4- Jogos

26.5K 2.9K 4.3K
                                    

Dan levantou a cabeça quando o sinal para a próxima aula tocou e me ajudou, pegando a minha mochila pesada quase como um namorado de verdade.

Ergui uma sobrancelha e ele deu de ombros, esperando a turma sair na frente. Isso era muito suspeito.

O rapaz percebeu a minha desconfiança e abriu o característico sorriso malicioso. Ele estava se divertindo com aquela história de namoro falso. Ou talvez com a minha desconfiança.

— A sonequinha foi boa? — murmurei quando ele coçou um olho com os nós dos dedos e se espreguiçou até os ossos estalarem. A camiseta levantou um pouco, exibindo a pele pálida igual papel sob ela.

Dan sorriu ainda mais. Ele estava estranhamente sorridente esses últimos tempos. Eu tinha medo.

— Maravilhosa. Estava sonhando com aquela sua amiga, a ruiva.

O riso desapareceu do meu rosto. Idiota.

— Odeio você, sabia?

Dan gargalhou alto, fazendo os alunos remanescentes se virarem para olhar eu o cutuquei com o cotovelo fazendo shh.

Passamos pelo professor Gabriel, que lançou um olhar estranho para nós dois e sorri, me desculpando por estarmos atrapalhando-o a sair para o lanche.

Dan passou um braço ao redor dos meus ombros com a cara fechada e ergui uma sobrancelha para ele. O meu "namorado" apenas sacudiu a cabeça, mas seus olhos azuis estavam parecendo mais escuros e eu não tinha ideia do motivo.

Lucas estava esperando o amigo do lado de fora da sala, um sorrisinho irônico curvando os lábios.

— E aí? — disse  trocando um cumprimento complicado com o outro. — O que tá rolando entre vocês?

Dan puxou o maço de cigarro do bolso e me soltou, desviando o olhar para as árvores no pátio onde alguns grupinhos conversavam sob as copas cheias. Era impressão minha ou ele deliberadamente não queria responder ao amigo?

— Isso vai acabar te matando, sabia? — critiquei estreitando os olhos por causa do sol da manhã ao olhar em sua direção enquanto descíamos as escadas. — E deixar os seus dentes amarelos e fazer cair. E você vai ficar impotente.

Dan gargalhou outra vez e acendeu o cigarro com o isqueiro prateado que parecia caro — ele tinha tampa e tudo.

Revirei os olhos para o seu completo descaso com a saúde e reprimi um suspiro.

— Eu e a Dani falamos isso há anos — Lucas comentou para mim, sorrindo, e os dentes brancos se destacaram contra a pele escura. — Mas ele escuta?

— Eu só escuto gente que não tem opinião merda — respondeu meio abafado pois o cigarro ainda estava entre os dentes.

Ele segurou meu pulso me impedindo de escorregar em uma folha que estava no penúltimo degrau.

Agradeci em voz baixa e seus olhos brilharam, divertidos.

— É impossível — Lucas lamentou com uma expressão engraçada para mim sacudindo a cabeça de um jeito falsamente desolado.

Andamos os três lado a lado pelo caminho ladrilhado até a lanchonete, onde Dan jogou o cigarro fora em uma lixeira.

Lucas tirou uma maçã da mochila quando nos sentamos na mesa tradicional deles e Daniela, a amiga com cabelo descolorido e piercing no lábio, apareceu.

Ela sorriu para mim, se sentando ao lado de Lucas, de frente para mim.

— Oi — disse baixinho e eu a cumprimentei também.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora