Na segunda-feira, eu estava me sentindo um lixo. Ter gritado e chorado na noite anterior não tinha feito maravilhas por mim.
Passei um pouco de maquiagem para cobrir as olheiras e o inseparável lip balm de cereja. Era o que dava para fazer pela minha aparência que estava medonha naquela manhã. Até a minha pele parecia pálida por baixo do dourado natural.
Os gêmeos estavam estranhamente quietos naquele dia, comendo muito comportados à mesa e meu coração doeu sabendo que era pelo que tinham visto no sábado.
Beijei meus irmãos e papai antes de descer para o ponto de ônibus. Como sempre, a minha mãe já não estava em casa.
Desci para o hall de entrada e quase passei direto por Dan. Eu já tinha andado uns bons dois metros quando me virei para encarar o meu suposto namorado encostado na Harley, despreocupado, com um cigarro na boca e os braços cruzados.
— O que é isso?
— Isso — disse soando aborrecido apontando para a própria cara e a expressão nem um pouco feliz nela — é uma pessoa que acordou antes das seis horas da manhã para te buscar para a aula.
Estreitei os olhos, desconfiada.
— E por quê?
— A Dani disse que é o tipo de coisa que se espera de um bom namorado — explicou fazendo uma expressão tão inocente que não acreditei nem por um segundo. — E, como você já sabe, eu sou um excelente namorado. — O sorriso convencido e debochado tomou conta dos seus lábios e ele tocou o piercing com a ponta da língua daquele jeito que eu tinha passado a associar com desafio.
Estreitei os olhos na sua direção outra vez.
— A sua atenção inesperada é muito suspeita, você sabia disso?
Ele deu de ombros, exalando tranquilidade, mas os olhos brilhavam, divertidos.
— Você pode ir de ônibus se quiser — ofereceu com uma cortesia que não era nada característica, tamborilando os dedos da mão livre no acolchoado do banco.
Ri baixinho.
— Psicologia reversa? Sério?
Dan também soltou uma risada baixa e tirou o celular do bolso para olhar as horas.
— Você pode mesmo ir de ônibus, só acho que precisa correr para não perder. — Seus olhos azuis se fixaram em algum ponto atrás da minha cabeça enquanto ele parecia pensar em alguma coisa. — Claro que eu não sei, porque nunca andei de ônibus.
— Você é muito filhinho de papai — ri, desacreditada.
Ele tragou o cigarro e soltou fumaça para o alto, me fazendo revirar os olhos e tossir com aquele fedor.
— Eu odeio esse cheiro, sabia?
— Você odeia tudo, Sofia — replicou dando de ombros, mas jogou o cigarro no chão e pisou com o coturno. — Vai aceitar a carona ou não?
O que eu tinha a perder?
Fiz que sim com a cabeça e ele me deu a mão para ajudar eu me equilibrar sobre o assento elevado, me lembrando aqueles caras que ajudavam as princesas a entrar nas carruagens.
Dan encaixou o capacete preto na minha cabeça e afivelou a fita sob o meu queixo antes de ocupar o seu lugar. Prendi os braços ao redor da sua cintura com um pouco de força excessiva, agarrando-me a ele com todas as parte do meu corpo e repeti para mim mesma que só estava totalmente colada às suas costas por segurança, não tinha nada a ver com o quase beijo de sábado.
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Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]
Teen FictionDepois de se livrar de um relacionamento abusivo, tudo que Sofia quer é terminar o terceiro ano em paz, mas isso não parece ser o que o Destino reservou para ela. Sofia é uma boa menina, tem boas notas e trabalha para ajudar a custear os gastos que...