■ LIAM EVANS ■
03 de setembro de 1702, Moyny.
- Meus deuses, que sono! - reclama minha irmã, coçando os olhos.
- É bom você descansar bastante essa noite, pode ser que não aguente levantar amanhã para a feira. - aconselho, calmo como sempre.
- Bem, eu não vim de Gneeves até aqui para não conseguir levantar da cama. Todos aguardam essa feira há meses, eu é que não irei perdê-la.
- Nem parece que você tem 20 anos, tem cara de ser uma menininha emburrada e mimada. - digo revirando os olhos.
- Você está parecendo o Mathew, falando assim! - ela coloca a mão na boca, arrependida. - Desculpa, maninho. Eu não queria...
- Tudo bem, não tem problema. - interrompo-a.
Abaixei o olhar em direção à janela. Tento evitar, mas a memória vem com tudo na minha mente. Fresca; obscura; sombria. Viva.
Estamos eu, minha irmã e Mathew ─ nosso primo mais próximo ─ voltando de uma biblioteca no centro de Tourin. Como sempre, eu e minha irmã fizemos besteira, mas dessa vez foi uma ridícula.
Havíamos catado pedrinhas pelo caminho enquanto perambulávamos pelas ruas da cidade. No auge dos nossos 15 anos, era para termos amadurecido, mas não, parecíamos três crianças de sete anos.
Dentro da carruagem eram só gargalhadas, até aquele momento estava tudo certo. Mas eu tinha que fazer merda, como sempre naquela época.
─ Ei, vamos jogar umas pedrinhas lá na frente.
Os dois concordaram sem pestanejar, e jogamos as pedrinhas, uma por uma, sem pensar duas vezes. Não sabíamos as consequências que teríamos que levar para o resto da vida, instantes depois.
Uma das minhas pedrinhas atingiu o cavalo que levava nossa carruagem. O chofer tentou controlar o cavalo, mas foi em vão, ele se descontrolou, saindo da estrada e fazendo com que a carruagem capotasse. Infelizmente, saímos vivos, mas eu preferiria ter morrido naquela noite, com nosso primo. Este bateu a cabeça e morreu no local. Saímos com apenas alguns arranhões e o chofer quebrou o pulso, nada que um curandeiro resolvesse. Quem nos dera existisse um curandeiro que curasse a morte também.
A chuva não demorou a chegar, a ajuda muito menos. Mas já era tarde demais.
- Maninho!
"Como eu era idiota! Quem me dera eu pudesse voltar no tempo e mudar as coisas, talvez assim Mathew ainda estivesse aqui com a gente...".
- Liam! - Cassidy me chama impaciente.
Essa é uma das coisas que me torna diferente de minha irmã gêmea, impaciência. Sou uma pessoa mais serena, calma. A minha irmã, nem se fala: além de impaciente ainda é escandalosa. Pensa no caos.
- Sim! Desculpe, estava perdido em meus pensamentos. - digo, olhando para a escuridão do lado de fora da carruagem, até que ouço um barulho estranho.
- Percebi, você...
- Silêncio! - peço autoritariamente.
Minha irmã, percebendo que era sério, se cala na hora.
Escuto o que parece ser um grito. Minha audição deve ser a única coisa que presta em mim, nunca vi ninguém escutar tão bem quanto eu.
- Um grito. - sussurro.
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A Ladra | Livro 1
Teen FictionEbook disponibilizado na Amazon/Kindle Para adquirir o livro físico entrar em contato: - Insta: @giovanna.c.lemos - E-mail: giovanna.carvalho2004@hotmail.com No início do século XVIII, uma jovem é portadora de um passado misterioso desconhecido...