Otto

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Passaram-se dois dias e o advogado do nosso avô finalmente resolveu aparecer. Estou reclamando da "demora", mas acho que aconteceu rápido demais; com certeza alguém da família colocou pressão – $$$ – para que isso acontecesse. Eu já estou doido para ir embora e a minha mãe falou que eu só iria após a leitura do testamento, coisa que eu não estou nem ligando.

Após uma manhã conturbada, ele reuniu todos na sala. Os empregados ficaram com as crianças para que elas não fizessem bagunça e os adultos se reuniram na sala.

Todos os urubus estão aqui na sala; isso vai da minha mãe até o tio Ícaro. A única dos filhos do meu avô que não apareceu no enterro e nem aqui na leitura é a Bárbara. Aparentemente eles tiveram um passado meio que obscuro.

– Leitura do testamento do Oswaldo Galvani! – o advogado anunciou na frente de todo mundo – Como executor, o Sr. Oswaldo me pediu que reunisse todos vocês para a distribuição de seus bens.

Ele começou pela minha vó e foi viajando pela família, pelo túnel do tempo. O advogado diz o quanto de capital ele deixou, o imóvel pelo número e não pelo lugar que se localiza, joias e tudo mais. Finalmente chegou aos netos; já estou pronto para ir pra casa quando ele terminar. 

– Para cada neto ele deixou meio milhão. Exceto para o Otto, que ficou com três milhões e meio. – eu arregalo os olhos. Eu era o neto preferido dele? 

– Por quê? – a Selena se exaltou.

– Filha, fica quieta! – o pai dela falou.

– Para as irmãs do Otto, ele deixou...

– Irmã! – Zara o corrigiu e ele a encarou.

– Irmãs. – diz em um tom mais ácido – Uma quantia de três milhões e meio.

– Que irmãs? – eu gritei.

– As suas duas irmãs que nós entraremos em contato o mais rápido possível. Assim que nós a localizarmos. – finalizou.

Levanto do sofá e fico encarando a minha mãe, depois encaro o meu pai e eles parecem estar mais chocados do que eu. Eu que nunca quero saber de nada tenho tantas perguntas em minha mente, mas no momento não consigo formular uma palavra se quer. Alguém segura a minha mão e eu reparo que é a Zara; a minha única irmã. A duvida começa a se transformar em raiva e eu fecho a minha outra mão com força.

– Me digam que porra é essa que ele está falando? – perguntou olhando hora para a minha mãe e hora para o meu pai. Os dois que já estavam quietos, assim continuaram.

– Menino, senta! – o advogado volta a falar com o tom acido dele – Eu ainda não terminei.

– Senta filho, depois nós conversamos! – minha mãe finalmente consegue dizer com uma voz trêmula. 

Eu sento, ainda segurando a mão da Zara e morrendo de vontade de ir embora.

– O imóvel de número um é legado a Otto. – ele continua – Assim como o veículo de numero três.
– Ele ainda ganha uma casa e um carro? – Félix diz parecendo tão confuso quanto eu.
– Que imóvel é esse? – tio Ícaro pergunta.

– O que estamos nesse exato momento. – ele responde.

Todo mundo começa a falar ao mesmo tempo e não da para entender nada e eu também não quero. Acaba que eu estou preso dentro do meu próprio universo, dentro de minha cabeça e está tudo confuso agora. Como assim eu tenho duas irmãs? Meus pais as entregaram para a adoção? Eu sou adotado? Por que o meu avô me deixou essa casa? Qual o motivo de eu ter ficado com um carro também? Por que isso está acontecendo comigo? Muitas perguntas e nenhuma resposta.

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