05 | destino é um porre.

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Às vezes, somente em alguns curtos e rápidos instantes, eu sentia como se me perdesse dentro de mim mesmo

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Às vezes, somente em alguns curtos e rápidos instantes, eu sentia como se me perdesse dentro de mim mesmo. Profundo e atraente, uma pequena porta escondida dentro de mim mesmo que se abre com um leve rangido, atraindo-me para ocupar o espaço ali.

Isso é estranho.

E eu não sei por que acontece. Apenas acontece. Geralmente é quando estou à vontade comigo mesmo, no escuro, observando a familiar silhueta da solidão. Separei-me dela há alguns anos, mas ela não parece ter aceitado muito bem. E ela está sempre ali, esperando o segundo, o pequeno segundo em que ficarei suscetível as suas falsas promessas.

Eu me pergunto, realmente, se alguém me vê. Me pergunto com mais frequência se tudo isso é quem eu sou. Se eu sou o que visto, o que faço e o que cultivo. Se eu sou as pessoas ao redor de mim.

Eu me pergunto em silêncio e em segredo qual é a sensação de ser eu mesmo.

Porque, sinceramente, não sinto mais como se fosse.

Eu me pergunto muitas coisas. Porém, não possuo as respostas. E não estou certo sobre querer encontrá-las. Afinal, às vezes a vida apenas segue seu curso. No final das contas, é o que sempre acontece: a vida.

— O treinador pegou pesado hoje — Sanchez suspira, jogando-se no sofá como se não pesasse nada. — Da próxima vez que forem encher a bunda de cachaça, teremos sérios problemas.

Reviro meus olhos, mordiscando a bochecha. Sempre tão irracional.

— Não vai ter próxima vez — eu digo, ríspido. — Acho que vocês não repararam, mas não estamos mais no colegial. A época de ser inconsequente meio que já deveria estar no passado.

Se tiver uma coisa que me irrita, é irresponsabilidade. Aprendi desde cedo a ter responsabilidade, afinal, se eu não chegasse ao beco a tempo de pegar a mercadoria para meu pai, ele deixava marcado o quanto ser irresponsável poderia causar sérios problemas. Para um menino de sete, depois oito e nove depois dez e onze e doze, as associações pareciam óbvias demais para que eu pudesse fazer quaisquer suposições.

Ponto para o cinto dele. Ou era o punho? O pé? A fome? Bem, isso não tem relevância no momento.

— Irmão, — é Ryan tocando meu ombro, hesitante. — foi um deslize. Aconteceu. Sinto muito. Não vai se repetir, você sabe que eu levo isso a sério.

Me forço a assentir, reprimindo os lábios em algo semelhante a um sorriso. Estou irritado e cansado demais, cheio de nuvens carregadas na minha cabeça para socializar agora. Ryan realmente está sendo sincero diferente dos outros babacas, eu consigo sentir. A verdade é que metade desses caras está no time para pegar mulher e pagar de descolado pelos corredores da universidade. É extremamente exaustivo ter que pagar por eles — neste caso, exaurir cada gota de energia na quadra de basquete até o sol nos abandonar no horizonte. É injusto.

Amnésia (vol.1)Onde histórias criam vida. Descubra agora