9- O namorado perfeito

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Na segunda-feira, eu estava me sentindo um lixo. Ter gritado e chorado na noite anterior não tinha feito maravilhas por mim.

Passei um pouco de maquiagem para cobrir as olheiras e o inseparável lip balm de cereja. Era o que dava para fazer pela minha aparência que estava medonha naquela manhã. Até a minha pele parecia pálida por baixo do dourado natural.

Os gêmeos estavam estranhamente quietos naquele dia, comendo muito comportados à mesa e meu coração doeu sabendo que era pelo que tinham visto no sábado.

Beijei meus irmãos e papai antes de descer para o ponto de ônibus. Como sempre, a minha mãe já não estava em casa.

Desci para o hall de entrada e quase passei direto por Dan. Eu já tinha andado uns bons dois metros quando me virei para encarar o meu suposto namorado encostado na Harley, despreocupado, com um cigarro na boca e os braços cruzados.

— O que é isso?

— Isso — disse soando aborrecido apontando para a própria cara e a expressão nem um pouco feliz nela — é uma pessoa que acordou antes das seis horas da manhã para te buscar para a aula.

Estreitei os olhos, desconfiada.

— E por quê?

— A Dani disse que é o tipo de coisa que se espera de um bom namorado — explicou fazendo uma expressão tão inocente que não acreditei nem por um segundo. — E, como você já sabe, eu sou um excelente namorado. — O sorriso convencido e debochado tomou conta dos seus lábios e ele tocou o piercing com a ponta da língua daquele jeito que eu tinha passado a associar com desafio.

Estreitei os olhos na sua direção outra vez.

— A sua atenção inesperada é muito suspeita, você sabia disso?

Ele deu de ombros, exalando tranquilidade, mas os olhos brilhavam, divertidos.

— Você pode ir de ônibus se quiser — ofereceu com uma cortesia que não era nada característica, tamborilando os dedos da mão livre no acolchoado do banco.

Ri baixinho.

— Psicologia reversa? Sério?

Dan também soltou uma risada baixa e tirou o celular do bolso para olhar as horas.

— Você pode mesmo ir de ônibus, só acho que precisa correr para não perder. — Seus olhos azuis se fixaram em algum ponto atrás da minha cabeça enquanto ele parecia pensar em alguma coisa. — Claro que eu não sei, porque nunca andei de ônibus.

— Você é muito filhinho de papai — ri, desacreditada.

Ele tragou o cigarro e soltou fumaça para o alto, me fazendo revirar os olhos e tossir com aquele fedor.

— Eu odeio esse cheiro, sabia?

— Você odeia tudo, Sofia — replicou dando de ombros, mas jogou o cigarro no chão e pisou com o coturno. — Vai aceitar a carona ou não?

O que eu tinha a perder?

Fiz que sim com a cabeça e ele me deu a mão para ajudar eu me equilibrar sobre o assento elevado, me lembrando aqueles caras que ajudavam as princesas a entrar nas carruagens.

Dan encaixou o capacete preto na minha cabeça e afivelou a fita sob o meu queixo antes de ocupar o seu lugar. Prendi os braços ao redor da sua cintura com um pouco de força excessiva, agarrando-me a ele com todas as parte do meu corpo e repeti para mim mesma que só estava totalmente colada às suas costas por segurança, não tinha nada a ver com o quase beijo de sábado.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora