14- A verdade

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Quando ergui os olhos para a porta do apartamento, me senti dentro de um filme de terror.

— Papai! — berrei procurando desesperadamente a minha camiseta. Passei ela por cima da cabeça me sentindo muito exposta.

Para completar a minha humilhação, Dan cobriu a virilha com uma almofada antes de se sentar mais aprumado no sofá claro.

Escondi o rosto quente de vergonha entre as mãos. Como tudo deu errado tão rápido?

— Sofs... — meu pai começou e ouvi a porta encostando. Espiei entre os dedos e ele se sentou pesadamente ao meu lado, puxando uma das minhas mãos entre as suas e deixei a outra cair sobre meu colo. — Você sabe que não temos problemas com você... ah... — Ele coçou a testa, tão constrangido quanto eu. — Transando, mas e se um dos gêmeos tivesse acordado? Vocês dois deveriam ter ido para o quarto.

Não tenha piedade de mim, Senhor, faça a terra abrir e me engolir, pedi desesperada olhando para cima. Infelizmente Deus não estava se sentindo muito generoso e eu continuei ali, morrendo de vergonha entre meu pai e o meu  suposto namorado/crush/peguete.

Desviei o olhar para o chão branco.

— Nós não planejamos isso — me defendi com toda a dignidade que consegui reunir, indicando Dan com um gesto da mão sem ter nem coragem de olhar na cara dele.

Alcancei uma almofada e abracei contra o peito como se ela pudesse me proteger da decepção dentro daqueles olhos escuros que eu conhecia tão bem. Além da vergonha, a culpa por ter deixado meu pai assim me consumiu ainda mais intensamente.

— Sei disso. — Papai coçou a careca outra vez e lançou um olhar para Dan, as sobrancelhas escuras muito juntas. — Quais são as suas intenções com a minha filha, rapaz?

— Pai! — reclamei, me levantando em um rompante.

Agarrei a mão de Dan e tentei arrastá-lo para a porta, mas ele continuou onde estava, sentado despreocupadamente como se estivesse realmente assistindo ao filme que ainda passava na televisão.

— As melhores, senhor — replicou soando extremamente formal. Ele estendeu a mão para o meu pai. — Dan Ricci. Sou o namorado da sua filha.

Não aguentei, espiei o seu rosto. Os olhos azuis estavam muito limpos e sinceros, mesmo que ele tenha feito uma careta — provavelmente pela força excessiva de papai ao apertar a sua mão. As juntas dos dedos do meu pai estavam brancas sob a pele negra.

Dan entrelaçou os dedos com os meus  e me puxou para seu lado, me pressionando contra a lateral do corpo. Nossos olhares se encontraram e ele sorriu minimamente antes de piscar um olho para mim, brincando com o piercing.

Apesar da expressão séria, Dan estava se divertindo muito. Cretino. Dei uma cotovelada em suas costelas e ele soltou um "ai!" baixinho.

— Vou levar o Dan lá embaixo — intervi quando o silêncio de morte se abateu na sala e senti os olhares sobre mim, esperando que eu dissesse ou fizesse alguma coisa, mas eu não tinha ideia de o que era que eles esperavam.

Levantei e meu pai assentiu com os olhos amendoados fixos nas nossas mãos unidas.

— É melhor — respondeu com a voz grave, também se levantando e eu juro que meu pai parecia ainda mais alto.

Puxei o meu "namorado" novamente e dessa vez ele se levantou, passando um braço ao redor dos meus ombros de um jeito que eu já estava acostumada, embora eu tenha sentido alguma coisa diferente em seu braços, uma rigidez que nunca tinha estado lá.

Por alguma razão Dan também parecia mais alto ao passar pelo meu pai, que o segurou pelo ombro.

— Nem pense em magoar a minha filha, rapaz — a ameaça não passou despercebida para ninguém, em especial tendo em vista os mais de dois metros do meu pai, que parecia ainda mais alto e musculoso ao encarar o rapaz.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora