19- A calmaria antes da tempestade

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Todos os olhos ao redor da mesa estavam em mim e Dan.

Sentei-me lentamente e puxei Dan para o meu lado ao redor da mesa.

Eu não gostei nadinha do olhar da minha mãe na direção de Dan e, a julgar pela forma como suas costas estavam eretas, ele sentiu isso também.

— Não sabia que os nossos filhos se conheciam, Giuseppe. — Ela tomou um gole do seu dry martini, os olhos estavam fixos nas várias tatuagens expostas pela camisa social enrolada até o cotovelo do meu namorado.

O pai de Dan me lançou um olhar divertido muito semelhante ao do filho. O único par de olhos gentis ao redor da mesa. Ele parecia estar achando muita graça em alguma coisa que eu não entendia.

Ergui uma sobrancelha na direção de Dan e ele deu de ombros, voltando o olhar para o belo arranjo de flores diante de nós.

Comecei a brincar com o talo de uma florzinha que exalava um cheiro doce, esperando pela resposta do meu "sogro", quebrando o cabo verde em várias partes com as unhas curtas. Dan apoiou a mão sobre a minha, me impedindo.

— Ouvi dizer que eles estão namorando, Olívia — veio a voz cínica de Pedro Villas-Bôas e senti minhas bochechas corarem sob o olhar cheio de raiva da minha mãe. Ela parecia prestes a pular no meu pescoço.

— É mesmo? — perguntou com a voz falsamente doce que me estremeceu.

Assenti sem olhar para o seu rosto. A vontade de pegar Dan pela mão e sair correndo porta afora para protegê-lo do veneno que eu podia sentir escorrendo em cada letra das suas palavras me atingiu com força.

Dan passou o braço, protetor, ao redor da minha cintura, me puxando para perto. Tudo vai ficar bem, fez com os lábios quando ergui o olhar para seu rosto falsamente relaxado.

O músculo pulsando em seu maxilar cerrado e aquele suave v entre as sobrancelhas eram as únicas coisas que entregavam como ele estava realmente sentindoo.

Ele deu um beijo na minha testa e me aconcheguei ainda mais em seu corpo. Meus olhos estavam fixos na minha mãe, desafiando-a a falar alguma coisa. Nem uma palavra deixou seus lábios, mas um olhar em especial prendeu a minha atenção e engoli em seco.

— Papai — eu disse me sentindo esquisita, formal demais. — Se lembra do Dan?

Meu pai o analisou de cima a baixo e assentiu com um sorriso branco que contrastava lindamente com a pele escura, apertando a mão do meu namorado.

— Claro que lembra — Dan comentou com o sorriso malicioso, brincando com o piercing com a ponta da língua. — Eu sou inesquecível.

Não aguentei: comecei a rir de nervoso e deixei a cabeça cair nas mãos. Toda a tensão sobre meus ombros desapareceu.

Meu pai também riu.

— Bom, não posso negar isso — comentou, entrando na brincadeira de Dan. — Você causou uma primeira impressão e tanto.

— Eu te disse — Dan assoprou na minha direção e ergui a cabeça para ele. O cretino estava se divertindo muito. — Inesquecível.

— Você se acha demais — resmunguei fingindo uma careta, mas não pude impedir o sorriso em meus lábios.

Dan revirou os olhos estupidamente azuis para mim, mas seu sorriso aliviado espelhava o meu.

— E essa... — Dan continuou, olhando para a mulher ao meu lado. Sua voz estava mais grossa e séria, assim como a sua postura. — Deve ser a mãe de Sofia. É evidente de quem ela herdou a beleza.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora