Capítulo XVIII - Silêncio profundo

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Da janela do seu quarto, na área mais nobre de Luaprata, bem próximo a torre Solfúria, Kayliel observou a comitiva retornar de sua viagem a Quel'Danas. Mesmo a uma certa distância, pode distinguir claramente as quatro princesas, junto a Lor'themar Theron, sua sobrinha, o arquimago Aethas, bem como Lady Liadrin e seus comandados. Muitas pessoas acompanhavam a volta da futura rainha nas calçadas e o sacerdote pensou no que sentiria a jovem Karensky diante do imenso papel que estava para desempenhar. Esperava que ela pudesse lidar com tudo que viria pela frente.

Ser da realeza era uma tarefa árdua. Diferente do que muitos pensavam, não se resumia a ter poder sobre todos, muito pelo contrário; o poder da opinião do povo era o verdadeiro peso da coroa. O rei Anasterian sabia muito bem disso e escondeu seu caso de amor com Lady Luelly com uma habilidade impressionante, condenando a si mesmo e aquela gentil dama ao sofrimento. O príncipe Kael'thas, em sua ânsia por salvar seu povo, fez alianças obscuras e todos eles pagaram um alto preço por isso. Kayliel tinha a esperança que a futura rainha não se visse na mesma situação que seus antecessores.

A comitiva já terminara de passar quando o elfo se afastou da janela, sentou-se numa imensa poltrona dourada e cruzou as mãos apoiando os cotovelos nos joelhos.

Quanto tempo teria levado para Arshe perceber que teria que sacrificar o amor dos dois em função do título que recebera?

Bem, essa pergunta ficaria sem resposta, pois Kayliel não deu tempo nem oportunidade para que Arshe pudesse fazer essa decisão por si própria. Em seu desejo exacerbado de poupá-la de ter que decidir entre seu povo, pelo qual seu pai tinha se sacrificado, e o amor deles dois, fora totalmente egoísta, assumindo a dianteira e decidindo tudo. Não tinha dado a oportunidade dela opinar sobre seu próprio destino. E agora, três anos depois, se via diante do fato que cometera o maior erro de sua vida. Nunca, nunca deveria ter tomado uma decisão tão grande sozinho. Quando o fizera, tinha certeza que saberia lidar com o ódio que Arshe teria dele e que, com o tempo, tudo aquilo se tornaria mais suportável.

Como fora tolo e inconsequente!

Quando a vira em Dalaran, pensou que seu peito explodiria diante da profusão de sentimentos que viera à tona. Mas nada, nada fora pior do que o ódio que vira em seu olhar. Pensava estar preparado para isso, mas nem que vivesse milhares de anos conseguiria esquecer o quão forte foi a dor que sentira. E desde aquele dia, não houve um só momento em que não pensasse na bela e jovem maga humana. Tentara de todas as formas se entreter, mas quando deu por si, estava usando um selo do Kirin Tor, que não usava a muito tempo, e mandando uma súplica digna de um covarde. E como um adolescente ansioso, estava esperando a resposta com tanta ansiedade que já tinha visto a caixa de correio cinco vezes naquele mesmo dia.

Todavia, a parte racional dele, teimava em dizer que não adiantava mais. Não importava quantas cartas mandasse, quantos apelos fizesse, nada traria Arshe de volta. Isso porque ele não lhe dera a chance de decidir sobre os dois, que lhe tirara o direito de pensar sobre sua própria vida. E que nem ao menos lhe deu uma simples explicação para o que fizera. Simplesmente dissera que era o fim e sumira. Jurou que a princesa jamais saberia o motivo do rompimento. Se Arshe soubesse o motivo, com certeza o convenceria a não fazer aquilo. E para evitar o embate, a magoou profundamente.

O que diabos tinha na cabeça ao fazer aquilo?

- Você parece pensativo.

Kayliel virou a cabeça e encarou seu irmão. Rommath estava na porta da sala, de braços cruzados, o encarando como se estivesse tentando ler sua mente.

E talvez estivesse tentando mesmo.

- E você parece meio desocupado. – respondeu o sacerdote descruzando as mãos – Por que não foi com a comitiva até a Nascente do Sol?

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