■ EILEEN BERCKLEY ■
10 de setembro de 1702, Moyny.
São nesses momentos da vida que pensamos "isso está mesmo acontecendo?".
Ou então "porque comigo?".
Às vezes a gente nem acredita. Pensa que está num sonho - ou pesadelo, na maioria desses casos. Parada a alguns bons metros da minha casa, desejo que o que estou vendo seja tudo, menos real. Olho para o lado, meus olhos encharcados em um mar de lágrimas, e vejo, embora desfocadamente, meu amigo Riley. Busco conforto em seu olhar, refletido pela luz que as chamas à minha frente produziam, mas tudo que encontro é desespero. Mas não um desespero como o meu.
Dizem que quando vemos algo que nos deixa muito abalados, entramos num transe, em choque. O ar parecia sair de meus pulmões e eu não conseguia pensar em nada. Dizem que uma hora ou outra, saímos desse transe, algo nos puxa para a "vida real". Seja lá o que for que me tirou, não sei se devo agradecer ou repreender.
Sem pensar duas vezes, corro em direção a minha casa, agora praticamente destruída. Tudo que sinto é a poeira com a fumaça adentrando minhas narinas e meu coração disparado. Com uma força que eu não sabia que tinha, afasto todos os escombros da porta que consigo. Meus olhos ardendo tanto, que já não sei diferenciar se o choro é por conta dessa angústia que sinto ou pela ardência causada pelo calor.
Ouço Riley me chamando, gritando por mim, tentando - em vão - impedir que eu entre naquela casa. O fogo alaranjado misturado com tons de vermelho queima minha pele, mas a adrenalina não permite que eu sinta. Agradeço aos deuses pela casa ser pequena. Em poucos minutos já estou no segundo andar, chamando desesperadamente pelos meus pais.
Pais.
As duas pessoas que eu mais amo no mundo. Que me salvaram de um cretino maluco! Que me protegeram acima de tudo e todos!
"O que é que vou fazer?"
Tento abrir a porta do quarto deles. Falho.
Um pedaço de madeira cai ao meu lado, deixando um corte na minha panturrilha direita. Com uma das pernas, chuto a porta repetida vezes, berrando o nome de meus pais, com uma esperança que eu não sabia que possuía. A porta cai, levando ainda mais pedaços de madeira do teto ao chão. Apressadamente entro no quarto, levando diversos escombros no caminho. O que encontro me faz paralisar por meros segundos.
- Pai? Mãe?
Olho para a cama, onde eles provavelmente deveriam estar dormindo. Pedaços de madeira que deveriam estar no teto se encontram em cima da cama de meus pais. Um resmungo, em meio a todo aquele barulho de chamas crepitando, me chama a atenção. Tento de qualquer modo retirar os escombros de cima dos corpos deles, mas não consigo.
Sinto-me tão impotente.
- Por favor, me digam que estão bem. Por favor. Por favor. Por favor.
Uma mão agarra um de meus braços, eu tentava desesperadamente achar um modo de tirar eles de baixo das toras pesadas de madeira. Olho para a mão que me agarrava.
"PAI!"
- Pai. Pai, o senhor consegue me ouvir? Vou tirá-los daqui, eu...
- Filha, filha. - sua voz sai entrecortada baixa, muito baixa, como se não conseguisse falar. - Saia. Saia dessa casa.
- Mas, pai! Não! De jeito nenhum! Eu não posso deixá-los aqui, a mamãe... NÃO!
- Nossa hora chegou. Não há nada que você possa fazer. Perdoe-nos por mentir para você. - ele tosse fortemente.
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A Ladra | Livro 1
Teen FictionEbook disponibilizado na Amazon/Kindle Para adquirir o livro físico entrar em contato: - Insta: @giovanna.c.lemos - E-mail: giovanna.carvalho2004@hotmail.com No início do século XVIII, uma jovem é portadora de um passado misterioso desconhecido...