11- Confiança

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O primeiro fim de semana de março veio como um trem desgovernado na minha direção, trazendo a esperada saída em grupo.

Depois de muito discutir com os amigos, Lucas sugeriu irmos para uma cachoeira, o que imediatamente me deixou com os dois pés atrás: eu não sabia nadar, mas também eu não queria ser a desmancha-prazeres.

Por fim, acabei aceitando e por isso estava vestindo o meu biquíni por baixo da camiseta e do short jeans, me sentindo uma idiota.

O carro preto e imenso surgiu diante da Doce Sonho, me tirando desses pensamentos e meu coração retumbou no peito com sua mera visão. Depois do beijo no intervalo de segunda-feira, eu não conseguia ser eu mesma com Dan. As lembranças daquele beijo incrível ainda estavam muito frescas na minha memória, embora Dan estivesse sendo ele mesmo, absurdamente inplicante.

— Divirta-se, menina — Maria desejou com um sorriso imenso quando eu peguei minha mochila atrás do balcão.

Alcancei a cesta de piquenique com algumas comidas que papai tinha me ajudado a preparar — na verdade ele tinha feito tudo enquanto eu observava em silêncio na cozinha minúscula do apartamento— e praticamente corri para a porta, mandando beijinhos para a minha supervisora.

O sol das dez da manhã tocou minha pele quando saí para a rua pouco movimentada.

Dan abaixou o vidro da Dodge Journey. Ele estava com um par de óculos escuros cobrindo os olhos e os ergueu, colocando-os sobre os cabelos, para me observar de cima a baixo, com um sorriso curvando os lábios bonitos.

— Oi — murmurei quando entre no carro e virei para cumprimentar Dani e Lucas, mas eles não estavam ali.

— Estava no mercado aqui perto — explicou dando de ombros. — Vamos passar na casa da Mel, depois pegar a Dani, o Lucas e o babacão.

Ri baixinho e Dan também, mas logo em seguida ele suspirou. Suas sobrancelhas baixas indicavam que estava preocupado e imaginei que fosse por ter Kaíque como parte do seu grupo de amigos. Eu também não estava muito entusiasmada, mas Lucas insistiu que o "coitadinho" não tinha outros amigos de nós e que seria ruim deixá-lo de fora. Eu realmente precisava falar logo com Lucas e Dani sobre Kaíque.

Dan seguiu em silêncio com uma música tocando baixinho nos auto-falantes e me inclinei para tentar ouvir melhor. Ele aumentou o volume pelo volante e também fez a música reiniciar apenas apertando um botão sem tirar as mãos do lugar.

— Ela me lembra de você — murmurou antes de cantar os versos baixinho, acompanhando o cantor:

Your hazel green tint eyes watching every move I make.
And that feeling of doubt, it's erased.
I'll never feel alone again with you by my side.
You're the one, and in you I confide.
(Seus olhos avelã esverdeados observando todo movimento que faço
E aquele sentimento de dúvida, está apagado
Eu nunca vou me sentir sozinho com você do meu lado
Você é a única, e em você eu confio)

— É uma música gostosa de ouvir — comentei, sem graça com a letra que claramente falava de amor. Com certeza Dan só lembrava de mim por causa da parte dos olhos cor de avelã bem no comecinho da música.

I gave my heart to you... — murmurou sem parecer prestar atenção ao que estava fazendo, focado demais no pouco trânsito do início da tarde, mas mesmo assim as minhas bochechas se encheram de cor. Eu te dei o meu coração era a tradução daquela frase.

A música logo acabou e deu lugar à outra, muito mais a cara de Dan, com guitarras e gritos, bem rock n'roll. Eu não conseguia acompanhar metade da letra.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora