■ CASSIDY EVANS ■
05 de setembro de 1702, Gneeves.
- Nem vem com essa. É a sua vez de se livrar do corpo.
- Lógico que não. É a sua vez, maninha.
- Olha aqui, eu não tive que puxar aquele gordo escroto até o rio, quebrar o gelo, e jogá-lo lá dentro para você ficar falando que é a minha vez, novamente. Deixe de ser teimoso e aceite. Humpf. - bufo e cruzo os braços, olhando para o corpo com coloração azulada aos meus pés.
Encaro Liam até que ele se dá por vencido e acena com a cabeça.
Ultimamente, temos recebido cada vez mais trabalho. Não sei se isso é bom ou ruim, não quero que chamemos muita atenção e muito menos que a família descubra onde estamos agora. Caçadores de recompensas atrás de nós agora só irão nos atrapalhar. Não que seja difícil cuidar deles, mas sem tempo no momento.
Desço meu olhar sobre o corpo mais uma vez e todo o caminho que percorremos até aqui parece passar pela minha mente.
- Seria diferente se nossos pais fossem menos rigorosos? - pergunto de repente, com um olhar melancólico - Às vezes, quando penso muito, essa pergunta se repete na minha cabeça por mais vezes do que eu gostaria.
- Eu tento não pensar neles. No papai e na mamãe, digo. Olha maninha, já faz quase oito anos que a gente fugiu e eu sei que é difícil esquecer. Mas, talvez, não sejam laços de sangue que formam uma família, e sim as pessoas que sabem nossos segredos e nos amam mesmo assim. Que nos aceitam do nosso jeito simplesmente! Vem aqui. - Liam me chama com as mãos e abre os braços.
Olho para o loiro descabelado e coberto de sangue à minha frente com os olhos marejados. Pulo o corpo sobre o chão e paro na sua frente, abraçando-o em seguida.
- Eu não sei o que seria de mim sem você... - encaro o menino-homem à minha frente.
"Tão parecidos, mas ao mesmo tempo tão diferentes."
- Você não seria ninguém, obviamente. - ele faz uma cara de como quem diz "Dã!".
- Eu tenho que parar de falar essas coisas com você, seu ego vai lá ao alto...
■ LIAM EVANS ■
- Bom, vou logo me livrar desse corpo, para já irmos em busca de informações para o próximo trabalho. - digo já pegando pelos pés ainda calçados do corpo e jogando-o em cima do cavalo. - volto em algumas horas maninha.
Subo em cima do cavalo robusto e cavalgo enquanto anoitece. Andando pelo bosque, sigo a trilha de um caminho habitual feito por mim, - às vezes, por minha irmã - porém completamente desconhecido por qualquer outra pessoa.
Sei que cheguei no momento em que consigo ver somente alguns metros à minha frente por conta da neblina e da floresta já tomada pela noite melancólica. Diminuo o ritmo do cavalo e paro bem no centro de duas árvores que se sobressaem das outras. Para entrar, preciso passar por entre elas, um carvalho e um espinheiro, e depois seguir diretamente para o que parece uma meia parede de pedra de um pavilhão abandonado. Já fiz esse caminho diversas vezes, mas me encolho mesmo assim. Olho para a minha esquerda, já sabendo o local exato da placa que dizia:
Cemetery of Sinful Bodies
(Cemitério dos Corpos Pecaminosos)- Vamos lá. - desço do cavalo com cuidado para não derrubar o corpo e sigo puxando a rédea.
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A Ladra | Livro 1
Teen FictionEbook disponibilizado na Amazon/Kindle Para adquirir o livro físico entrar em contato: - Insta: @giovanna.c.lemos - E-mail: giovanna.carvalho2004@hotmail.com No início do século XVIII, uma jovem é portadora de um passado misterioso desconhecido...