Como sobreviver ao mundo

Capítulo 30: O início de uma vingança.

Música do capítulo: Cardigan - Taylor Swift

Los Angeles - Califórnia
Domingo: 9:10 PM.

Desembarcamos exatamente às nove da noite na Califórnia. Eu nunca tinha enfrentado uma noite tão longa. Essas diferenças de fuso horário sempre me deixam confusa demais. Pegamos nossa mala e fomos para a entrada principal do aeroporto. Beck nos esperava do lado de fora. Ela não avisou que viria, de certo queria fazer surpresa. Ela correu em nossa direção e nos abraçou como se tivéssemos fora por cinco anos, e não três dias.

"Minha nossa! Como senti falta de vocês." Beck acabou chorando e achei aquilo engraçado.

"Beck, ficamos só três dias fora. Nem isso né?" Will beijou a testa dela.

"Não importa! Estou com saudades mesmo assim." Ela fez uma careta e me abraçou. Retribui o carinho. Entramos no Uber e voltamos para o campus. Quando cheguei, reorganizei minhas roupas no armário e tomei um banho. Olhei para Beck e percebi que ela estava estranha.

"Trouxe uma coisa pra você!" Sorri enquanto penteava meus cabelos. Beck sorriu, mas de uma maneira sem graça.

"Não precisava se preocupar com isso Hanna. - Ela continuava forçando um sorriso. - Mas obrigada por lembrar de mim." Ela passou a mão pelo rosto de maneira impaciente.

"Tá tudo bem, Beck? To te achando estranha." Larguei a escova de cabelo e me sentei ao lado dela.

"Tá! Tudo bem!" Ela foi rápida demais para responder. Eu não quis insistir no assunto. Me levantei e peguei o pequeno embrulho que guardei no armário.

"Espero mesmo que goste." Sorri e entreguei a ela. Ela analisou e abriu rapidamente.

"Ai meu Deus! É um vestido? Você me trouxe um vestido de Nova Iorque!" Ela sorriu de verdade e retirou de dentro do pacote.

"Mas é só uma lembrancinha. Comprei numa feira artesanal do Central Park. É que nas lojas famosinhas, não achei nada alegre." Falei sem graça.

"O quê? Tá brincando! É lindo Hanna. Eu amei. Não importa se é de marca, ou se é apenas confeccionado por um hippie cheio de sonhos!" Ela se levantou e arrancou sua roupa, ficando só de calcinha e sutiã na minha frente. Beck é assim, totalmente sem vergonha. Ela vestiu o meu presente e se olhou no espelho. O vestido é um modelo indie, na cor azul com flores amarelas.

"Ficou lindo! Você gostou?" Perguntei.

"Eu amei! Olha só, foi feito exatamente pra mim." Ela me abraçou e agradeceu mais uma vez.

"Perdemos muita coisa por aqui?" Perguntei e Beck me olhou assustada.

"Não. Não aconteceu nada demais." Ela riu tentando fugir. Decidi não insistir.

"Bem... ok! Se não se importa, vou dormir. A viagem foi cansativa e não preguei os olhos." Me joguei na cama e puxei minha coberta. Beck sempre deixava o ar condicionado na temperatura mais gelada.

"Farei o mesmo! Cansei enquanto esperava vocês, no aeroporto." Ela bocejou e desligou a luz.
Finalmente, estou de volta à Califórnia!

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Segunda feira: 29/09.
05:40 AM.

Acordei sentindo meu corpo pesado. O que eu estava sentindo, era ressaca. Não de bebida, mas de sono. Me sentei na cama ainda de olhos fechados, tentando despertar com calma. De repente, meus ouvidos se prenderam no barulho que vinha do lado de fora da porta. Abri os olhos, como se isso fosse me ajudar a ouvir melhor.
O quarto estava completamente escuro. Alcancei meu celular que estava no criado mudo, sempre onde deixo, e olhei as horas: 05:45 AM. O sol ainda não nascera. Eu não quis acender a luz do quarto ou do abajur. Quem quer que estivesse no corredor, notaria a luz vinda da fresta da porta e se calaria. Abaixei a luz do meu celular e me levantei com cuidado. Caminhei lentamente, sentindo meu coração pulsar na cabeça.
Que diabos estou fazendo?
Antes de dar o próximo passo, me virei em direção a cama da Beck e iluminei com a pouca luz do meu celular. Ela não estava lá. Então continuei caminhando em direção à porta. Quando cheguei numa distância suficiente, apaguei meu celular e me concentrei novamente.
Foi então que ouvi a voz do Will.

"Você deveria ter ao menos me mandado uma mensagem!" Ele praticamente sussurrava. E mesmo sussurrando, parecia estar bravo. Me concentrei ainda mais.

"Você queria que eu ligasse? E se a Hanna tivesse atendido? Eu iria dizer: Ah, oi Hanna! Será que posso falar com o Will? A ex dele tá planejando estragar com a vida dele novamente e preciso alertá-lo. Fala sério Will." Beck rebateu.

"Ok, não vai adiantar ficarmos discutindo. Me conta o que você ouviu?" Ele perguntou.

"Eu estava no banheiro, fazendo xixi. Depois da última aula. De repente a Verônica entrou falando no celular. Então permaneci quieta, dentro da cabine do banheiro e ouvi ela conversando com alguém. Disse que o dia mais infeliz do ano, estava chegando, e que ela precisava vingar a morte do irmão, mais uma vez. Então ela deu uma pausa e depois de alguns segundos, continuou.
Ela disse que iria fazer do seu dia, um verdadeiro inferno. Disse que iria lembrar pra escola inteira, o assassino que você é. Cassete Will, não quero ficar repetindo isso!" Beck estava quase chorando. Percebi pelo seu tom de voz. Eu estava de boca aberta, com tudo que acabara de escutar. Se eu entendi direito, o Will matou o irmão da Verônica. Puta que pariu!

"Eu não sei o que vou fazer. A Hanna vai acabar descobrindo o que aconteceu. A Verônica vai armar o circo do dia 30 e minha reputação será manchada pela terceira vez. Você sabe Beck... eu não tinha a intenção de matar o Miles. Eu não queria! Foi um acidente. Aquela porra, foi um acidente!" Will alterou o seu tom de voz e meu coração acelerou. Então ele tinha mesmo, matado o irmão da Verônica. Puta merda!

"Eu sei Will! É óbvio que eu sei. Mas se acalme, antes que a Hanna acabe acordando e escutando tudo. - Eles deram um pausa de dez segundos e Beck voltou a falar: - Você vai ter que enfrentar o dia de amanhã e depois contar tudo pra Hanna. Ainda teremos um dia pra pensar. Eu sou sua família, mas não vou fazer o papel de pombo correio dessa vez." Beck finalizou.

"Tem razão! É melhor você voltar para o quarto, antes que a Hanna acorde. Vou voltar para o meu quarto. Obrigado por me avisar." Will suspirou e ouvi seus passos se afastando. Corri para a cama, puxei o cobertor e fechei meus olhos. Beck abriu a porta do quarto, entrou e fechou em seguida. Aos poucos fui desacelerando minha respiração. Ela havia deitado novamente.
Agora eu entendi quase tudo. Will cometeu um erro e Verônica planeja se vingar dele, pela terceira vez. Mas agora, eu estou presente!

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