Ah, não! - exclamou ela e se aproximando dele – O senhor vai começar a esconder as coisas de sua mãe agora? - e cruzou os braços.

Theo parou e encarou a mãe.

- A senhora promete que não ficará brava? - perguntou o menino angustiado.

- Só se você tiver feito algo errado. - respondeu sinceramente. Sempre prezara por um relacionamento aberto com o filho e não começaria a esconder nada nem o deixaria fazer o mesmo – Você fez algo errado, Theodore?

O uso do nome completo do menino não apenas o deixou tenso como teve o mesmo efeito em Tommy. Os dois se entreolharam brevemente e o engenheiro fez um gesto com a cabeça, incentivando-o:

- Seja o que for Theo, não se deve esconder de sua mãe. - falou.

Theo baixou a cabeça por um momento para depois confessar:

- É que eu queria ter ido à Bastilha com Pietro. - suas bochechas ficaram vermelhas – Mas como não posso, pensei que seria legal fazer algo diferente pra contar a ele quando chegar.

Isso foi muito pior do que Doroteya estava esperando, mas não pela questão de Theo ter vontade de ir a Bastilha. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele quereria sair dos limites que lhe foram impostos. O que lhe atingira foi perceber o quanto Theo se sentia sozinho, sem a companhia de outra criança. Porque, na verdade, o que estava evidente ali era que ele queria ter ido porque Pietro fora. Poderia ser a bastilha ou outro lugar, a questão era acompanhar o novo amiguinho. E como não podia, queria fazer algo tão legal quanto o outro fizera, para poder compartilhar suas experiências.

- Não estou chateada com você, Theo. - disse ela suavemente. Depois, se voltou para Tommy e perguntou – Onde as pessoas costumam tomar banho de mar aqui?

Ele, que observava a cena mais que preocupado, foi pego de surpresa pela pergunta repentina, mas logo respondeu:

- Depois do porto há uma praia muito boa, de areias limpinhas e não tem pedras nem correnteza forte. Nos fins de semanas de verão, enche de gente. Como hoje é dia de semana e ainda primavera, é provável que não tenha ninguém..

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