Otto

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Finalmente chegou o dia da reunião. Só estava esperando esse dia chegar para que eu pudesse ir embora. Claramente todos estavam nervosos desde que o dia começou e até o horário do jantar ficarão mais nervosos ainda. Os únicos que não estão preocupados e nem ansiosos sou eu e Felix, caso ele esteja, não aparenta.

Como hoje não estava fazendo tanto frio como os outros dias, os meus parentes resolveram fazer um grande banquete do lado de fora da casa – quando eu digo que "meus parentes resolveram fazer o banquete", eu quis dizer que eles deram a ideia e os empregados que fizeram o trabalho sujo. – Eu ficaria espantado se um deles entrassem na cozinha para fazer algo. Ficamos no quintal comendo, conversando e todos davam a sua opinião sobre o que o meu avô queria com todos reunidos. Félix disse que ele estava apenas com saudade da família reunida. Já eu não disse nada, pois eu não vinha aqui já faz cinco anos e não tenho o direito de opinar. Porém, eu acho que seja alguma cirurgia séria.

Quando eu cansei de ficar ali com eles, fui para um lugar distante. O Zeus apareceu e eu comecei a fazer carinho nele. O dia de hoje está fazendo jus a todos os dias frios, acho que eu mereço. Tomei coragem de levantar de onde eu estava e me joguei na piscina minutos depois. Fiquei apenas alguns minutos sozinho, pois aparentemente os meus familiares estavam apenas precisando de um incentivo. As crianças foram as primeiras a querem entrar e logo os seus pais. Obviamente essa era a minha saída.

Entrei em casa e fui direto para o meu quarto, molhando tudo por onde eu passava. Chego no quarto e me seco na medida do possível, pego uma roupa e vou para o banheiro. Tomo banho com água pelando, pois já estou acostumado, independente do clima. Coloco a roupa, escovo os dentes e deixo o meu cabelo molhado como sempre. Volto para o meu quarto e pego o celular. Celeste me manda a foto que eu pedi que ela tirasse na piscina e posto no Instagram.

@im_otto I want the world in my hands

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@im_otto I want the world in my hands.

Desci e por onde eu passei já está seco, um empregado passou e me olhou com uma cara fechada, provavelmente foi ele que limpou a minha sujeira. Vou para fora e fico mexendo no celular conversando com os meus amigos que estavam passando as férias em Singapura. Larguei o celular e comecei a observar meus parentes na piscina.

Estávamos todos na mesa, só esperávamos os empregados servirem a entrada. A tensão estava no ar e por conta disso havia apenas pequenas conversas paralelas. Todos os olhos estavam vidrados no meu avô, a espera do pronunciamento, mesmo ele dizendo que só falaria no final para não estragar o jantar. Parecia que os cozinheiros estavam demorando demais para fazer a comida. Parece até que ele mandou, só para que o mesmo pudesse passar mais tempo com a família.
Horas se passaram e finalmente chegamos ao final do jantar, os olhos continuaram vidrados meu avô. Agora é a hora.

– Como todos sabem, eu tenho um sério problema no coração. – ele começou a falar com uma fraqueza e minha mãe começou a chorar – E por causa disso, eu terei que fazer uma cirurgia. – o silêncio continua tomando conta do lugar – E a probabilidade de morte é muito alta.

Gostei do modo em que ele foi curto e objetivo, mesmo que tenha demorado horas para falar. Todos se entreolharam com seus semblantes assustados. Eu já imaginei que fosse algo do tipo. Ele nunca que chamaria a família toda apenas para dizer que estava com saudades. Sinto pena dele, mas pelo menos ele já viveu bastante.
Todos param de falar e vovô contínua falando com todos o encarando.

– Caso eu venha a perecer, todo o meu patrimônio acumulado irá para os meus netos – ele tosse – Meus filhos já tiraram muito de mim.

Nesse momento eu tenho certeza que ele está querendo arrumar briga com seus filhos, pois quando o assunto se trata de dinheiro, as pessoas são capazes de fazer tudo. Todos começam a falar ao mesmo tempo, a sala de jantar se formou uma batalha pelo patrimônio. "Isso é muito injusto"; "Ele está morrendo. Deixa de ser interesseiro!" Essas são umas das muitas frases que foram jogadas na discussão.

– Amor, para com isso! – a mulher do tio Ícaro gritou e virei minha atenção para eles – Por que você está com isso aqui?

Ele sacou uma arma de sua cintura e apontou para o vovô que pareceu não estar muito surpreso. Todos levantaram de seus assentos rapidamente e se afastaram na medida do possível. Começou a apontar sua arma para todos, para que ninguém se aproximasse dele.

– Por que você está fazendo isso? – a mulher dele perguntou enquanto ele apontava a arma para o pai dele.

– Abaixa essa arma, Ícaro! – meu avô ordenou.

– Você acha que eu sou idiota? – gritou – Eu fiquei cuidando de você todos esses anos atoa? –  balançou a arma – Você vai dar tudo que você tem para esses idiotas que não merecem? Você ficou maluco? – olhou para mim – Olha para o Otto! – Apontou sua arma para mim. – Ele não merece um real.

– Não ouse apontar essa arma para o meu filho! – pela primeira vez na vida a minha mãe me defendeu.

– Fica fora disso! – gritou – Você vai dar seu dinheiro pra esse maluco? Esse psicopata. Eu não vou deixar! – negou.

– Ícaro, abaixa essa arma! – minha mãe gritou.

– Adeus, menininho! – ele disse.

Minha mãe correu em direção a ele gritando, mas não deu tempo. Ele atirou.

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