09.2 | linda e trágica série de perguntas sem respostas.

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Foram quase 45min preenchidos por um silêncio agradável e por mim tentando a todo custo iniciar algum tipo de conversa

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Foram quase 45min preenchidos por um silêncio agradável e por mim tentando a todo custo iniciar algum tipo de conversa.

Pouco sucesso.

Estava quase decidido a ir embora quando ela buscou duas latinhas de energético e secou as duas. Eu me perguntava o que poderia estar passando por sua cabeça a cada gole que parecia virado com uma pequena dose de agressividade. Mas com o passar do tempo, sua língua parecia desenrolar as palavras sem que sequer ela pudesse se segurar, e isso fez toda e qualquer menção de ir embora sumir do meu corpo.

— Eu não vou ficar bêbada — diz ela, me olhando como se eu fosse adorável — Não precisa ficar me olhando desse jeito.

— Você sabe, vai que fica e começa a dar em cima de mim? — provoco, arqueando uma sobrancelha. — Só estou nos prevenindo.

— Relaxe — Ela sopra, piscando os longos cílios antes de continuar. — Se eu quisesse dar em cima de você, eu não precisaria ficar bêbada para fazer isso.

Eu sou o primeiro a quebrar nossos olhares, sentindo suas palavras acumularem pedras em meu estômago. Estou ciente do quão mau ela consegue ser com um homem, mas não significa que algum dia eu vá me acostumar. Vitoriosa com meu desconforto, ela solta um risinho irritantemente melódico e se aninha no sofá outra vez.

Diferente de antes, eu não consigo me concentrar no filme.

. . .

O filme acabou e nós terminamos de juntar nossa sujeira na lixeira da cozinha. A casa é tão silenciosa que eu consigo ouvir os sons que Alyssa faz enquanto termina de arrumar a sala. Nós ainda discutimos mais um pouco sobre Tudo e Todas as Coisas e nossas percepções sobre os assuntos abordados tanto especificamente quanto figuramente, desde as mensagens que todo bom filme possui nas entrelinhas.

Alyssa é divertida e tem ótimas opiniões para expressar e argumentos para me contradizer. Tirando sua mania de não dar abertura alguma para que você se aproxime verbalmente - muito menos fisicamente -, bastou que eu soubesse como insistir para que ela fizesse o esforço de abrir a boca bonita e permitir que a noite e eu ouvíssemos sua voz.

É tão diferente de quem mostra quase 24h por dia. É tão diferente de quem eu a julguei ser na noite em que a encontrei na casa dos meus pais. É tão diferente do nariz metido e língua afiada que eu vejo para/com os outros. Eu sei que ela é complexa e eu sei que não serei eu o escolhido para mergulhar nas linhas resistentes que traçam seus detalhes, mas ter um vislumbre do que ela esconde é quase como ver o mar e ser obrigado a permanecer em terra firme.

E seus olhos são quase como a prova viva de minha metafórica teoria, são como o mar e a terra firme e ela é tempestade que revira o mundo e depois vai embora; ela é seu próprio tempo mostrando-se na natureza como um fenômeno aparentemente inofensivo que todos querem estudar e entender.

Amnésia (vol.1)Onde histórias criam vida. Descubra agora