5- Aliados

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Quando o sinal da saída tocou, respirei bem fundo, tremendo, e deixei os demais alunos saírem na minha frente.

Era a hora de ir para o clube de jornalismo. Sequei a palma da mão no jeans escuro que vestia.

— Ei — Lucas me cumprimentou na saída da sala com um sorriso bonito que fazia seus olhos cor de café brilharem.

Ele me puxou com delicadeza para dar passagem à Kaíque, que nos olhou de cara feia.

Soltei um suspiro aliviado ao ver ele se afastando para bem longe. Meu Deus, o ano seria muito longo. Talvez eu devesse pedir transferência para uma escola pública para ver se ele parava de me perseguir.

Daniela veio da sala de Matemática e se juntou a nós. Lucas olhou para a amiga e ela colocou uma mecha clara de cabelo atrás da orelha que tinha um alargador preto.

— Viu o Dan? — o menino perguntou passando um braço ao redor dos ombros dela com intimidade, como um irmão.

— Nop — Daniela fez uma bola de chiclete cor-de-rosa e estourou. — Você sabe como ele é mau perdedor. Deve ter ido para casa beber ou coisa assim.

Lucas concordou com um som do fundo da garganta e suspirou passando os dedos pelos fios curtos e encaracolados, desolado, e não era por perder o jogo.

— Você não teve culpa — murmurei.

— Eu sei, mas o Dan... — ele respirou fundo outra vez, irritado, e senti minhas sobrancelhas franzidas. Alguma coisa estava acontecendo, mas eu não sabia o que era e nenhum dos dois parecia inclinado a dividir o assunto comigo.

— É o Dan — dei de ombros. — Ele vai superar.

Digo, Dan Ricci. O cara não tinha nenhuma preocupação na vida além de gastar a fortuna inesgotável do pai e o que herdou da mãe. Não se preocupava com a faculdade ou em encontrar um emprego. Por que os seus dois melhores amigos pareciam tão preocupados com ele?

Tinha alguma coisa errada e eu queria saber o que era. Dan tinha me ajudado muito mais que ele poderia imaginar aceitando ser meu namorado de mentirinha, eu queria poder retribuir.

Desculpei-me para ir à sala do clube de jornalismo, mas Lucas me interceptou, chamando o meu nome.

Voltei a olhar em sua direção com as sobrancelhas erguidas. Daniela se afastou com passos lentos, nos olhando por cima do ombro.

— Olha, eu sei que não é da minha conta — começou, incerto, retorcendo as mãos e olhando para todos os lados menos para mim. — Mas percebi que você não gosta muito do Kaíque.

— Ah — foi a minha brilhante resposta. Eu não ia negar aquele fato.

Fiz que sim com a cabeça, incitando Lucas a continuar.

Ele limpou a garganta.

— Você é a namorada ou coisa parecida do meu melhor amigo, sabe que tem a total prioridade no nosso grupo, não sabe?

Meu coração se encheu de luz e calor. Achei que poderia acabar transbordando e chorando na frente dele. Respirei fundo para me acalmar.

Sinceramente, conhecendo um pouco Daniela e Dan, eu tinha tido minhas dúvidas se realmente me daria bem com ele — diferentemente dos amigos ele não era do tipo que gostava de ficar na dele, estava sempre conversando com os colegas e rindo, enquanto Dan estava imerso em seu mundinho ou conversando com a garota. Lucas era o amigo extrovertido do trio.

Pesei cuidadosamente as palavras para não acabar revelando demais:

— Kaíque e eu temos um histórico e ele não é nada bom — comecei, lentamente. "Nada bom" deveria ser o eufemismo do século. Foi horrível, péssimo. Um verdadeiro pesadelo. — Não vou fingir que gosto dele, porque não gosto. Mas não vou fazer você ter que escolher entre sua amizade com ele ou comigo, e consequentemente, Dan. Eu sei qual é a sua escolha, não sou idiota.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora