Capítulo 32: Noite Mortal.

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Música do capítulo: And So It Begins.

Ainda no quarto do Will...

      Will ficou em silêncio por quase cinco minutos, encarando o chão. Até que me sentei na sua frente, na cama do Sthiven. Segurei suas mãos, querendo passar um certo apoio. Ele me olhou.

"Se eu te contar a verdade, você nunca mais irá olhar na minha cara. Não me obrigue a isso, Hanna!" Ele apertou minhas mãos. Seus olhos estavam vermelhos e lacrimejados.

"Will, claro que não! Eu vou continuar amando você. Mas preciso que seja sincero. Confie em mim. Eu confio em você." Sorri. Will sacudiu a cabeça, como se estivesse concordando com o que falei.

"Ok. Eu vou te contar. Mas antes, quero que saiba que eu não fiz de propósito e eu juro... eu não queria que nada disso tivesse acontecido." Ele limpou os olhos e segurou minhas mãos novamente.

"Só me conte, ok? Sem se preocupar." Ressaltei.

"No meu primeiro ano, estudando aqui... eu era totalmente diferente. Eu jogava no time de futebol americano e era conhecido pela metade da escola. Então, Verônica começou a se interessar por mim. Foi quando nos conhecemos. Verônica já era como agora, popular e idolatrada. Começamos a namorar e ficamos conhecidos como o melhor casal da Squaw Riders. Nosso namoro foi bom durante um ano inteiro. Mas começou a desandar no ano seguinte." Will me olhou, como se estivesse conferindo minha reação.

"Continue." Falei.

"Verônica tinha um irmão... Miles. Ele era o capitão do time de futebol americano, por isso se achava o rei. Verônica sempre o tratou como um bebê. Mas ele era totalmente o oposto disso. As coisas ficaram complicadas e Miles começou a se meter muito, entre eu e Verônica. Qualquer briga que acontecia entre nós, ela ia correndo contar pra ele. Ele tomava as dores e vinha pra cima de mim. Tudo foi ficando um verdadeiro inferno. Brigávamos durante as partidas dos treinos... durante as aulas. Miles já não gostava de mim, depois de todas as confusões, passou a me odiar." Ele respirou fundo e se levantou.

"Miles parecia ser complicado." Quebrei meu próprio silêncio.

"Ele era. Mas Verônica o fazia ser assim." Ele me olhou novamente.

"Continue." Concordei com a cabeça.

"Como eu disse, nosso relacionamento já estava ficando complicado. Verônica ofendia muitas pessoas de graça e eu sempre fui contra isso. Então passei a reprimir, quando ela fazia isso. Verônica foi se chateando e passamos a brigar com constância. No dia 30 de setembro, do ano passado... fomos para uma festa na casa do Mark. Mark já não estuda mais aqui. Ele era melhor amigo do Miles. Mas se mudou, depois da tragédia. - Will respirou fundo outra vez. -
Não sei se devo continuar, Hanna." Ele desviou o olhar.

"Agora não dá pra parar. Continua, Will." Rebati. Eu já estava ficando nervosa. Will voltou e se sentou na minha frente novamente.

"Fomos para essa festa, na casa do Mark. Foi aí que tudo aconteceu. Eu bebi demais, acho que a Verônica também. Ela sempre soube o quanto sou ciumento, e acho que queria me insultar. Me mostrar que ela mandava, independente de qualquer discussão. - Ele passou a mão pelo cabelo, de maneira tensa. - Verônica sempre gostou de se mostrar. Usava roupas com cores chamativas, falava alto pra chamar atenção e agia para chamar atenção. Mas justo nesse dia, quando a casa do Mark estava lotada com os caras mais escrotos de Beverly Hills, Verônica decidiu me afrontar!" Ele cerrou os punhos e travou o maxilar, enquanto me encarava.

"O que ela fez?" Perguntei curiosa demais.

"Ela começou a se enturmar com uns idiotas. Nem sei quem eram. Já estávamos bêbados e já era de madrugada. Pedi pra ela que fôssemos embora... mas ela queria me afrontar. Ela queria brigar! Entende, Hanna? Ela começou a berrar, dizendo que eu não mandava nela. Então ela saiu em disparada em direção a escada da casa. Que era longa, pra cassete. Lá no topo, tinha um imbecil. Um tal de Dereck. Verônica chegou se insinuando. Tocando nos braços do cara e rindo feito uma idiota. Naquele momento, me subiu um ódio na cabeça e corri em direção a ela. Eu... eu queria pegar seu braço e puxar ela pra fora daquela maldita festa." Will deu um soco no colchão. Seu rosto estava vermelho.

"Mas o que você realmente fez?" Mantive meus olhos nele.

"Eu me aproximei dela, como um furacão. Puxei sei braço, mas ela se esquivou e berrou outra vez. Dizendo que não ia em lugar algum. Foi bem ali, que tudo começou. O filho da puta do tal Dereck, avançou pra cima de mim, me empurrando e mandando eu me afastar da minha própria namorada. - Will soltou um longo suspiro. Confesso que ouvir ele chamando Verônica de minha namorada, me incomodou. - Então eu fui pra cima do cretino! Dei um murro na boca dele e ele se desmontou no chão. Quando fui pegar o braço da Verônica outra vez, para irmos embora... o Miles me cutucou por trás e quando me virei, fui atingido por um murro. Bateu em cheio, bem na minha bochecha." Ele mostrou a própria bochecha, como se eu fosse ver algo.

"Ele não podia ter feito isso." Cruzei os braços.

"É, não podia... mas fez. A música da festa estava muito alta. As outras pessoas nem repararam que estávamos brigando no topo da escada. Quando retomei minha visão, que ficou tonta depois do murro, vi que tinha sido Miles.
Ele olhou pra mim e disse: se o seu próprio pai te rejeitou, por que minha irmã não pode? Seu merda!" Will fechou os olhos, como se aquela frase ressoasse em seus ouvidos. Ao abrir os olhos, percebi que estavam lacrimejados, outra vez.

"Filho da puta." Esbravejei e coloquei as duas mãos sobre a boca. Como se estivesse tentando segurar um pecado dito.

"Eu mandei ele calar a boca. Mas ele continuou falando e a música alta começou a me deixar muito confuso. De repente o cara que eu tinha derrubado, me puxou e me deu um murro, nem lembro mais onde pegou. Quando fui revidar, Verônica começou a gritar e o Miles praticamente subiu nas minhas costas. Eu... eu não lembro... não lembro muito bem, como aquilo aconteceu. Só sei que tirei ele de cima das minhas costas e empurrei ele pra longe. Mas ele caiu e rolou escada abaixo. Eu não queria, Hanna. Eu não tinha intenção de derrubar ele lá de cima. Eu só queria tirar ele de cima de mim. Eu... eu..." Will de repente ficou desesperado. Me sentei ao seu lado depressa.

"Ei, ei calma. Olha pra mim! Está tudo bem agora." Segurei seu rosto entre as minhas mãos e forcei ele a me encarar. Will começou a chorar. Depois de um tempo, continuou:

"Quando ele parou de rolar, talvez uns vinte cinco degraus abaixo... seus olhos ficaram abertos. A festa inteira parou e as pessoas olhavam pra ele, jogado no chão... em volta de uma poça de sangue que se abria cada vez mais... e pra mim, no topo da escada. Como um assassino filho da puta. Verônica correu até ele e se ajoelhou gritando. Segurando a cabeça de Miles entre suas mãos, num desespero que me deixou destruído." Will continuava chorando.

"Não foi culpa sua. O Miles caiu, foi um acidente." Eu tentava acalma-lo, mesmo que fosse mentira o que eu estava dizendo. Ele me olhou.

"Não, Hanna... não foi. Se eu não tivesse empurrado ele, ele não tinha se desequilibrado. - Will fitou algum ponto do quarto. - Eu corri até eles, me ajoelhei ao lado de Miles e coloquei dois dedos no pescoço dele. Mas não tinha pulso. Eu gritei para chamarem uma ambulância. Eu estava nervoso demais pra sentir algo tão sensível. Mesmo vendo seus olhos abertos, pensei que ele pudesse estar em choque por causa da queda. Pensei em tudo, menos no óbvio. A ambulância chegou um tempo depois... tarde demais. Ele já estava morto. Eu não me lembro do que aconteceu depois, exceto de ver a Verônica gritando: NÃO! O MILES NÃO PODE MORRER! MILES, ACORDA!" Ele enxugou as lágrimas.

"Mas e a polícia?" Perguntei. Meu medo era que Will tivesse fugido da cadeia. Mas eu sei que isso não seria possível, claro que não.

"A perícia chegou bem depois. Quando os paramédicos chegaram e constataram que Miles estava morto, eles pediram para as pessoas da festa irem embora. Deixando só a família da vítima e o dono da casa. Eu tive que dizer que era primo do Miles. Quando a polícia chegou e perguntou como tudo tinha acontecido, Verônica mentiu. Ela disse que um assassino covarde, tinha empurrado o seu irmão da escada. Então o policial perguntou se nenhum de nós havia visto o assassino. E Verônica falou por nós, afirmando que estávamos todos juntos na área da piscina.
- Will se levantou e colocou as mãos na cintura nua. - Eu não sei porquê ela não me entregou. Eu estava bem ali. Mas ela preferiu mentir pra polícia e transformar minha vida num inferno. Fomos pra delegacia e eu continuei mentindo. Como um verdadeiro covarde de merda!" Will me olhou, finalizando toda a história. Me deixando totalmente sem palavras e sem saber o que achar, dos acontecimentos e do seu ciúme sem controle. Sobreviver ao mundo estava sendo muito mais complicado do que planejei.

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Não esqueça de soltar a música do capítulo e de avaliar! :)

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