10- A queda

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Quando entramos lado a lado na sala de Física, o tempo pareceu congelar como em um filme em slow motion. Todos os olhares se voltaram na nossa direção e minha boca ficou seca ao mesmo tempo em que as mãos ficavam molhadas demais. Sequei a palma no jeans escuro.

Lucas, já sentado na primeira cadeira da fileira do meio, ergueu uma sobrancelha grossa para o melhor amigo.

Kaíque, sentado à esquerda de Lucas, nos mirava com fogo queimando os olhos negros como carvão.

Me encolhi diante de toda aquela atenção indesejada.

— Vou sentar com a Sofia — Dan disse ao amigo erguendo os ombros embora a sala estivesse razoavelmente vazia para ele poder escolher uma cadeira perto do outro garoto. Um sentimento quente vibrou dentro do meu peito quando ergui os olhos para o seu rosto e ele abriu um sorriso.

— Você sempre senta com a Sofia — Lucas respondeu com a mesma expressão surpresa. — Mas nunca chega cedo.

Dan simplesmente mostrou o dedo do meio para o outro, rindo, e passou o braço sobre meus ombros.

Me aconcheguei no corpo quente dele, embora eu também estivesse sorrindo porque era verdade: Dan sempre se sentava no fundo, mas não era bem por opção.

Quando o professor Gabriel entrou, ele parecia simplesmente abobalhado de ver Dan já sentado no fundo da sala. Eu não o culpava, aquele era um acontecimento mais raro que uma super lua de sangue em dia de céu limpo.

O homem que não deveria ser muito mais velho limpou a garganta e começou a escrever a atividade que iria propor em sala para finalizar o tema de eletrostática. Dei um tapinha no braço de Dan e apontei para a mochila dele pedindo silenciosamente que ele devolvesse o caderno que eu tinha emprestado na sexta-feira.

Meu coração estava acelerado no peito. Era a hora de ver que tipo de atrocidade ele tinha cometido.

O sorriso que ele abriu não me inspirou muita confiança, mas pelo menos o meu caderno estava inteiro quando ele depositou sobre a minha mesa branca fazendo uma reverência debochada.

Abri na matéria certa.

— Daniel! — quase gritei.

Dan começou a rir descontroladamente, chamando a atenção para nós dois ainda mais que o meu lamento.

O espaço na folha dedicado para o cabeçalho estava tomado por uma frase em uma caligrafia que não era minha: "O Dan é lindo". Na outra folha estava "O Dan é maravilhoso" e na folha seguinte estava "O Dan é o cara mais incrível que eu já conheci". Em todas as duzentas folhas do caderno, o espaço estava com frases exaltando as supostas qualidades daquele arrogante, indo desde como ele era um ótimo namorado a seus olhos e tatuagens, passando por algumas obscenidades. Maduro igual uma criança de dez anos que acabou de descobrir o que é uma vagina.

— Eu odeio você, sabia?

Dan se acalmou o suficiente para me dar aquele sorriso arrogante, brincando com o piercing.

— Odeia nada.

Cruzei os braços no peito, encarando-o com o rosto em chamas.

— Algum problema aí, Sofia? — o professor Gabriel perguntou se dirigindo até nossos lugares e neguei com a cabeça, sentindo os olhares da turma toda sobre nós. Estremeci com toda aquela atenção.

O homem me olhou desconfiado com os braços cruzados, o que fez a postura descontraída de Dan desaparecer e o meu suposto namorado encará-lo com as sobrancelhas franzidas e os olhos cerrados.

— Odeio sim — respondi fazendo cara feia e Dan riu outra vez, provavelmente porque minha expressão não estava convencendo nem a mim mesma com aquele sorriso que teimava em curvar meus lábios para cima.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora