Como sobreviver ao mundo

Capítulo 04: Aproximações

   
      Depois de outro banho, deitei na cama para descansar... Mas não consegui dormir. Então, resolvi ligar para o Simón. Mesmo dizendo pra Will que eu estava cansada e precisava me retirar, não consegui pregar os olhos. Aproveitei que Verônica ainda não tinha voltado, peguei meu notebook e iniciei uma chamada de vídeo.
Alguns segundos depois Simón atendeu.

"Hanna! Que bom te ver, não esperava que me ligasse ainda hoje." Ele falou colocando seus óculos no rosto. Ele ficava ainda mais lindo de óculos.

"Atrapalhei?" Fechei meus olhos com um certo medo da resposta dele.

"Claro que não!" Ele sorriu e eu também, automaticamente.

"Lembra, falamos que ligaríamos todos os dias. Você não ligou, então eu liguei." Falei e ajeitei a tela do notebook.

"Desculpa, eu pensei que você estaria descansando depois da viagem... Por isso não liguei." Ele disse.

"Não consegui descansar, as coisas por aqui são movimentadas demais." Falei me lembrando dos acontecimentos de mais cedo.

"Como é o campus? Já conheceu alguém?" Ele perguntava sorrindo.

"O campus é gigante! Temos lago, refeitórios, quartos que mais parecem de hotéis. É bem bonito." Falei tentando fazer ele se esquecer da segunda pergunta.

"Que ótimo! Mas já conheceu alguém?" Ele insistia na pergunta.

"Na verdade conheci quando cheguei no aeroporto. A escola escolhe alguns alunos pra receber os calouros. Conheci o Will, um cara muito gente boa!" Soltei um sorriso extremamente forçado.

"É mesmo? E sua colega de quarto?" Ele tentava não transparecer ciúmes, mas eu bem conhecia quando ele sentia isso. Suas bochechas ficavam vermelhas e era exatamente assim que elas estavam. Sorri por impulso.

"Não sei se posso chamar ela de colega. Ela é insuportável. Dá pra acreditar que aquele lance de popularidade e exclusão existe por aqui? E adivinha? Ela é a líder do grupinho!" Revirei os olhos.

"Que merda! Não tem como mudar de quarto?" Ele perguntou.

"Não sei... Acho que o campus tá cheio. Também quase não faria diferença, ela nem aparece por aqui, eu acho. O ruim é que o Will é a mira do grupinho." Resmunguei e de repente ouvi um barulho na porta. Alguém estava batendo.

"Escutei um barulho..." Simón disse paralisado como se quisesse ouvir algo.

"Ah, bateram na porta! Me espera um minuto, vou ver quem é." Sorri e fui abrir a porta.

"Oi... Fiquei de mandar mensagem, mas resolvi vir pessoalmente. Quer dar uma volta?" Will sorriu.
Meu coração acelerou.

"Will... Eu... Eu não estava esperando você vir aqui. Que horas são? Ah, não importa. Será que pode ser daqui uns vinte minutos? A gente se encontra no sofá da área verde." Sorri forçadamente, muito forçadamente.

"Ah, claro. Mas está tudo bem?" Will perguntou tentando olhar sobre meus ombros para dentro do quarto.

"Sim! É só porque estou numa chamada de vídeo com meu amigo. Desço daqui vinte minutos!" Eu continuava sorrindo forçadamente para não parecer grossa.

"Tudo bem, te encontro lá. Daqui vinte minutos." Ele soltou um sorriso gelado e foi para o elevador.
Fechei a porta e voltei para a cama. Peguei o notebook e coloquei no colo.

"Uau, ele está muito seu amigo... Não é?" Simón perguntou. Senti uma grande ironia na voz dele.

"Ele é um cara legal. Não tem muitos amigos... Está só sendo gentil." Respondi.