II

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EILEEN BERCKLEY

02 de setembro de 1702, Moyny.

O jeito como meus olhos reluziram quando vi a adaga foi perceptível para todos que estavam presentes no cômodo. No instante em que toquei a arma senti o quanto ela fora bem feita; o cabo de cedro foi polido tão perfeitamente que quase não percebi que era feito de madeira; ao deslizar os dedos ao longo da lâmina reparei o quanto era leve e, ao mesmo tempo, rígida. Porém, isso nem foi o que mais me chamou a atenção, mas sim os detalhes em forma de fênix entalhados na guarda e no pomo da arma. Parecia que ela tinha sido feita para mim.

— É realmente uma adaga esplêndida, porém receio não poder comprá-la... Tenho apenas 700 auris, e ela com certeza é muito mais cara que isso.

"Provavelmente não terei dinheiro o suficiente para ela, mas preciso tê-la... De qualquer forma!"

— O valor é 1300 auris, é realmente uma pena, Eileen. — lamenta Sr. Montgomery com um olhar melancólico. — Apesar disso, acho que podemos fazer um acordo para você ficar com a adaga, bem simples. Se você estiver disposta, é claro. — ele propõe, a mão percorrendo toda a extensão da barba.

— Que tipo de acordo o senhor sugere? — pergunto com receio e um pouco de curiosidade ao mesmo tempo.

— Bom, estava pensando em você roubar e nos entregar alguns metais da Ferraria O'Donnell, nossa rival aqui em Moyny. — sugere ele.

Neste mesmo instante, abro um amplo sorriso e aceno com a cabeça rapidamente, indicando que concordo. Com o movimento brusco, meu cabelo cai na minha cara e entra na minha boca. Rapidamente me recupero, tirando as mechas ruivas da cara e tomando uma postura ereta.

— Trato feito então, Srta. Berckley! — exclama Sr. Montgomery e aperta minha mão — Quando completar a "tarefa" lhe entrego a adaga! É só vir buscar.

— Uma ótima troca, senhor! É sempre bom fazer negócios contigo. — finalizamos o acordo com o aperto de mãos.

Observo atentamente a arma disposta sobre o pano cinza com muita delicadeza, como se fosse o objeto mais precioso que já havia visto. Pego-a com delicadeza e passo meu dedo sobre a lâmina recém-polida. Contra minha vontade, coloco-a sobre a bancada novamente, torcendo para que tudo dê certo e eu possa tê-la para mim.

Nos dirigimos até a entrada e, depois de alguns minutos conversando com Nate, eu e Riley saímos do estabelecimento.

"Talvez esta adaga se torne um dos objetos que tenho mais apreço, logo depois de meu medalhão feito com uma esmeralda (sem dúvidas o objeto mais caro que possuo) que meus pais me deram quando eu nasci."

Coloco a mão sobre o pescoço para me certificar de que o medalhão continua comigo. Passo o dedo sobre ele e deixo-o repousando entre meus seios, sentindo o metal — sempre numa temperatura fria — esfriar minha pele quente.

— Parece que você gostou mesmo da adaga... não é, Leen? — Riley diz com um leve tom de ironia, colocando as mãos entrelaçadas atrás das costas e se inclinando para ficar do meu tamanho.

Não que eu seja baixa, um metro e sessenta e oito para mim é suficiente. O moreno aqui que é alto demais, com seus 1,87 ele parece um gigante. Engraçado que quando éramos mais novos eu era maior que ele, droga...

— O estranho é que não consigo explicar o porquê... — murmuro me lembrando de como me senti quando toquei a adaga, no mesmo instante meus olhos se encheram d'água, e eu não entendo o motivo.

— Eu não acredito no que eu estou vendo! Essa é boa: Eileen, a melhor ladra de Moyny, chorando por causa de uma "faquinha"! — gargalhou Riley, zombando, interrompendo minha fala.

A Ladra | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora