Capítulo 28: Passeios.

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Música do capítulo: Shots - Imagine Dragons.

Ainda sábado, 5:16 AM...

    Me afastei de Simón e parei nosso beijo. Ele  me olhou com aqueles olhos profundos e cheios de vontade. Só eu sei da onde tirei forças para interromper isso.

"Simón, me desculpe. Mas não posso!" Coloquei as costas da minha mão esquerda na boca, como se com esse ato, pudesse sentir os lábios de Simón novamente.

"Me... me desculpe! Eu não deveria ter feito isso. Não sei o que me deu. Eu... eu estou meio sensível e não..." Simón de repente parou de falar. Como seu não soubesse o que dizer.

"Entendo que não estamos no melhor momento, mas não posso! Eu estou com o Will." Olhei pra ele e senti seu rosto mudar. Simón sacudiu a cabeça como se estive concordando com o que acabei de falar, e não com quem eu estou.

"Ok. Will deve ser aquele panaca que me encarou no enterro, não é?" Ele me olhou.

"Sim, Will é aquele que ficou te encarando no enterro. Mas por favor, não chame ele de panaca." Forcei um sorriso e Simón arqueou as sobrancelhas, meio sem graça.

"Certo, me desculpe. Não posso culpá-lo por ter sido mais homem e ter fisgado aquilo que eu sempre quis. Ele teve coragem... eu não!" Ele soltou um sorriso sem graça e se levantou. Me levantei junto, tentando assimilar tudo que ouvi. Será que ouvi certo?

"O que disse?" Perguntei virando o ouvido na direção do seu rosto, como se fosse surda.

"Ah, deixa pra lá vai! Não vai adiantar remoermos minha falta de coragem. É melhor não mexer no que já está feito." Ele passou a mão por sua boca, como se estivesse se livrando do meu resquício.

"Certo! Onde você vai agora?" Coloquei as mãos na cintura encarando-o.

"Vou correr um pouco... não sei! Mas vou ficar bem. Agradeço por ter vindo até aqui e me escutado. Agradeço por ter oferecido sua casa. Me desculpe por... bem, por isso." Ele apontou para sua própria boca, se referindo ao nosso beijo.

"Tudo bem! Amigos de vez em quando cometem esses erros. Tá tudo bem. Me liga mais tarde ou manda mensagem. Ok? Vou voltar caminhando para casa." Sorri e ele concordou com a cabeça. Simón se aproximou de mim, deu um beijo em minha testa e saiu correndo na direção oposta à nossa casa. Respirei fundo e me sentei mais uma vez no banco de metal gelado. Verifiquei as horas no celular: 5:30 AM. Faltavam poucas horas para amanhecer o dia e eu não sentia nenhum pingo de sono. As palavras de Simón estavam misturadas em minha cabeça, o gosto de sua boca ainda estava na minha boca! Seu cheiro estava no meu rosto. Juro que por esse momento, eu não queria ser eu! Não sei o que aconteceu aqui, entre ele e eu.
Sei que não sinto esse amor por Simón, não esse que ele sente por mim. Amo Simón, amo muito! Mas não dessa maneira. Me senti na obrigação de me deixar levar pelo momento, para ter certeza do que sinto, do que farei. Não é uma boa hora para tomar atitudes.
Simón sempre foi meu porto seguro. Não importa o que aconteça, ele, é o meu lugar favorito. Sei que posso sempre voltar, que serei recebida. Ele é meu abrigo e minha única certeza.
Posso parecer egoísta, mas não quero perder essa certeza por um simples momento.
Não quero que nada mude entre a gente, não quero misturar as coisas e correr o risco de perder tudo isso. Não quero perdê-lo. Prefiro permanecer assim, deixando-o dividido, talvez chateado... do que destruí-lo por completo.

                         *******************

   Quando voltei para casa, o dia já estava amanhecendo. Não sei como criei coragem de permanecer sentada naquele banco, no parque vazio, escuro e frio. Entrei em casa e encontrei minha tia sentada na mesa da cozinha, tomando uma xícara de café, na penumbra como uma assombração. Não que assombração tome café, mas enfim.

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