A segunda-feira veio para me testar.
Assim que saí do prédio para a rua do bairro residencial, meu coração quase saiu voando pela boca: Dan estava parado daquele jeito que eu já conhecia, encostado na moto preta.
Gostaria de dizer que quando o vi não demonstrei nenhuma reação, mas a verdade é que o meu corpo todo se arrepiou sob aquele olhar quente e as narinas inflaram como se buscassem o seu cheiro gostoso. Meu coração infelizmente não parecia ter entendido o que aconteceu na sexta-feira e estava louco para se jogar nos seus braços, ignorando o que aconteceu na festa de Alicia.
Fechei os olhos, aquela imagem parecia gravada a ferro atrás das minhas pálpebras. Dan e a menina se agarrando no meio de todo mundo.
Abri os olhos e ele ainda estava lá, os olhos correndo sem pressa pelo meu corpo de uma maneira que eu tinha associado com desejo.
Dei as costas para Dan e comecei o meu caminho.
— Sofia! — chamou. — Ei!
Não me virei, continuei o mais rápido possível sem correr. O ronco do motor se fez ouvir e logo Dan estava ao meu lado, inclinando sobre o guidão da Harley estúpida.
— Ei! Deixa eu te dar uma carona — pediu em voz baixa abrindos os braços na minha direção. — A gente precisa conversar.
Apertei o passo com os olhos cravados na esquina.
— Não. Eu não tenho nada pra conversar com você, Dan.
— Sofia — reclamou passando os dedos pelos cabelos escuros, obrigando a moto a me acompanhar devagar. — Nós dois vamos para o mesmo lugar. Não vou fazer nada contra você, eu juro, só quero conversar.
Não respondi.
— Qual é! — reclamou, exaltado para os seus padrões de quem não ligava para nada. — Minha moto não é melhor que passar quase uma hora dentro da lata de sardinha?
Me virei para encarar seu rosto pálido feito osso.
— Me deixa em paz! — berrei e as pombas que andavam por ali alçaram voo. Lágrimas quentes rolaram pela a minha face. — Por que você está insistindo nessa merda de carona? Partir o meu coração de todas as formas imagináveis não foi bom o suficiente? Você precisa tripudiar?
Os lábios de Dan se entreabriram diante do choque com a minha explosão. Depois se fecharam em uma linha fina de raiva, um tipo que eu só tinha visto dirigida à ele mesmo: ódio puro e sem reservas.
— Eu não quero as suas caronas — rosnei. — Eu não quero ver você. Se eu pudesse preferia nunca ter te conhecido! Eu odeio você, Daniel Ricci.
Por um segundo todo o sangue pareceu desaparecer e seu rosto ficou ainda mais pálido que o normal.
Os lábios de Dan tremeram e ele forçou um sorriso tão quebrado que doeu no meu coração mas eu estava tão furiosa com ele, comigo mesma e com a situação que a dor foi suprimida pela raiva.
— Odeia nada — sussurrou e mesmo assim a sua voz tremeu.
Eu ri e o som saiu muito parecido com a sua risada. Ele tinha a audácia de parecer ferido? Ele?
Esfreguei as mãos nos olhos, secando as lágrimas e continuei o meu caminho. O som da Harley cortou o ar e ele disparou para o lado oposto de onde eu estava.
Respirei fundo várias vezes e continuei para o ponto de ônibus, ouvindo o som do meu coração se partindo mais uma vez.
Claro que os quarenta e cinco minutos dentro do ônibus foram tempo suficiente para organizar os meus sentimentos. Não olhei no rosto de ninguém quando passei pelo portão de ferro preto e pelo pátio para a minha sala, mas pude ouvir os cochichos me seguindo.
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Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]
Novela JuvenilDepois de se livrar de um relacionamento abusivo, tudo que Sofia quer é terminar o terceiro ano em paz, mas isso não parece ser o que o Destino reservou para ela. Sofia é uma boa menina, tem boas notas e trabalha para ajudar a custear os gastos que...