Otto

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Os meus parentes que me olhavam com cara feia o dia inteiro agora tinham motivo. Sim, eu me tornei a ovelha negra da família depois do jantar de ontem e eu não ligo para isso. Minha mãe me deu uma lição de moral hoje mais cedo – pelo menos ela acha que deu, já que entrou tudo por um ouvido e saiu pelo outro – enfim, me obrigou a pedir desculpas para o meu avô e obviamente eu não fiz isso. Além disso tudo, o Félix me contou que a Bárbara também teve um desentendimento com o meu avô e depois foi embora. Ao menos eu não fui o único.

Hoje eu cheguei a decisão de que não aguento ficar mais nem um dia aqui, quem dirá uma semana junto com a minha mãe. Então, durante o sermão eu disse que iria embora e ela concordou, pois segundo ela seria bom eu passar um tempo com o meu pai.
Após estar tudo pronto, coloco o Zeus no carro e partiu casa.

Chego em frente ao meu prédio e estou exausto da viajem, tiro o Zeus do carro e os empregados fariam os resto. O porteiro me diz boa tarde e eu passo direto, clico no botão do elevador e logo ele chega. Entro com uma senhora e fico na frente para ela não puxar assunto comigo. Assim que chego ao último andar, liberto o Zeus da casinha. Ele corre para conhecer a casa nova. Escuto um grito e vou andando calmamente para saber o que aconteceu.

– O quê? Como você chegou aqui? – a Graça estava olhando para baixo falando com o Zeus.

– Esse é o meu dog! – ele vem correndo em minha direção, eu abaixo e faço carinho nele – Zeus!

– Seus pais deram permissão?

– Desde quando eu preciso da permissão de alguém? – ela dá de ombros – Cadê o meu pai?

– Está no escritório dele! – levanto e a encaro – Ele pediu para te informar que assim que você chegasse era para ir falar com ele. – arqueei a sobrancelha.

Dou a meia volta e não falo nada. Ao passar pela sala reparo que todas as minhas coisas já estão aqui, pelo menos o pessoal daqui é rápido. Vou em direção ao escritório do meu pai e esbarro com um empregado. Ordeno que ele pegue as minhas coisas e ponha no meu quarto.
Chego em frente ao escritório e abro a porta. Dois segundos depois me pergunto se devia ter batido, mas já é tarde demais. Ele está mexendo no notebook. Ele levanta assim que bate os olhos em mim. Eu entro e sento na cadeira à sua frente.

– O que o senhor quer comigo?

– Primeiramente, como você está? – ele pergunta sentando novamente.

– Exausto! – bufei – O que você quer?

– Eu queria te chamar para lanchar comigo hoje. – ele diz arrumando alguns papéis – Mas não será possível! Tive um imprevisto.

– Sempre! – reviro os olhos.

– Então, o que você acha de sairmos para jantar?

– Que seja! – dou de ombros.

– Ok. Esteja pronto as nove! – ele bate no meu ombro – Tenho que sair agora.

Ele saiu do escritório e fechou a porta. Eu levanto e saio logo em seguida. Vou procurar o Zeus e ele já estava dormindo no tapete da sala, vou na cozinha e aviso para os três empregados que iria dormir, e que caso o Zeus fique arranhando a minha porta é para abrir.
Deito na cama e apago logo em seguida.

Acordo com o despertador e o desligo. Viro para o outro lado e fecho os olhos de novo, eu sei que não posso voltar a dormir, porém é inevitável.

Acordo com algo subindo em mim e levo um susto. O afasto e logo Zeus começa a chiar. O puxo para mais perto e começo a fazer carinho.
O relógio apontava às oito e meia. Hora de levantar.
Não demorou muito para eu estar vestindo uma blusa preta, calça da mesma cor e o meu casaco preferido da Fila; escolho um tênis branco, coloco alguns acessórios, taco perfume e já estou pronto.

Pego o meu celular e havia uma mensagem do meu pai avisando que está vindo. Lembrei agora que esqueci completamente de comprar um presente para Isabela, então peço para que ele compre para mim e ele responde com um "Ok!".

Saio do meu quarto. Ao chegar na sala, vejo Graça ajoelhada no tapete limpando-o, com o Zeus ao seu lado. Pelo visto ele aprontou.

– Esse monstrinho fez xixi no tapete! – ela diz com um tom de raiva enquanto me encara.

– Legal! E o que você quer que eu faça?

– Ensine ele a fazer xixi no lugar certo. – eu ri.

– De um banho nele, ok! –digo ajeitando o meu relógio no pulso.

– Eu não sou paga para isso! – ela reclama.

– Você é paga para limpar o meu cu se eu quiser. Então, faça o que eu mando sem reclamar! – aumento o meu tom de voz e ela olha para baixo.

Recebo a mensagem do meu pai dizendo que já está lá embaixo, me despeço do Zeus e desço. Seu carro está parado em frente à entrada do prédio e eu entro. Não faço a mínima ideia para onde estamos indo e não tive a vontade de perguntar. Ligo o rádio e coloco em qualquer estação que não estivesse tocando funk, para que o silêncio não tomasse conta do lugar. Não demorou muito e chegamos a um restaurante. O recepcionista nos levou até a nossa mesa e nós fizemos o nosso pedido.

– Então quer dizer que você não sabe qual profissão seguir? – meu pai diz olhando nos meu olhos.

Eu só queria estar olhando para o celular, só para não ter que ver aqueles olhos cinza ameaçadores, parecia que ele iria me atacar a qualquer momento. E a única coisa que eu posso fazer é ser mais frio que ele.

– Você não me chamou aqui para me estressar com esse assunto sobre faculdade, right? – fecho a cara – Certo? – silêncio – Caso sim, eu vou embora agora.

– Não te trouxe aqui para te estressar, apenas quero conversar sobre o seu futuro.

– Por que você não se preocupa com o seu futuro? – pergunto apontando o dedo para ele – Deixa eu cuidar do meu!

– Você é o meu futuro. Você vai continuar com o legado da família. –disse seco e grosso.

– Que legado? – eu ri balançando a cabeça. – Use a Zara. Faça o que você quiser com ela e com o seu "legado", mas me deixe fora disso. Ok?

A comida chega e o garçom acaba interrompendo a nossa discussão. Esse negócio de discutir por causa de carreira mal começou e já estava me deixando maluco. O momento deles de planejar o meu futuro já passou, agora eu estou com ele em minhas mãos e ninguém vai tirá-lo de mim.

Quando eu estava prestes a pegar um pouco de comida, o meu pai tira uma foto minha. Ele nem tirou o flash para disfarçar melhor. Eu olho para a câmera e não faço ideia de como ficou. O encaro de cara fechada.

– Sua mãe pediu! – ele dá de ombros.

– Eu posso see it antes de você mandar, pelo menos?

– Você tem que parar de misturar as duas língua. – diz virando o celular para que eu visse a foto – Parece um idiota querendo aparecer.

– Até parece que eu faço de propósito. – reviro os olhos.
A foto está até que "Ok". Peço para ele me passar e começo a comer.

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