V

170 17 20
                                    

EILEEN BERCKLEY

02 de setembro de 1702, Moyny.

Vou correndo até a taberna ignorando meu mal-estar ao longo do caminho. Eu preciso chegar a tempo, não posso deixar alguns desmaios acabarem com tudo o que lutei até hoje naquele trabalho horrendo. Ah! Como eu odeio aquele emprego. Fico lá desde as 16:30 até fechar, muitas das vezes até as 2:00 da manhã por conta de bêbados idiotas; além deles prolongarem meu expediente, ainda tinha que aturá-los com aqueles gracejos. Fico enojada só de pensar que os homens façam isso frequentemente, ainda mais com mulheres novas como eu.

Com 19 anos já era para eu estar casada, provavelmente com um homem com o dobro da minha idade. Mas, graça aos deuses, meus pais tiveram sorte e não passaram por isso. Assim, não me obrigam a casar. Isso também é coisa de gente da alta classe, não para pessoas como eu...

Continuo disparando pela calçada, pensando somente em chegar a tempo, mas minhas pernas começam a fraquejar novamente.

"Não, não, não! Isso não vai acontecer de novo! Já desmaiei duas vezes só hoje, não vou tolerar outra vez!"

Continuo correndo com todas as minhas forças, até que me lembro do elixir em minha bolsa e paro imediatamente. Não me recordo se deveria tomar quando me sentisse mal ou antes de dormir... Porém, como o frasco estava cheio e eu realmente estou desesperada para não passar mal novamente, tomo. Bastante. Aquele líquido verde já aparentava ruim, e o gosto é pior ainda. Tomei praticamente metade do frasco e fico um pouco preocupada se sobrará mais elixir se eu passar mal de novo, mas pelo menos valeu a pena, eu já não estou com uma sensação de moleza nas pernas. Assim, continuei meu caminho.

"O curandeiro daqui de Moyny é realmente bom...".

Já estava correndo havia cerca de dois minutos, ainda não havia me cansado, graças ao elixir. Costumo correr por muito tempo sem me cansar por já ser um hábito, estou sempre correndo. Mas foi só eu passar mal uma única vez, que parece que meu corpo não sabe o que é fazer atividade física mais...

Finalmente chego naquela maldita taberna. Entro e tento chamar o mínimo de atenção possível, tanto do meu chefe quanto dos clientes. Fecho a porta de carvalho rápido e sem fazer barulho para que ninguém perceba que eu a havia aberto; não que algum daqueles bêbados fosse prestar atenção em alguma outra coisa além de cerveja. Então me dirijo pelos cantos da parede até chegar ao meu local.

Lá dentro estava como de costume, escuro por causa da escassez de janelas, as quais eram alaranjadas; paredes feitas de pedras muito mal dispostas e vigas de madeira aparecendo. Além das grandes mesas que abrigavam bêbados e bárbaros, e o bar, onde eu ficava servindo as bebidas.

Não vou ser hipócrita, gosto bastante de cerveja - ainda mais a de Moyny - como qualquer jovem de 19 anos por aqui. Mas não aguento mais esse ambiente e essas pessoas, o que me dá mais vontade ainda de roubar para meu sustento.

Por sorte, meu chefe, - o Sr. Barr - não notou que cheguei atrasada.

"Nem sei o que aconteceria comigo se ele descobrisse."

Porém, para a minha "sorte", Kiara - minha... podemos dizer colega de trabalho - me viu chegando de fininho na taberna. Como de costume ela me olhou com aquela cara de quem vai aprontar, e chegou me xingando.

- Você não tem vergonha, não? Além de ser uma funcionária horrível e nojenta, ainda chega atrasada? - disse ela com uma voz arrogante, parando na minha frente com as mãos na cintura.

- Oh! Perdoe-me, ó vossa alteza da perfeição! Da próxima vez farei o meu máximo para atender vossas exigências! - falo debochando dela, um pouco alto de mais...

A Ladra | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora