XII

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EILEEN BERCKLEY

04 de setembro de 1702, Moyny.

Pego meu cavalo no estábulo e sigo em rumo a meu cantinho. Uma ponte. A velha ponte da floresta. Encontrei-a quando tinha uns 13 anos e, caminhando até ela, me pego perdida em meus pensamentos...

"Por que Riley ficara tão irritado? Só tento ajudá-lo... Nunca passou pela minha cabeça humilhá-lo ou apenas me livrar de ficar lhe devendo, ou qualquer coisa do gênero. Tomara que amanhã ele esteja mais calmo para que eu possa me explicar e, assim, nos resolvermos. Quero saber o motivo dele ficar tão raivoso."

Chegando perto o suficiente da ponte, amarro o cavalo numa das árvores mais próximas.

- Esse lugar é tão, tão calmo. Esse silêncio. Apenas os sons da natureza... É tão lindo! - falo comigo mesma.

Acaricio meu cavalo e subo na ponte indo até o meio da mesma. Fico ali por um bom tempo, observando tudo.

A água cristalina do riacho passava veloz embaixo da ponte, dava para sentir os respingos de água nos meus pés. Os pequenos raios de sol que conseguiam atravessar as robustas árvores batiam com força nas folhas avermelhadas, a grama serpenteava por entre as ervas daninhas e os baixos arbustos, estes possuíam espinhos pontiagudos que traziam um tom de melancolia à floresta.

Depois de um tempo reparando a beleza natural daquele lugar, me lembrei de uma canção que conheço desde menina. Uma que minha mãe sempre cantava para mim:

Talvez alguns momentos não sejam tão perfeitos

Talvez algumas memórias não sejam tão docesMas temos que passar por alguns maus momentosOu nossas vidas serão incompletasEntão, quando as sombras nos alcançaremQuando sentirmos que toda a esperança se foiVamos ouvir a nossa canção e saber que mais uma vezO nosso amor vive.

É assim que um momento dura para sempre?

Como a nossa felicidade pode aguentar?Passar pela escuridão dos nossos problemasO amor é beleza, o amor é puroO amor não se importa com a desolaçãoEle flui como um rio pela almaProtege, percebe e perseveraE nos faz sentir completos

Enquanto cantava, uma memória, a muito esquecida, vêm em minha mente.

Olho-me no espelho enquanto minha mãe escova meu cabelo e canta para mim.

- Mamãe, onde a senhora aprendeu essa canção? Adoro quando a canta para mim, já até gravei a letra. - digo olhando-a pelo espelho.

- Eu ouvi uma bela mulher, bonita como você, cantá-la quando estava grávida. Senti o amor que a bela moça sentia pelo seu bebê ainda na barriga, e rapidamente a gravei.

- Que história legal. - fico me observando no espelho por alguns instantes, quando algo me vem à mente - Mamãe, a senhora sabe o motivo de eu ter cabelos vermelhos, já que a senhora e o papai não tem?

Mamãe me olha espantada, mas rapidamente disfarça e sua face volta a ser calma e serena, como sempre foi.

- Bem, minha querida, você só tem sete anos, quando crescer entenderá...

A memória desaparece em minha mente quando escuto um barulho de algo parecendo galhos quebrando e folhas sendo pisoteadas.

Craccc!

A Ladra | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora