17- Em chamas

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Não sei como eu fiz para deixar a Doce Sonho.

Dan percebeu que havia alguma coisa errada e veio para o meu lado com os olhos azuis queimando para me amparar. Não desmoronar bem ali exigiu mais força de controle que qualquer coisa enquanto eu pedia para ele me levar embora com a voz tremendo tanto que as palavras soaram quase ininteligíveis.

O meu namorado lançou um olhar que só poderia ser descrito como assassino na direção do meu ex. Não era difícil imaginar que Kaíque tinha usado a imensa reputação do pai para de alguma forma me tirar da padaria.

Kaíque nos lançou um sorriso zombeteiro que me deu vontade de vomitar enquanto ele sacudia a Coca-Cola e sugava o canudinho com os olhos fixos em mim.

Os punhos de Dan se cerraramcom tanta força que me perguntei se eventualmente ele iria soltá-los algum dia.

— Eu te disse ano passado, Soso — o babaca comentou quando passamos pela sua mesa. — Você é minha e não vai ser um delinquente que vai mudar o nosso destino.

Essa era a faísca que Dan precisava para explodir.

Em um segundo sua mão estava ao redor dos meus ombros, no segundo seguinte estava no rosto do meu ex-namorado. Dan batia de um jeito que me deixou chocada: rápido, sem parar. Sua expressão estava endurecida de ódio e por um momento tudo que eu pude fazer foi observar enquanto ele socava sem piedade, desviando com facilidade de Kaíque.

Os dois caíram rolando no chão impecavelmente branco. Ouvi os gritos de Maria e do dono da padaria, mas eu não tinha ideia do que eles estavam falando.

— Dan! — chamei, me lançando sobre ele, restringindo seus braços quando sangue tingiu o chão me lembrando dolorosamente daquela vez em que nós três estivemos naquele mesmo lugar, mas o vermelho no chão era apenas fruto da minha imaginação.

Dan lutou contra mim e eu o abracei com força para restringir seus braços. Para alguém sedentário, ele tinha bem mais força que eu esperava. Talvez fosse o ódio que consumia seus olhos — deixando-os mais claros graças às pupilas contraídas.

— Dan, por favor — pedi em voz baixa, abaixando seu rosto para ele encarar o meu. Eu vi a mudança acontecer: seus olhos ficaram mais escuros quando a pupila dilatou. Ele lançou um olhar para o chão, onde Kaíque ainda estava. Meu ex passou o dorso da mão pelo nariz, de onde um filete de sangue escorria.

— Você vai pagar por isso — declarou com a voz agradável como se estivesse falando do clima. — Ela é minha.

— Eu não sou de ninguém além de mim— explodi, ainda apertando Dan contra mim. — Você só odeia o fato de que eu estou feliz com outra pessoa.  Imagino que tenha ouvido os boatos sobre Dan e eu muito antes de sequer voltar ao Brasil e resolveu mudar de escola para encher o saco. Supera, cara!

O rosto de Kaíque endureceu e eu soube que, se não tivesse acertado em cheio, com certeza tinha chegado bem perto. O choque em seu rosto era impagável, mas não perdi meu tempo olhando para ele.

Toquei as maçãs do rosto de Dan, suas bochechas, testa e ombros, mas ele estava completamente ileso, exceto pelas mãos. Os dedos pareciam machucados de ter socado a cara do meu ex.

Soltei o ar em uma expiração e o puxei pela mão para a porta.

— Sinto muito pela bagunça, senhor — disse sinceramente para o meu ex-chefe. — Mas saiba que fazer alguma coisa só porque foi coagido por um riquinho mimado é o pior tipo de covardia.

Não fiquei para ver a reação dele — ou se teria uma reação.

Saí para a tarde fresca e Dan encaixou o capacete na minha cabeça com familiaridade. Seu maxilar estava travado com a raiva que ainda consumia seus olhos e eu tinha certeza que, se eu não tivesse interferido, ele ainda estaria socando Kaíque.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora