Capitulo 35

191 22 22
                                    

Narradora pov

Hoje fazia algumas semanas que Wiwona Havia partido. Contar a Ava não foi como o esperado. De primeira ela achou que fosse uma brincadeira, onde saiu procurando por todo o canto casa. Depois que a pequena viu suas irmãs chorando a ficha caiu e não pode conter seu desespero, sentando no chão, colocando sua cabeça nas perninhas, abafando seu choro.

A menor não sabia muito bem o significado de morte, mas sabia que sua mãe não iria voltar. A dor vem. Vem rasgando o seu peito. Dias e noites chorando, olhos inchados, puxões de cabelo, olheiras. Isso nunca cura, mas a dor vai vagando como o tempo. Todos passam por isso, e é normal. Mas além de tudo isso, não teve um sequer dia em que Millie não pensara em Finn. Os dois estavam machucados, sentindo falta um do outro.

Millie não tinha o menor direito de perdoar Wolfhard. O que ele fez foi errado, ele escondeu a verdade.

Mas por outro lado.... Finn não queria criar conflitos ou deixar Bobby Brown assustada. Millie queria poder entender....

[• • •]

Seis semanas. A mesma coisa. Mills não queria falar com Finn, e o cacheado respeitava sua escolha, seu espaço. A saudade dói demais. Da mãe, do garoto. É uma dor que simplesmente não tinha explicação. É como um afogamento. Nos primeiros momentos você consegue ficar sem fôlego, mas depois de até segundos, o desespero sobe pelas veias, fazendo seu peito ter a sensação de esmagamento. A saudade também é assim. Nos primeiros dias você aguenta. Mas depois ela fica insuportável.

David, pai das meninas, não foi mais visto. Não atendia ligações, e alguns até diziam que ele se mudou. Lília não apareceu na faculdade também, então, isso já é mais uma prova de que o mesmo tivera se mudado. E se ele tiver alguma coisa haver com a morte de sua ex esposa?
 

Jade, junto a Millie, foram na faculdade da irmã mais nova, avisar sobre o falecimento da mãe, e que precisavam de um tempo para assimilar tudo o que estava acontecendo. E que, claro, não tirasse a bolsa de Mills. Dito e feito. Por sorte, o lugar de ensino entendeu, e deu total de dois meses para a morena, para que ela pudesse se recuperar. Contanto que ela pegasse toda a matéria dada. Pelo menos uma notícia boa.


Já era tarde da noite, quando Jade cozinhava fricassé de frango. Cozinhar era uma das poucas coisas que esfriava sua cabeça. Ouviu a campainha soar e então franziu o cenho. O que querem em plena 23:44 da noite? Pensou, mas logo correu para abrir a porta.

- oi Finn. - tentou sorrir.

- hora ruim? - o moreno diz ao ver uma fumaça vir da cozinha.

- ah, não não. - ela deu passagem para ele entrar e voltou as panelas. - isso aqui jaja fica pronto. Se quiser ficar para jantar. - lhe ofereceu. - ela tá no quarto.

Ele acenou com a cabeça e foi em direção ao mesmo.

- Finn? - Jade chamou, fazendo o cacheado se virar - ela não está bem hoje. - colocou o frango em uma travessa. Wolfhard fez que sim com a cabeça e se direcionou ao quarto.

Fez a famosa batida secreta. Não obteve resposta. Bateu de novo. Sem resposta. Então decidiu entrar.

- Millie?

O quarto estava escuro, não dava pra ver muita coisa. Finn acendeu a luz, para poder ver se Millie ainda estava viva.

- cacete.

Ok, ainda viva, pensou. Ele observou a menina na cama, agora com a coberta em seu rosto. O quarto bagunçado, tudo fora do lugar, mas ainda tinha o bom e velho cheiro de baunilha, talvez floral.

- Brown.

- apaga a luz.

- não dá pra te ver.

- apaga.

   Finn sabia que com sua menina não tinha conversa. Talvez agora não fosse mais sua. Apagou a luz, mas abriu a janela, deixando que a luz lunar invadisse o local.

- não vai tirar o cobertor da cara? - Finn perguntou quando percebeu que ela não trocou de posição.

- não. - sua voz era rouca e chorosa.

- porque? - se sentou na cama.

- porque eu estou feia.

- você nunca ficaria feia. Nunca foi. Nunca vai ser, Millie.

Devagar, ela tira de seu rosto a peça de pano. Finn se depara com olheiras enormes, olhos e boca vermelhos, e arranhões presentes em toda a extensão de seu braço. Que porra era aquela? Ela estava mesmo feia, mas ele não conseguia ver isso.

- porque você tá aqui? - a menina foi curta e grossa. Não queria papo.

- porque de alguma maneira eu me importo muito com você? - respondeu em ironia, a morena bufou. - Mills.... escuta.... eu sei que fui um escroto com você por não te contar a verdade, e isso tá me matando. Ficar longe de você tá me matando. E você tem todo o direito de me ignorar e.... - o moreno parou de falar quando notou as marcas nos braços da ex namorada. Que era aquilo? - que merda é essa, Millie? - tentou agarrar os mesmos, porém a menina tirou-os com rapidez, evitando de ver mais.

- Finn. Pode me fazer um favor? - ela pede, querendo mudar de assunto.

- me diz o que são essas marcas no seu braço que eu faço.

- pega meus remédios no criado-mudo que eu digo. Você quer que eu morra aqui? - o garoto bufou, mas fez o quê mandado.

- pronto, agora me diz o que são essas coisas. - se sentou ao lado da morena, que tomou as pílulas junto a água.

- Finn. Quando eu quiser conversar, eu te ligo. Já pode ir embora.

- você disse que me falava o que era isso, porra.

- tá, mas eu mudei de ideia. Minha vida não é mais da sua conta.

- não é mais? - arcou a testa. E alguma vez já fora?

- eu me entreguei pra você. Você me teve na palma da sua mão, mas me perdeu. Então quando eu quiser papo, eu te ligo, ok? E isso provavelmente não vai acontecer. Porque eu não quero ver você nunca mais.

- ótimo. - Wolfhard se levantou.

- ótimo. -  Millie colocou o edredom de novo por cima do rosto.

- ótimo. - o cacheado saiu pela porta, bufando.

- ótimo. - Millie diz, agora em um tom choroso, baixo, e desesperador. Nunca se sentiu assim antes. Sua única luz, sua única salvação, que agora era uma saída para a situação que ela se encontrava, foi embora. E ela não sabia se o veria novamente.


[• • •]


    Millie não sabia, mas sua mãe havia morrido por causa de seu pai. Ficou ansiosa demais com a ameaça e não resistiu, de novo, ao antigo vício. E se sua filha do meio ficasse sabendo, com certeza iria se culpar.

   Assim como Wolfhard. O menino não estava bravo com Millie. Muito pelo contrário, ele estava bravo consigo mesmo. Por não ter contado nada a ela antes. E agora ele tinha estragado tudo. Era assim que iria terminar? Ele vai perder a única menina que ele amou, e ainda ama? Várias perguntas lotavam sua cabeça.

    Finn não sabia, mas Millie não conseguiu dormir nenhuma das noites desde o acontecimento. Então, Jade deu um jeito de conseguir sedativos, para dormir, em agulha. Sophie, amiga da irmã mais velha, trabalha em um hospital, então foi fácil conseguir tais remédios. Por isso as marcas nos braços. Não eram cortes, eram furos. Um monte deles. Só assim conseguia dormir. Assim e com uma camiseta de Wolfhard. Porque, de alguma forma, seu cheiro acalmava Millie. Mas é claro, ela nunca diria isso em voz alta. Ou será que sim?

________________________________

ᴛʜᴇ ᴅᴀʀᴋ sɪᴅᴇ ᴏғ ʀᴇᴅ - ғɪʟʟɪᴇ Onde histórias criam vida. Descubra agora