27- Despedida

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A sala estava estranhamente silenciosa, encarando a mesa do meu namorado em completo choque. Dan ergueu o olhar para mim parecendo muito, muito confuso e com medo de verdade. A nossa conversa no domingo, sobre como ele se sentia mal por ter desapontado o pai voltou com força total.

Mesmo aquilo sendo plantado — o que era óbvio —, Dan ainda estaria sob investigação. 

— Não! — quase gritei, encarando a mesa de Dan e a maconha ali. Eu não era nenhuma gênia, mas sabia que aquilo era suficiente para configurar tráfico de drogas.

— Você vem com a gente, jovem — o policial mais alto e com mais cara de mau disse se encaminhando na direção do meu namorado.

— Não — repeti me colocando entre o homem e Dan. — Ele não fez nada.

Minha mente estava voando a mil por hora, procurando alguma explicação para aquilo. Meus olhos recaíram sobre Kaíque, com os braços cruzados e tentando manter a expressão neutra, mas eu o conhecia há tempo suficiente para ver o brilho vitorioso em seu rosto bonito, distorcendo ligeiramente suas feições.

— Filho da puta — murmurei para mim mesma. Ele tinha incriminado Dan, mas como? Kaíque não era idiota, ele não teria sido imbecil o suficiente para fazer isso na cara de todo mundo, teria?

Não, imbecil não. Mas e se ele fosse descuidado? Kaíque estava acostumado a se safar de tudo com pouco esforço, eu só precisava conseguir uma confissão. Aham, como se fosse fácil assim.

Dan se levantou com os olhos arregalados. Sua expressão — medo e choque — despedaçou o meu coração.

— Vai dar tudo certo — eu disse para ele. — Não abre a boca e não assina nada que eles te derem. — Ergui o olhar para o policial. — Para onde vocês vão levar ele?

O homem respondeu e eu assenti.

Dan imitou o meu gesto, completamente perdido. Entrelacei nossos dedos e beijei.

Vai dar tudo certo, fiz com os lábios.

Peguei o meu celular e disquei o número que conhecia de cabeça.

— Mãe, eu preciso de você.

**

Foi o inferno.

Eu nunca tinha pisado em uma delegacia, mas juro por Deus, esperava nunca ter que pisar outra vez. O lugar parecia como qualquer órgão público, com pessoas uniformizadas andando, senhas e guichês, mas o que aterrorizava eram as armas. Muitas e muitas armas para todos os lados, além de bandidos sendo levados para cima e baixo com algemas prateadas brilhando sob as luzes fluorescentes.

Eu odiei aquele lugar no instante que pisei o pé ali dentro, mas Dan estava ali e eu não podia deixá-lo sozinho.

O lugar fedia a suor e medo e também era barulhento. Me encolhi várias vezes sob o olhar de homens que me encaravam como se eu fosse um pedaço de carne, sendo escoltados por policiais fardados na direção de uma porta com uma placa de acesso restrito. Todas as atenções pareciam estar voltadas para aquele lugar, então eu também prestei atenção à ela.

Me encolhi nos braços do meu pai quando mais um mau-elemento era arrastado por um casal de policiais para a tal porta de área restrita.

Depois de ter explicado a situação de Dan para a minha mãe e implorado para ela tirar Dan da prisão, pedi para o meu pai me buscar — já que eu não poderia sair mais cedo sem um responsável autorizando.

É claro que ele não ficou nem um pouco feliz com a prisão de Dan, mesmo que eu tenha lhe explicado que era um engano. Ele também não queria me deixar ir para a delegacia, mas eu o convenci dizendo que iria quisesse ele ou não — afinal, ele não morava mais na mesma casa que eu não teria como me impedir de sair — e papai por fim suspirou, derrotado, pegando as chaves do seu carro.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora