Lis

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Estava trabalhando no caixa quando vejo um casal que eu conheço bem, não mudaram nada apenas envelheceram, eles vão ao caixa do lado do meu, travei legal.
-Menina- a senhora que eu estava atendendo me chamou
-Me desculpa- falei rápido e fui terminar a compra dela
-Mãe- uma mina gritou, olhei e vi o casal pegar algo com ela- To indo na Melissa
-Tá bom, já te encontramos- escutava tudo enquanto passava as coisas de uma mulher
Ele olhou pra mim rápido e voltou a olhar a mulher. Eles não me reconheceriam, foi quando eu era criança, e eu mudei bastante, cresci na verdade. Observei eles saindo, igual um casal feliz que nunca sofreram nada na vida. Como ela conseguiu ficar com ele depois do que ele fez comigo? Ele foi preso ou não? Se sim, pegou quantos anos? Queria ter as respostas dessas perguntas, mas é meio que impossível.
Ainda estava travada, parecendo um robô, só passava as coisas das pessoas sem estar ligada ao que estava acontecendo. Tirei meu horário, fui pro banheiro e desabei em uma das cabines, devo ter ficado uns dez minutos chorando. Batiam na porta preocupadas, mas dizia que estava tudo bem.
Sai e me olhei no espelho, cara inchada e olhos vermelhos. E de sobra uma dor de cabeça. Comprei lanche no MC e comi rápido. Voltei pra loja e fiquei com isso na cabeça até o fim do expediente.
Rayane me chamou pra quadra da Unidos da Tijuca, mas fiquei desanimada, porém isso estava marcando com ela a um século. Felipe me buscou no metrô da Tijuca e me levou até a casa deles. Me arrumei rapidinho e a Rayane me copiou no look.
-Qual foi? Tá bem longe tu- Felipe falou enquanto íamos pegar o elevador
-To suave- forcei um sorriso
Até minha tia vai, entramos no carro e logo estávamos na quadra. Pegamos um camarote já que estávamos em muitas pessoas. Eu e Ray compramos um boné, já colocamos na cabeça e aproveitamos pra tirar foto.
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@lissantana Tem loucura que combina🤪

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@lissantana Tem loucura que combina🤪

Tentava me distrair, porém era em vão, a imagem deles não saia da minha cabeça. Nem a cerveja que estava bebendo estava fazendo efeito. Odeio esses momentos curtos, que dá pra contar os minutos nos dedos, que mudam o nosso dia, talvez semana. Vou tentar de tudo pra que essa imagem deles saia logo da minha cabeça. Tenho que focar em algo, ficar com a cabeça cheia e não ter tempo pra pensar.
-Ah não Lis- Ray me puxou- Vem sambar
Neguei rindo, mas era isso que eu precisava fazer logo, parar de pensar e distrair. Enchi meu copo de cerveja e fui dançar com ela.
Já estava morta de cansada e eles animados, não trabalham em pé em shopping ai é fácil. Comprei um cachorro quente já que a fome estava monstra.
Mandei mensagem pro Murilo perguntando se ele podia me buscar. Deu de preguiçoso como sempre, depois de muita insistência e prometer que iria dormir com ele, falou que viria. Mas como ia demorar pra ele chegar, enchi meu copo de cerveja e fui dançar com o Felipe.
-Assim que eu gosto de tu- falou baixinho no meu ouvido, arrepiei e sorri- Tá arrepiada?
-To não, tá vendo coisas- gargalhou
-Ah tá po- me agarrou por trás e ficou balançando junto comigo
Tempo depois Murilo me ligou, me despedi deles e Felipe saiu comigo pra pegar minha mochila que estava no carro dele. Murilo falou com ele, subi na garupa e ele deu partida. Chegamos na casa dele e eu me taquei na cama.
-Tá cansadinha?- deu um tapa na minha coxa
-Faz massagem no meu pé- deu dois tapas em cada pé
-Pronto, vai tomar banho, tá fedendo- me puxou
-Para de graça Murilo- chutei ele- To cheirosa
-Vai lá ficar mais- me irritei e fui, queria um banho quentinho mesmo antes de dormir
Mandei mensagem pros meus pais avisando onde estava. Murilo estava deitado jogando no celular, coloquei a toalha atrás da porta e me joguei em cima dele.
-Caralho- murmurou- Já te falei que tu tá gorda
-Gorda tá teu cu- riu- Sai do celular
-Espera acabar essa partida aqui- puxei o celular da mão dele e desliguei- Caô- pegou da minha mão, comecei a rir- Mancada
-Quero atenção meu bem- dei um selinho nele
-Sabe esperar não?- falou grosso, deitei a cabeça no peito dele
Ele ligou o celular e voltou a jogar, continuei deitada quietinha em cima dele. Estava dentro daquele pequeno quarto de novo, lembro da minha boneca preferida, a única, de pano, uma princesa loira. Ela sempre estava comigo enquanto eu dormia, ficava abraçada. E mais uma vez ele entra. Consigo me lembrar de vários dias diferentes e em todos quando eu vou gritar ele tampa minha boca.
-Lis- Murilo me abraçou, novamente estava chorando desesperadamente, sentindo uma dor inexplicável- Foi só um pesadelo
Queria colocar isso na minha cabeça, que só foi um pesadelo, mas não consigo enquanto eu ainda sinto dor. Depois de uns minutos consegui me controlar, abri os olhos e já era de manhã. Fui no banheiro e voltei, Murilo estava mexendo no celular com cara de sono, deitei do lado dele que logo bloqueou o celular e me abraçou.
O abraço do Murilo é um lugar de paz e conforto pra mim, se pudesse eu viveria nos braços dele, mas sei que ele não sente o mesmo por mim. Consegui voltar a dormir, com o Murilo já tive "esses pesadelos" algumas vezes e toda vez consigo voltar a dormir. Mas é só quando estou com ele, em casa eu perco o sono e no dia que tive com o Fê também não consegui.
Acordei com o celular despertando, coloquei um short e continuei com a blusa do Murilo. Deixei ele dormindo e fui pra casa, meus pais já não estavam em casa. Assim que cheguei Gael saiu pra escolinha de futebol. Arrumei a casa, fiz almoço e deitei na cama que o Vinicius estava vendo desenho no celular. Fiquei agarradinha com ele.
Como trabalho sempre, quando estou em casa tento dar atenção pra eles. Tomei banho e me arrumei pro trabalho. Esperei o Gael voltar do futebol pra sair de casa. Ele demorou um pouco mais hoje.
Abri a porta de casa e deu dois tiros, pensei que só iria ser isso até ver um mlk passar correndo segurando um fuzil. Logo em seguida começou um tiroteio e fogos avisando a invasão. Ótimo. Horário de almoço eles trocando tiro. Tranquei e sentei no sofá pra esperar passar. Meu celular começou a tocar, Murilo.
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-Coé loira, tá aonde?- falou rápido e ofegante
-Em casa- senti a respiração dele ficar mais leve- Na hora que ia sair começou
-É os cana, deve ser rápido
-Mas eu tenho que trabalhar, posso faltar não- Vinicius veio e sentou do meu lado
-Não sai até saber que está tudo suave- respirei fundo
-Jae, beijo
-Valeu
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-Tá com fome?- apertei as bochechas dele que assentiu
Mandei mensagem no grupo do trabalho avisando sobre o tiroteio e que iria assim que pudesse. Entrei como jovem aprendiz e assim que terminei os estudos fui efetivada e fiquei em horário integral. Coloquei comida pro Vinicius e pra mim também. Ele comeu tudo quietinho, assim que terminou foi pra sala. Lavei a louça, escovei os dentes e fui ver se ele estava com febre.
Ele não é de ficar assim quieto demais. Coloquei o termômetro nele e esperei apitar. 38 graus. Dei um banho gelado nele e coloquei uma roupa fresca pra não abafar e ele ficar mais quente, dei remédio e ele ficou deitado vendo desenho. Mandei mensagem pra minha mãe. Ela logo voltaria, então fiquei mais tranquila.
-Posso jogar?- Gael perguntou
-Ele está vendo desenho- falei sem olhar pra ele
-Mas ele já viu muito, agora é minha vez- olhei pra ele com um olhar matador- Ah Lis, só um pouco
-Vini está dodói, deixa ele ver o desenho
-Merda- falou baixo, porém escutei
-Repete- me olhou com os olhos arregalados- Repete Gael- negou e baixou a cabeça- Não está falando com seus amiguinhos não ein
-Desculpa- falou e foi pro quarto
Os tiros deram uma pausa. Verifiquei a temperatura dele, peguei minha bolsa e fui trabalhar. Cheio de Polícia no início do morro. Cheguei um pouco atrasada, gerente ficou de cara feia. Posso fazer nada meu amor. 

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