3- Chantagem

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— Eu não a-cre-di-to! — a voz da minha melhor amiga veio alta do outro lado da linha e eu sorri passando o marca-texto sobre o meu resumo da aula de biologia, com a apostila de exercícios aberta ao lado. — Você conseguiu deixar o Kaíque sem resposta, amiga!

— Precisei mentir para conseguir isso — lembrei afastando um cacho castanho do olho.  — Mas você tinha que ver a cara dele, Mel! Eu deveria ter tirado uma foto quando disse que estava namorando! Daria para fazer um meme super engraçado.

Melissa riu baixinho e eu sorri, satisfeita.

— Agora é só rezar para ele parar de te procurar —  minha amiga disse muito séria e bocejou. — Você finalmente vai fechar esse ciclo na sua vida. Deixar o passado enterrado onde se deve.

— Tomara — afirmei circulando o desenho da cadeia energética que tinha copiado do quadro.

Mal sabia eu que estava redondamente enganada.

Um burburinho diferente tomava conta da entrada da Firenze naquela sexta-feira, mas eu achei que fosse a chegada iminente do fim de semana. Infelizmente eu estava errada.

Parado um pouco afastado da entrada principal, Kaíque sorria com as mãos nos bolsos da calça jeans Calvin Klein que se assentava com perfeição em seu corpo atlético. Várias garotas lançavam olhares desejosos em sua direção.

Meu. Deus.

Ele sorriu para mim e se encaminhou na minha direção com um sorriso imenso, atravessando os portões de ferro.

O meu ex abriu um sorriso brilhante.

— E aí, gatinha, será que poderia mostrar as instalações para o mais novo aluno dessa instituição?

Não, não, não. Ele não podia estar ali! Eu saí da Futuro justamente para evitar aquele desgraçado!

Senti as pontas dos meus dedos ficarem frias e dormentes.

— Eu lá tenho cara de guia turístico? — questionei com agressividade.

Algumas cabeças de alunos que passavam por ali se viraram na nossa direção e ele sorriu como se essa fosse a sua intenção. As pessoas cochichavam me lançando olhares feios, mas eu não podia me importar menos. Era como se a história estivesse se repetindo, mas dessa vez não tinha Melissa para me defender.

— Bom, não, mas eu só conheço você por aqui, então...

Fechei os punhos como se fosse bater nele. Eu queria usar todos os golpes que aprendi no kick boxing naquela cara ridícula.

— Não bastava me infernizar na Futuro, agora me veio me infernizar aqui também?

Ele sorriu de um jeito arrogante e meu coração bateu dolorosamente rápido no peito. Essa era claramente a intenção. No dia anterior ele não tinha ido na padaria apenas para me provocar, ele queria dizer que tinha me seguido para a nova escola: um aviso de que eu não conseguiria me livrar tão facilmente dele.

Acho que se não tivesse me apoiado em uma das várias árvores  na entrada da escola eu teria me estabacado no chão com aquela percepção.

Respirei fundo algumas vezes para me recompor. Não podia demonstrar fraqueza na frente dele.

— Algum problema aqui, Sofia?

Quase desmanchei em uma poça de alívio ao ver Lucas. Ele tinha headphones brancos da Beats nas orelhas que enganchou no pescoço enquanto observava a minha postura defensiva e o rapaz à minha frente.

— Ele está me importunando para mostrar a escola — informei arregalando os olhos e tentando parecer assustada. O que não era difícil.

Lucas cruzou os braços musculosos, estreitando os olhos. Ele era uns bons centímetros mais alto que Kaíque e isso me reconfortou.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora