6- O cavaleiro de armadura negra

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Dan estava agachado ao meu lado, segurando uma mão gelada entre as suas muito quentes. Não havia sangue no chão, onde estávamos sentados.

Minha palma estava pegajosa, mas Dan não parecia ter percebido ou ignorava esse fato. Tentei me afastar da mão dele, mas não consegui e isso fez um sentimento morno aquecer meu peito. Eu não queria me afastar dele. Escondi o rosto em seu pescoço, tremendo. Nunca achei que um dia eu fosse achar o cheiro de nicotina reconfortante, mas naquele momento era, porque era o cheiro de Dan.

— O que foi? — sussurrou erguendo o meu queixo com a ponta do indicador livre, me obrigando a olhá-lo. Os olhos normalmente claros estavam escuros como se cobertos por nuvens pesadas de chuva. — O que ele fez?

Sacudi a cabeça, escondendo o rosto em seu pescoço tatuado, inalando o seu cheiro conhecido. Dan era real. Aquelas imagens, não. Nada de sangue ou plástico prendendo os meus pulsos com força suficiente para deixar marcas, apenas a padaria em tons de rosa e branco e Dan, todo de preto.

Ele entendeu que eu não queria falar com Kaíque ali e, ainda me segurando contra o peito, ergueu o olhar para o meu ex. Seu coração batia acelerado contra a minha bochecha.

— Você não tem nada melhor para fazer que perseguir a Sofia? — rosnou. Seu tom não poderia ser mais oposto à delicadeza com a qual falava comigo e me segurava. — Cai fora, porra.

Kaíque riu sem humor algum.

— Esse é o seu príncipe encantado? — o meu ex criticou com o tom mais esnobe que poderia fazer. — Você já teve mais bom gosto.

Os dedos de Dan que ainda estavam junto dos meus se fecharam em punho e ele ensaiou se levantar, mas impedi, segurando sua mão com força. Agarrei a parte de trás da sua camiseta para evitar que ele partisse para cima de Kaíque.

— Eu não quero você aqui— chiei me levantando com a ajuda de Dan, cujo braço estava ao redor da minha cintura como se para me sustentar caso as minhas pernas vacilassem. Cruzei os braços fingindo que o gesto poderia me proteger daquele olhar homicida que meu ex lançava na nossa direção. — Por favor, me deixa em paz no meu local de trabalho.

Os olhos escuros  brilharam de um jeito que eu tinha aprendido a relacionar com problemas.

— Mas eu gosto tanto desse lugar...

Dan deu um passo à frente, cada músculo visível do seu corpo estava tenso e os olhos cravados no outro garoto. Segurei seu pulso que ainda estava enrolado na minha cintura e ele me fitou com os olhos azuis queimando.

— Por favor, Kaíque — expirei o ar, esgotada, ao segurar Dan com ainda mais força. — Se você tem um pingo de respeito por mim, sai daqui. Você não percebeu que não estou me sentindo bem?

Por um momento infinito, os olhos negros esquadrinharam o meu rosto — imaginei que procurando algum sinal de blefe — mas por fim ele assentiu. Kaíque jogou uma nota de cem reais na mesa e pegou o cartão preto, embolsando-o displicentemente.

— Pode ficar com o seu dinheiro — Dan disse em voz baixa e letal, encarando o meu ex-namorado, os músculos do maxilar trincados. — Sofia não precisa dele.

O garoto o ignorou completamente e saiu lançando um último olhar fulminante para nós dois que me arrepiou da cabeça aos pés.

Soltei o ar e quase me deixei cair em uma poça de alívio, mas Dan ainda me segurava e impediu que eu desmoronasse, me apertando contra o peito.

Poderíamos ter passado uma eternidade toda naquele abraço antes de Dan se desvencilhar de mim.

Não consegui reconhecer a expressão em seu rosto, mas ela deixava suas feições mais jovens, sem a dureza que ele costumava exibir para o mundo. Como se aquele fosse Dan sem a armadura que costumava usar para manter todos do lado de fora.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora