Como sobreviver ao mundo

Capítulo 33: O circo do dia 30.

Terça feira... 30 de Setembro.
06:26 AM.

      Me levantei da cama de uma vez. Eu estava pirando com meus próprios pensamentos. Ontem quando voltei do quarto do Will, totalmente chocada, Beck tentou conversar comigo... mas pedi pra ficar em silêncio e ela respeitou. Passei quase a madrugada inteira em claro. Se dormi duas horas seguidas, foi muito. Tomei um banho demorado e vesti algo que me deixasse segura. Calças jeans, camiseta azul, um blusão de moletom preto e vans nos pés. O outono estava chegando e para a minha alegria, as manhãs estavam mais frias. Me sentei na cama para tentar por meus pensamentos no lugar e esperar Beck. Após alguns longos minutos, saímos em direção à área verde.

                            ***************

7:20 AM...

      Encontrei Will na área verde, encostado numa pilastra. Totalmente distante.

"Olá, nobre rapaz." Sorri e lhe dei um beijo no rosto.

"Olá, nobre moça." Ele forçou um sorriso e encostou sua boca na minha. Segurei seu rosto entre minhas mãos e olhei dentro dos seus olhos.

"Will... não se preocupa. O dia de hoje não vai durar para sempre." Sorri e ele tentou sorrir.

"Eu sei... eu sei." Ele me abraçou. Segurei firmemente sua mão de um lado e Beck do outro, estávamos prontos para ir à sala de aula. Tudo poderia ter acontecido perfeitamente normal. Mas o circo do dia 30 estava mesmo pronto. O corredor estava lotado de gente olhando para o Will, como se ele fosse um extraterrestre. Quando chegamos perto dos armários, percebi o ponto de encontro das ofensas. O armário do Will estava repleto de acusações e xingamentos. Papéis colados, palavrões escritos com sei lá que tipo de tinta. Assassino. Psicopata. Louco. Problemático. Abandonado. Imbecil. Miles não merecia. Filho da puta. Will Carter é um monstro.

"Will, não precisamos parar aqui. Vamos direito pra sala." Sussurrei e senti sua mão apertar a minha, de maneira apreensiva.

"Isso acontece todo ano. Estou acostumado." Ele tentou soar firme. Mas eu sabia que estava mentindo. Ninguém, nunca iria se acostumar com aquilo. Era horrível. Verônica surgiu, com seu grupinho de mesquinhos.

"Nossa atração chegou!" Verônica olhava diretamente para o Will.

"Pode continuar com seu show. Eu já não me importo mais." Ele respondeu e abriu o armário. De repente uma porção de folhas soltas caíram, com palavras ofensivas. Junto com elas, algumas fotos do Will com chifres e com a testa riscada com a palavra ASSASSINO; a foto parecia ter sido tirada no topo de uma escada, talvez o local do acidente. Will deu um forte murro no armário, fazendo um grande barulho ecoar pelo corredor... e por incrível que pareça, estava em silêncio. Parecia que a escola inteira estava esperando por aquilo.

"Isso! Mostra pra todos o que você é, Will. Conta pra sua namoradinha, que você é um obsessivo, louco, covarde!" Verônica partiu pra cima dele, desferindo tapas em seu peito, braços e ombros. Will permanecia parado, com os punhos cerrados, maxilar travado e os olhos presos no armário.

"Para! Para com isso, Verônica! Se afasta dele." Segurei seus braços e empurrei ela pra longe.

"Você não sabe o que está fazendo, garota! Esse assassino matou o meu irmão! Ele matou o meu irmão, porque é um louco, doente!" Ela chorava.

"EU NÃO MATEI O MILES! FOI UM ACIDENTE, VERÔNICA!" Will gritou e bateu à porta do armário, se virando para ela. Ele começou a caminhar em sua direção e ela foi andando para trás, de maneira assustada. Eu não sabia se devia entrar no meio.

"Não! Você o matou por ciúmes! Você é um monstro, Will. UM MONSTRO!" Ela apontou o dedo indicador em direção ao rosto dele.

"Se você, não tivesse agido como uma vadia, não teria tido briga e eu não teria derrubado ele da escada. Você teve a oportunidade de me entregar, de contar o que aconteceu... e NÃO FEZ! POR QUE VOCÊ NÃO FEZ? POR QUE VOCÊ PREFERE ACABAR COM A MINHA VIDA? SEMPRE!" Ele gritou muito perto do rosto dela. Segurei seus braços e tentei puxa-lo para longe, mas Will estava muito nervoso.

"PORQUE EU TIVE DÓ! Eu não fui capaz de enxergar o louco que chamei de namorado por tanto tempo. - Verônica sacudiu a cabeça, negando algo. - Eu te odeio Will. Lembre-se sempre disso, você é a pior pessoa que já conheci." Verônica saiu correndo em direção ao pátio. O tal Josh, do grupinho da Verônica, passou bem perto do Will e sussurrou mais uma vez: assassino. As pessoas olhavam com satisfação, algumas até riam. Will respirava com dificuldade e tive medo dele ter outra crise de pânico.

"O QUE VOCÊS ESTÃO OLHANDO? VÃO PROCURAR O QUE FAZER!" Gritei com raiva. Aos poucos, os curiosos idiotas, foram se dispersando. Me aproximei do Will e segurei seus ombros.

"Will... se acalme. Vamos sair daqui, vamos para a aula. Eu estou aqui, com você!" Apertei seu corpo contra o meu e senti sua resposta nos braços que me envolveram. Era inacreditável a falta de posicionamento da escola, quanto a isso.
Um aluno era denegrido e ofendido, e nada era feito. Como resposta, tínhamos um diretor de merda, sentado com sua bunda gorda em uma cadeira cara, se refrescando no ar condicionado e tomando café! Alguém precisava invadir a sala daquele bosta e jogar merda nas paredes.
Sacudí a cabeça para espantar os pensamentos de vandalismo que invadiram minha mente, antes que eu executasse todos os eles.

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     A manhã tinha sido conturbada. Will, Beck e eu não assistimos todas as aulas, evidente que não.
Saímos antes das dez da manhã e decidimos dar o fora do campus, pelo menos até o dia acabar.
Passamos nos nossos quartos e trocamos de roupa, levando apenas o necessário. Mas quando estávamos saindo, Verônica deu outro show na área verde. Fingiu um desmaio e todos começaram a culpar o Will, assim do nada.
Mandei alguns ir a puta que pariu, enquanto Beck apontava o dedo do meio para outros. Chamamos um Uber e fomos para o shopping mais próximo.
Uma tarde de cinema, comida e risadas, talvez funcionasse para relaxar nos três. Tinha que funcionar!

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