Capítulo XXVI - A coroação (Parte I)

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Doroteya batia um bolo na cozinha, enquanto olhava o sol entrando pela janela, iluminando as ervas que agora mantinha em vasos na cozinha. O inverno se fora, a primavera chegara e agora o pequeno jardim crescia vigorosamente, sendo bem cuidado pela druidesa atenta. Sorriu, admirando o dia maravilhoso que começava, pensando em o quanto amava as pessoas que comeriam daquele maravilhoso bolo que fazia, quando ouviu um barulho as suas costas. Virou-se e viu Tommy, entrando na cozinha. Seu coração disparou. Ele estava sem camisa, e seu peito, agora definido, reluzia com os raios de sol que entravam da janela. Quando seus olhos se encontraram, um sorriso lindo tomou conta de seus lábios.

- Doro... - chamou ele com a voz suave.

- Oi... - cumprimentou a druidesa sorrindo e sentindo o rosto arder.

Ele se aproximou mais e abriu os braços.

- Como estou? Estou bonito? - perguntou.

- Errr... - foi tudo que ela disse, diminuindo o ritmo em que batia o bolo. Seus olhos agora desceram para o peito reluzente e não conseguiram mais sair de lá.

- Estou bonito? - repetiu.

Sem saber porque de repente sua voz sumira, Doroteya só pode continuar batendo o bolo, numa velocidade muito lenta. Tommy abriu ainda mais seu sorriso e caminhou até ficar em frente a ela. Colocou o dedo na massa da tigela e provou, olhando-a intensamente.

- Muito bom... - ele sussurrou.

Sem saber o que fazer, a druidesa apenas encarava os penetrantes olhos verdes.

- Sabe, poderíamos fazer algo bem interessante... - murmurou Tommy tirando a tigela de suas mãos e colocando-a na pia.

- É-É? - gaguejou tropeçando nas palavras no momento em que ele grudou seu corpo no dela e aproximou o rosto.

- Sim... - sussurrou de forma sensual – Podemos... Martelar...

- O quê? - perguntou Doroteya sem entender.

- Martelar! - e ele riu divertido, com um martelo que surgira do nada em sua mão.

Diante do olhar confuso da druidesa, ele começou a martelar a parede. Martelar. Martelar. Martelar.

E foi quando Doroteya acordou.

As marteladas que se infiltraram em seus sonhos ecoavam pelas paredes do quarto enquanto a mulher sentava-se na cama, confusa e com o coração ainda acelerado. O que fora aquele sonho? Passou a mão pelos seus cabelos rebeldes, incomodada com a sensação estranha que tomava conta de seu corpo e alma naquele momento. Respirou fundo para acalmar as batidas de seu coração, que pareciam estar no mesmo ritmo do barulho lá fora. Sentiu-se de repente muito envergonhada. Não queria pensar nem analisar aquele estranho sonho, onde Tommy a olhara de forma tão intensa e maliciosa. Não queria pensar que gostara daquilo. Como poderia ter esse tipo de sonho ao lado de seu filho? Olhou rapidamente para o lado, para onde Theo dormia, mas ele não estava lá. Antes de entrar em desespero, lembrou-se de que mais cedo Lina viera buscá-lo para ir à feira e do menino lhe sapecou um beijo. Ela dormira novamente em seguida. E então tivera aquele sonho. Enrubescendo, jogou os lençóis para o lado, e ficou de pé, como se quisesse se livrar do sonho com aquele gesto. Rapidamente vestiu o robe por cima do pijama e saiu do quarto.

Assim que saiu para o corredor, viu que, na escada, estava Tommy, martelando com vontade, concentrado e com a testa franzida. Ele estava sem camisa, como em seu sonho, e o suor escorria pelo peito, agora bem mais musculosos do que meses atrás. O rosto de Doroteya ardeu, e as sensações do sonho a dominaram novamente. Parou onde estava e ficou admirando o homem que continuava seu trabalho, alheio a sua presença. Pouco depois ele finalmente parou, respirou fundo, colocou o martelo de lado, pegou uma toalha e limpou o suor. Quando ele se espreguiçou, virou a cabeça para estirar os músculos do pescoço e então a viu.

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