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EILEEN BERCKLEY

02 de setembro de 1702, Moyny.

— Toma aqui o dinheiro da semana. — estendo a mão com um bolo de 500 auris.

— Filha, já cansamos de pedir para parar com isso. Sei que quer nos ajudar, mas fique com o dinheiro para você, nós damos o nosso jeito! — insistiu minha mãe enquanto costurava uma nova roupa, provavelmente para uma lady qualquer da zona rica.

Observo, deslumbrada, o vestido carmim em suas mãos com detalhes bordados em dourado, alças caídas, rendas cintilantes e fico admirada com o quão bonito ele é.

— A senhora me conhece e sabe que eu não irei sair até que pegue o dinheiro.

"Eu sei que talvez seja dinheiro sujo... Tá legal, é dinheiro sujo, admito. Mas de que outro modo posso ajudar minha família se o salário de onde eu trabalho é péssimo?"

— Como é teimosa, Eileen! — ela finalmente olha para mim, em seguida para minha mão. — Querida, quanto dinheiro! Tem certeza que é somente do trabalho? — noto a desconfiança na sua voz levemente rouca por conta da idade.

Uma memória fresca se passa rápida por meus pensamentos.

Ando sorrateiramente pelas ruas de Moyny tentando passar despercebida pela avenida principal, onde a multidão de pessoas fica perambulando no centro da cidade. É quase impossível ver o chão de pedras com tantos pés ao meu redor. As mercearias e empórios e tabacarias estão cheias por conta do horário, onde o sol some nas montanhas e o céu é uma mistura de cores laranja, vermelho, rosa e azul.

Com a minha trança feita e a mecha branca de nascença aparecendo, algumas pessoas me reconhecem e se afastam um pouco. Continuo desviando das pessoas até que vejo meu alvo: um senhor que estava indo penhorar o anel de ouro de sua mulher que morrera há alguns dias.

Apresso o passo, tentando chegar mais perto dele e abaixo a cabeça quando o alcanço para que não me reconheça, colocando o pé na sua frente fazendo-o cair, bater a cabeça e desmaiar.

"Espero que o senhor não tenha se machucado gravemente...".

— Alguém me ajude! — grito fazendo uma voz de falsa apreensão.

Apalpo seus bolsos até encontrar o anel e o pego no exato momento que um moço musculoso chega para socorrer o velho. Saio andando apressada sem deixar que o sujeito veja meu rosto.

Alguns minutos de caminhada me levaram para a casa de penhores, onde consigo 500 auris no anel de ouro.

— Tenho feito turnos dobrados na taberna ultimamente. — minto, colando os braços na lateral do corpo.

— Você tem dormido bem? E comido? Prestando atenção agora, você está bem magrinha. — questiona preocupada enquanto coloca as mãos na minha cintura.

— Eu estou bem, mãe. Não se preocupe comigo. Ando um pouco apressada recentemente, a correria na taberna ultimamente está menos suportável. — minto novamente.

"Eu tento não mentir para ela e para o papai. Tento mesmo! Contudo, se ela soubesse a verdade, provavelmente me trancaria em casa e aí eu não conseguiria ajudá-los mais. Mesmo que essa ajuda venha de alguns roubos idiotas."

— Só pega o dinheiro, por favor. — persisto, voltando a estender o braço em sua direção.

Ela me encara por alguns segundos com olhar de lamentação, soltando um longo suspiro em seguida, apanha os 500 auris com suas mãos delicadas e coloca dentro de seu vestido.

A Ladra | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora