Capítulo XXXIV - Descobertas (Horda)

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A canção ecoava no salão, as notas musicais dançando solitárias no espaço vazio, nenhuma plateia para ouvi-la, ninguém para apreciá-la. Tocar para si mesma, apenas para seu deleite, era o novo prazer de Karen. Dedilhava os dedos agilmente pala harpa, com a mesma maestria com o qual girava sua espada em suas mãos, uma habilidade adquirira com muito esforço, muitas horas de treino e muitos concertos para si própria. Não que desgostasse dos aplausos e dos elogios; gostava e muito. Mas tocar para alimentar sua própria alma lhe dava forças para aguentar os pensamentos nebulosos quando estes a assaltavam.

Quando a música findou e ela relaxou os braços, sentiu os dedos latejarem pelo esforço. Se os olhasse naquele momento, saberiam que estavam vermelhos, mesmo que já estivessem calejados. A perfeição é dolorosa, lhe dizia Lady Liadrin. E mesmo que não se referisse à música, aquele ditado combinava perfeitamente com o momento. Colocou a harpa no chão, levantou-se e esticou-se, os músculos reclamando do tempo sem movimento. Respirou fundo e pensou se voltaria para sala de reuniões ou se treinaria. Na verdade, tudo que ela queria era fugir para a Cidade Baixa, de lá pegar o zepelim para Orgrimmar e, de Orgrimmar, partir para Pandaria para trazer Tewdric e Kassyeh de volta imediatamente. E trancá-los na torre, para nunca mais saírem.

Receber a carta de Luxuriah foi uma alegria e uma decepção: estava muito feliz em saber que Kassyeh e Tewdric estavam bem, mas ficou furiosa com a decisão deles de permanecerem em Pandaria para ajudar. Seu lado responsável e centrado entendia a decisão deles e apoiava; era necessário reestabelecer a tranquilidade que a chegada da Horda e da Aliança tiraram do novo continente. Seu lado mais infantil e impaciente não queria saber de nada, a não ser de ter os dois em casa de novo. E ficara nesse conflito por todo aquele tempo, alternando em momentos de fúria, onde escrevia imensas cartas para os dois, exigindo que voltassem para casa ou ela os buscaria; e momentos de tranquilidade, como aquele, onde apenas tocava até seus dedos doerem ou treinava até seus músculos falharem, desfrutando os prazeres de uma mente vazia. Até voltar a pensar e voltar a ficar com raiva.

De nada adiantava a raiva, tentava dizer para si própria. E de nada adiantava fugir e ir para Pandaria, mesmo que fosse sua vontade. Só desencadearia uma onda de preocupações gigantescas e sermões sem fim que não estava disposta a ouvir. A única pessoa em quem confiava para compartilhar seus pensamentos era Sabá e já respondera sua última carta; esperava que em dois ou três dias chegasse a resposta. Era a jovem orquisa que constantemente dizia para ela manter o foco no que era importante e o importante era manter-se em Luaprata e esperar.

Só que ela já estava cansada de esperar.

"Quando eles voltarem, vou brigar com eles e me recusar a dar um abraço ou beijo, para mostrar minha revolta!", decidiu Karen. Decidiu também que era hora de bater em algo, antes que Lor'themar lhe trouxesse mais papéis para analisar; já perdera a manhã toda e uma parte da tarde lendo solicitações e despachando-as. Além do mais, quando estava treinando, o lorde regente não intervia. Talvez preferisse lidar com uma rainha cansada e suada do que com uma elétrica e cheia de energia. E se somasse a raiva a esses dois últimos sentimentos, realmente a preferência dele fazia todo sentido. Guardou a harpa em sua bolsa de couro, colocou-a dentro do armário do salão de música e saiu, para o corredor. Mal havia passado pela porta quando uma serva se aproximou, um sorriso enorme nos lábios e fez uma reverência, antes de dizer:

- Majestade, a princesa Kassyeh e seu consorte voltaram.

Por um instante, Karen não disse nada, surpresa com a notícia. Depois, um sorriso imenso se abriu em seu rosto, seu coração aos pulos.

- Onde eles estão? - perguntou, ansiosa.

- No salão principal.

Sem esperar mais nada, Karen disparou em direção ao local. Esqueceu de sua raiva, esqueceu de sua frustração e esqueceu que era uma rainha e tinha que manter a postura; era a menina ansiosa novamente, a menina que queria muito, muito, rever as pessoas amadas.

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