8- Dúvidas

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Depois de jogarmos por várias horas naquele pub com cheiro de cigarro e cerveja, Dan nos levou para casa e conversamos o caminho inteiro, animados. Descobri que Lucas e Dani moravam no mesmo condomínio e se conheciam desde sempre e que Dan só tinha se juntado a eles dois anos antes, quando reprovou no primeiro ano e eles acabaram na mesma sala, mas já era amigo de ambos muito antes disso.

Ele estacionou o carro na frente do prédio branco sem-graça idêntico a vários outros no bairro relativamente novo.

— Obrigada pela carona — agradeci me inclinando para soltar o cinto de segurança. Dan sorriu daquele jeito dele, mas as sobrancelhas estavam franzidas como se ele estivesse pensando em outra coisa. — E também preciso de agradecer por ontem. O que você fez com o Kaíque...

Dan pegou a minha mão, brincando com os meus dedos de uma maneira que eu estava começando a me acostumar.

— Eu falei sério, Sofia — disse, baixinho, os olhos presos na minha boca com tanta intensidade que ela formigou. Respirar parecia ter se tornado impossível sob aquele olhar, então abri os lábios, forçando o ar a entrar, o que fez seus olhos ficarem ainda mais escuros. — Vou cuidar de você.

Encarando aqueles olhos azuis tão lindos, não tinha como duvidar.

Dan sorriu e percebi que estávamos ambos na ponta dos assentos, inclinados e próximos demais, completamente atrelados ao olhar um do outro.

Seu rosto estava tão perto que eu podia sentir o gosto da sua respiração e fechei os olhos, me curvando em sua direção, dizimando a distância entre nós. Prendi os dedos em seu cabelo macio e sua boca tocou a minha, me fazendo tremer, vibrar desejando mais daquele toque.

Um estrondo me arrancou daquele transe e me afastei primeiro, olhando para qualquer direção que não fosse o seu rosto.

Uma moto passando à toda velocidade na rua.

Meu Deus, o que eu estava pensando?

— É melhor entrar — eu disse baixinho tateando às cegas para abrir a porta e saltar do carro com o coração ameaçando sair pela boca.

Dan esperou até eu estar dentro do prédio para então dar partida no carro e fiquei observando o veículo imenso desaparecer nas ruas da cidade.

Subi para o terceiro andar devagar, com a cabeça girando. Ele queria ter me beijado ou eu que queria ter beijado ele? Nós teríamos nos beijado se aquela moto não tivesse passado. Levei a mão aos lábios que ainda formigavam e um risinho idiota deixou meus lábios.

Jesus Cristo, eu só poderia estar carente. Dan estava sendo mais ou menos legal comigo e eu já estava afim de dar uns beijos nele. Como faria para sustentar aquela farsa de namoro sem me apaixonar por ele?

Eu realmente deveria ter inventado que estava com o Marcos, do clube de matemática. Ele não era bonito e muito menos gentil, não tinha chances de eu cair naquela armadilha.

Mas, bom, aquele era Dan. Ele provavelmente só estava tirando onda com a minha cara.

Abri a porta o mais silenciosamente possível, embora tenha sido um gesto inútil: minha mãe estava acordada na penumbra, o rosto iluminado apenas por uma lâmpada de leitura, lançando uma composição interessante de luz e sombra sobre seu rosto.

— De quem era aquele carro? Por que você está fedendo a cigarro?

Afastei uma mecha do olho, o coração batendo acelerado no peito. Sequei a palma suada na coxa do jeans claro, embora não tivesse nenhum motivo para nervosismo além do seu tom glacial.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora