Otto

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Os dias estão passando tão rápido que eu mal posso acompanhar. Aproveitei esses dias para ir à praia, em vários restaurantes, shoppings e em outros lugares. Como sempre, hoje não havia nada para fazer em casa, então eu estava me arrumando para ir à praia, novamente. A Zara que deveria estar aqui, não está. Foi viajar para outros lugares com o namorado e só retorna semana que vem. Enquanto isso, eu fico criando cronogramas chatos para não morrer entediado.
Estava colocando uma camisa quando a minha mãe entra no quarto.

– Arruma suas malas. Vamos visitar o seu avô! – ela diz fechando a porta.

– Ei?! – grito – E quem disse que eu quero?

– Ele quer fazer uma reunião com a família, deve ser algo importante. – ela já ia fechando a porta – arruma suas coisas.

Ótimo! Existe coisa melhor do que reunião de família? Não faz nem tanto tempo que eu os vi e agora vou ter que ver de novo.
Como eu já tinha tomado banho, só precisei trocar de roupa. Fiz a minha mala sem vontade nenhuma, nem sabia quanto tempo eu ficaria lá, mas coloquei roupa suficiente. Minha mãe apareceu no quarto e me apressou. Disse a ela que iria comer e ela ficou vermelha como um pimentão. Até parece que a reunião será hoje, até todo mundo chegar vai demorar, dependendo de quem seja esse "todo mundo". Levo minha mala para a sala e vou direto para a cozinha comer alguma coisa. A empregada prepara rapidamente panquecas e um suco de laranja. Comi com a minha mãe me apressando, mas eu nem ligava pra ela. Terminei de comer e voltei para o meu quarto, escovei os dentes e passei fio dental. Guardei tudo na nécessaire e guardo a mesma na mochila que estava em cima da mala.

– Estou pronto! – digo.

– Finalmente! – ela diz levantando do sofá estressada.

– O pai vai nos encontrar lá?

– Não, ele não vai.

Eu já sabia o motivo, trabalho, como sempre. Descemos o prédio e o manobrista foi pegar o carro. Estava muito calor e o sol estava incomodando os meus olhos, então resolvi colocar o meu óculos de sol. Olhei para minha mãe e dava para ver o nervosismo em seus olhos, não vou falar que consigo ler sua mente, pois não cheguei a esse ponto. Eu nem faço ideia do que ela estava pensando, eu nunca me preocupei com o meu pai do jeito que ela se preocupa com o dela. A mão dela tremia, às vezes e eu não podia deixar ela dirigir de jeito nenhum. O manobrista chega e saí do carro. Quando ele estava prestes a entregar a chave para minha mãe, eu a peguei.

– Você está muito nervosa para dirigir. – coloco as mãos em seus ombros – Deixa comigo!

– Não! – ela disse aterrorizada – Você não sabe dirigir.

– É claro que eu sei! – abro a porta do carro e sento, colocando o sinto logo em seguida.

Ela parecia mais aterrorizada ainda, pois vai ter que confiar em mim, o que deve ser péssimo, pois eu não ligo pra nada e não confio em ninguém. O manobrista coloca as malas no carro e minha mãe agradece dando uma gorjeta para ele. Logo depois ela entra no carro e faz o mesmo que eu.

– Pronta? – olho para ela.
Ela apenas da de ombros.

Dei partida e minha mãe soltou um gritinho. Balancei a cabeça e liguei o rádio no baixo. Já estávamos no meio da viagem e minha mãe não parava de mexer no celular, mandava mensagem e ligava para todo mundo. Ela perguntava se as pessoas estavam indo e se alguém sabia de alguma coisa, mas ninguém sabia de nada. Todos estão no escuro.
Agora vou falar um pouco do meu avô.

Ele não é o tipo de pessoa boa e nem ruim, ele costumava ficar no meio dessas duas opções. E é por isso que toda a família só o visita quando ele liga dizendo que precisa se encontrar com todos. Daí vem milhões de pensamentos na cabeça e todos já pensam que ele está morrendo e respectivamente pensam em sua fortuna/herança. Coisa que eu estou cagando.
Meu avô e minha avó se separam há anos atrás e ninguém faz ideia do motivo. Mas surgiram algumas "teorias". Pelo que eu soube, os meus parentes tentam conversar com eles até hoje sobre esse assunto, para tentar entender. Porém, eles não falam sobre. A única coisa que eles falam é "Nós ainda nos amamos muito".

Eu acho que o meu vô pensa muito, pensava, em trabalhar e minha vó só queria passar mais tempo com ele. Depois que ela viu que não seria possível, a sua única opção foi pedir o divórcio.
E após tudo isso, mesmo meu avô sendo milionário, podendo morar em qualquer lugar do mundo, ele se recusa a sair da casa em que ele e minha avó construíram juntos em Petrópolis. Pelo menos o velho não perdeu sua humanidade por completo.
Já estávamos quase chegando quando minha mãe lembrou que eu estou no carro.

– Quando foi que você cresceu tanto? – ela passa a mão no meu rosto e eu o sacudo para que ela parasse – Quando você aprendeu a dirigir?

– Ano retrasado, i think... – fiquei tentando lembrar – Acho que foi isso mesmo.

– Eu sinto que perdi tanto mandando você para o internato. – ela diz quase choramingando.

– E perdeu mesmo! – olho para ela – A lot!

– Não faça eu me sentir pior do que já estou! – limpa uma lágrima.

– Não precisa chorar. Apenas aceite a realidade e siga em frente.

– Pelo menos vou poder passar um ano ao seu lado. – ela toca no meu cabelo.

– É ai que você se engana! – digo em um tom frio.

– Como assim?

– Não pretendo ficar muito no Brasil. Daqui a pouco já vou preparar minha ida para outro lugar.

– Eu não permito! – eu ri – Eu não vou perder você de novo. Agora que eu te resgatei, você não vai sair tão cedo do meu lado.

– O que você chama de resgate, eu chamo de suborno. – queria dizer olhando nos olhos dela, mas não podia tirar os olhos da estrada – Vocês me obrigaram a voltar. Se fosse por mim, eu nem estaria aqui. E digo mais. Você nunca me resgatou. Você só me perdeu. – silêncio.

– Só fique mais um pouco! – ela implorou.

– Não força.

Finalmente chegamos. Eles liberam o portão e eu entro com o carro. Já havia alguns carros estacionados lá. Pelo visto vários parentes já estão por aqui. Quando eu estaciono vejo Félix correndo atrás de um garotinho, deve ser o irmão dele. Não fiquei surpreso por vê-lo aqui, só queria que ele não tivesse vindo. Espero que Selena não tenha vindo também, pois ninguém suporta os dois juntos.
Saímos do carro e logo aparecem dois empregados. Entreguei a chave e eles abriram o parta malas para pegar as bagagens.

– Félix! – minha mãe diz acenando.

Ele olha para ela e da um sorriso, depois vira um pouco e me encara fazendo continência. Mandei dedo do meio para ele. Entramos na casa e demos de cara com uma mulher que eu nunca vi na minha vida.

– Bárbara?! – minha mãe parecia surpresa – Eu não sabia que você tinha voltado.

– Surpresa! – ela diz abraçando minha mãe.

Quem é essa mulher que eu nunca vi na minha vida? Não interessa. Minha mãe parecia pálida, mas estava feliz. Tento sair de fininho para ela não ter que me apresentar.

– Esse é o meu filho, Otto! – minha mãe me puxa.

– Ué, mas eu pensei...

– Pensou errado! – minha mãe a interrompeu e falou um pouco alto – E eu tenho outra que se chama Zara – a mulher me pareceu muito surpresa.

– Prazer em conhecê-lo! – ela estende a mão – sou Bárbara, sua tia!

– Meu nome você já sabe! – ela ri e eu aperto a mão dela.

– Onde está sua filha? – Bárbara perguntou.

– Ela não pode vir. Foi viajar com o namorado. – ela assentiu.

– Que pena! – sorriu de boca fechada – Então, eu estou de saída. – ela põe a mão no ombro da minha mãe – Amanhã eu volto para a reunião.

– Ah! Você não vai ficar aqui?

– Não! – ela balança a cabeça – Mas vamos sair qualquer dia desses?

– Claro! Eu adoraria!

– Até mais, Otto! – ela sorri.

Ela passa por nós e saí da casa. Eu achei esse encontro bem estranho, eu nem sabia que meus avós tiveram quatro filhos, eu só sabia de três. Se essa história me deixasse interessado, eu perguntaria para a minha mãe o motivo de um nunca ter a conhecido, mas eu não ligo.
A casa parecia estar vazia, não escutava um barulho se quer, nem mesmo da televisão, deve ser porque a casa é gigante. Antes de caçar o pessoal que estava espalhado pela casa, tínhamos que ir ao quarto do meu avô e falar com ele. Subimos a escada e andamos pelo corredor comprido. O quarto do meu avô é o último do corredor principal. A porta estava fechada, minha mãe bate e abre logo em seguida. Tio Ícaro está conversando com o meu avô, que quando nos vê abre um sorriso. Tio Ícaro está sentado em uma poltrona perto dele. Ao encará-lo direito, percebi que ele estava respirando com a ajuda de aparelhos, agora parece que ele está com algo sério. Minha mãe se aproxima, fala com o meu tio e depois com o meu avô. Eu faço o mesmo e sento na cama.

– Eu fiquei muito feliz quando me disseram que você viria! – meu avô diz com uma voz fraca.

– Eu fui obrigado! – digo olhando para ele e depois virei para minha mãe.
Meu vô começou a rir e logo a tossir.

– Pai, não faça força – diz Tio Ícaro – Não faça seu avô rir! – ele me repreende.

Eu revirei os olhos. Fiquei com vontade de mandar ele ir se foder, mas seguirei para não ter que ficar ouvindo sermão da minha mãe o dia inteiro. Eu só quero levantar e sair daqui, pois é assim que eu resolvo os meus problemas. Porém, eu não faltaria com respeito com o meu avô, então eu continuei sentado. Quando eu ia falar algo, meu avô fala primeiro.

– Não culpe o menino, ele não tem nada a ver com isso!

– Fique despreocupado, pai – minha mãe entrou na conversa – ele se acha o dono da razão. Ele nunca está errado. – olhei para sua cara e ela deu de ombros.

– Fico feliz que você tenha crescido – ele tosse – e se tornado esse homem com personalidade forte. E você fez isso sozinho!

– Não precisa jogar isso na minha cara! – minha mãe fuzila o meu avô.

Ele olhou para ela e ficaram alguns segundos sem falar nada, apenas a encarava. Pelo visto ele não gostou muito do que ela e meu pai fizeram comigo. Eu não fazia a mínima ideia se minha mãe iria discutir com o meu avô mesmo ele estando naquele estado, caso isso aconteça, eu não quero vê-lo morrer na minha frente. Peço licença apenas para o meu avô e saio do quarto, fechando a porta logo em seguida.
Escuto a porta abrindo, quando olho para trás tio Ícaro estava vindo em minha direção.

– Otto, espera!

Eu paro, respiro e viro para trás. Ele estava coçando a cabeça como se estivesse procurando as palavras. Fico encarando-o sério.

– Me perdoe pelo modo em que eu falei com você lá dentro – ele põe as mãos na cintura e inspira fundo – eu estou muito nervoso!

– Sei bem o motivo do seu nervosismo! – ele me olha estranho – Você só quer se certificar que receberá a sua parte da herança. Se é que vai receber algo.

Não espero ele falar e viro novamente. Pela sua cara, ele não esperava por essa. Provavelmente ele estava esperando o que todo o sobrinho falaria "Não tem problema tio" ou "Eu sei pelo que você está passando, fique tranquilo!", mas comigo não é assim, eu não sou qualquer sobrinho ou qualquer filho.

Desço as escadas e começo a ouvir barulho vindo da varanda, parece que a minha família acordou e eu não estava com a mínima vontade de me juntar a eles. Procuro algum empregado e peço a chave do carro, ele me entrega e eu vou até onde eu havia estacionado. Entro no carro e Félix entra logo em seguida.

– Aonde vamos? – ele pergunta colocando o sinto.

– Eu vou dar uma volta e você vai sair do carro. – disse sem paciência.

– Para de graça! – ele da um tapa no meu ombro – Essas reuniões de família são um saco.

– Por que você não vai procurar a Selena e me deixa em paz?

– Ela não veio! – comemorei por dentro.

– Sorte minha! – sorri de boca fechada – Agora, sai do carro!

– Eu vou ficar quieto, eu prometo.

Revirei os olhos e dei partida. Discutir com o Félix é o mesmo que discutir com uma criança, não vale a pena. Ele liga o Bluetooth, coloca uma música e fica balançando a cabeça no ritmo da música. Começo a andar sem rumo, pois desde quando eu sai não tinha um plano. Às vezes eu andava em círculos e não percebia. Olho para todos os lados a procura de um restaurante, pois a fome tinha chego e minha barriga começou a roncar.

– Você está perdido? – Félix abriu a boca.

– Você prometeu ficar quieto. Quer que eu te largue em qualquer lugar e vá pra casa? – pergunto sério.

– Você não seria capaz!
Eu ri.

– Tá, seria sim! – ele deu uma pausa – É que eu conheço uma pizzaria muito boa e é aqui perto.

– Põe no GPS.

"Pelo menos tem estacionamento", foi a primeira coisa que eu pensei quando cheguei. Pois a maioria dos locais aqui não tem um lugar específico para estacionar, então geralmente eu estaciono em qualquer lugar e torço para não ser rebocado. O estacionamento era ao lado estabelecimento. Estacionei e saímos do carro. Nós tínhamos duas opções, sentar na área interna ou externa, puxei uma cadeira e sentei aqui do lado de fora mesmo.

– Cara, aqui tá frio. Vamos lá pra dentro!

– Você pode ir sentar lá dentro ou ir embora. – Digo, enquanto ajeitava a camisa – Faz o que você preferir. – O encarei e pisquei um olho.
Félix bufou, puxou a cadeira e sentou.

O cardápio já está em cima da mesa, pego e começo a analisá-lo para ver o que eu iria pedir. Não demora muito para um garçom chegar. Peço uma pizza metade camarão e outra metade Margherita, acompanhadas de um suco de uva e uma Coca-Cola zero. Ele saiu. O Félix bloqueia o celular, colocando-o em cima da mesa e me encara logo em seguida.

– Posso te fazer uma pergunta?

– Se for igual a anterior, não! – digo sendo ignorante.

– Não tem nada a ver. – Negou – Eu fui muito insensível daquela vez – ele deu um sorrisinho. Não me parecia que ele se arrependeu de algo – me perdoa?

– Fala logo!

– Por que você é muito frio? – ele franziu a testa – Alguns parentes nossos nem querem conversar com você, acho que eles têm medo – acrescentou.

– É porque na Europa faz muito frio!

Ele virou a cara e depois começou a rir, pelo visto não havia entendido a piada rapidamente. Ele não insistiu em uma resposta séria, parecia ter ficado satisfeito com aquela. Foi meio engraçado saber que os meus parentes "fogem" de mim, sendo que eu faço de tudo para "fugir" deles e agora eu não precisarei fazer mais isso, só preciso responder todos com ignorância, ou seja, ser eu mesmo. Nossa pizza chega e começamos a comer. A pizza era boa, mas nada se compara com as pizzas da Itália, eu não faço a mínima ideia de como eles fazem a pizza lá, são tão boas, que você sente a necessidade de comer toda hora. Acho que eu tenho que parar de comparar as comidas, senão eu não gostarei de nada.

Terminamos de comer e continuamos sentados descansando. Peguei o celular para responder as mensagens e respondi praticamente todas, menos uma, a da minha mãe. Ela me perguntou onde eu estava e apenas ignorei porque durante anos ela não perguntava isso, mal me ligava e agora quer da uma de "Super Mãe"?! Comigo não. Bloqueio o celular e guardo no bolso, estava pronto para ir.

– Alguém segura ele! – uma mulher grita e eu olho para trás.

A mulher estava passeando com alguns cachorros e um deles havia se soltado, e estava correndo em minha direção. Eu o segurei e comecei a fazer carinho.

– Aonde você pensa que vai, amiguinho? – digo fazendo cafuné.

Percebi que do lado esquerdo, perto da cabeça dele havia uma cicatriz. E mais para trás haviam alguns ferimentos, estão maltratando esse cachorro? Levanto e pego a coleira dele para que não fugisse.

– Muito obrigada! – ela respira com dificuldades – eu já pensei que perderia meu emprego.

– Que ferimentos são esses no cachorro? – pergunto encarando-a olho a olho.

– Ele é fu-fujão, toda hora se arranha em algum lu-lugar – ela gagueja.

– Por que você gaguejou?

– Eu estou nervosa! – os cachorros começaram a ficarem agitados e ela da um grito.

– Eu estou te deixando nervosa? – Fixei meus olhos no dela.

– Cara, devolve logo o cachorro e vamos! – disse Félix impaciente.

– Isso! – ela sorriu e aparentava estar nervosa – Você poderia devolvê-lo para mim?

– Vocês maltratam esse cachorro, não é?

– N-Não, nós nunca faríamos i-isso!

– Então você não vai se importar se eu ligar para a polícia e denunciar o seu estabelecimento.

Ela fica quieta e olha para o céu, parecia que iria chorar. Eu não estava acreditando que eles estão maltratando cachorros, se fossem humanos até entenderia.

– Vamos fazer assim... – ela olha para minha cara com lágrimas nos olhos – Eu fico com esse cachorro e como presente para vocês, eu não denuncio o estabelecimento.

Ela balança a cabeça concordando. Não faço a mínima ideia do que vão fazer quando ela voltar com um cachorro a menos, mas também não ligo, logo eles irão fechar. A moça estava se virando quando eu chamei sua atenção novamente.

– A propósito, qual o sexo?

– Macho! – ela começa a andar rápido e grita sem olhar para trás.

Viro e olho para o Félix. Ele estava sem reação, apenas me olhava e olhava para a mulher indo embora com um cachorro a menos. Entrego a coleira pra ele, entro na pizzaria, pago rapidinho e volto. Olho para o cachorro e ele tinha muita cara de Zeus, parecia ser forte, então esse seria o nome dele. Pego o Zeus no coloco e vou em direção ao carro.

– Não acredito que você vai deixar eles se safarem – Félix fala andando junto comigo – o que aconteceu com esse, pode acontecer com os outros.

– Eu sei! – respondi seco – por isso eu vou denunciar o Pet shop assim que chegar em casa.

Abri a porta traseira do carro e coloquei o Zeus lá, depois abri a porta da frente, entrei e sentei. Dei partida no carro. A promessa do Félix continuava. As vezes eu olhava para o espelho retrovisor para ver o cachorro e para o lado para ver o que o Félix estava fazendo, não era possível ele estar tão quieto.

– Como você sabia que ela estava mentindo? – ele pergunta estragando a minha paz.

– A pergunta é: como você não sabia?

– Não sei! – dei de ombros – acho que não prestei atenção nos detalhes.

– Sério?! – Revirei os olhos, negando com a cabeça com tamanha desatenção dele aos sinais básicos de uma mentirosa.

– Você vai direto pra casa do meu avô? – assenti – Não tem que comprar coisas para o cachorro?

– Verdade! Havia me esquecido.

Pego o celular e escolho no GPS o Pet shop mais perto.
Chegando ao Pet shop, eu deixei o Félix e o Zeus no carro, eles não precisavam vir, pois seria rapidinho. Pedi para a atendente separar tudo para cachorro, de ração até caixa de transporte, os melhores produtos, óbvio. Ela fez tudo rapidamente, levou até o caixa, paguei e depois ela me ajudou a levar tudo para o carro.

– Você não acha que exagerou? – diz Félix assim que eu entro no carro.

– Nunca é demais!

Dei partida e seguimos para casa. Parei no portão e eles liberaram. Descemos do carro, abro a porta de trás e o Zeus desce. Não demorou muito e as crianças vieram correndo e gritando "cachorrinho". Ele correu para cima delas e as crianças começaram a rir.

– Que barulheira é essa? – minha mãe aparece com uma taça de vinho na mão – Ai Meu Deus!

Como esse cachorro entrou aqui? – ela estava assustada – Félix, pega seu irmão. Esse pulguento pode transmitir doenças.

– Celeste! – chamei sua atenção – Esse cachorro é meu!

– O quê? – sibilou – Você saiu por meia hora e volta com um cachorro? Isso não existe.

– Para de me controlhar! – respirei fundo.

– Controlar! – Félix me corrigiu.

– Ok! – cruzou os braços e fechou a cara – Só me explica; como assim ele é seu?

– Eu o adotei!

Ela ri alto. Deixou a entender que eu não sou capaz de cuidar do cachorro ou como se eu não fosse capaz de cuidar de mim mesmo. Eu não estava a entendendo. Nessas horas ela deveria me apoiar, não é ela que quer recuperar o tempo perdido?

– Olha só, nós não...

– Mãe! – a interrompo – Não dê sua opinião, não estou esperando pelo seu ok! Esse cachorro é meu e pronto.

Dei de costas para ela. Estava entrando em casa quando a minha mãe me chama, não queria voltar, mas acabei dando a meia volta. Ela vira para mim.

– Tenho uma péssima notícia! – ela diz passando o dedo indicador na borda do copo – Como a casa está cheia, você terá que dividir o quarto. Todos nós teremos!

– Tudo bem! – dei de ombros – Eu não me importo de dividir o quarto com você.

– Não é comigo que você terá que dividir! – quando termina de falar ela olha para o Félix.

– Tanto faz.

Agora eu entro em casa e não volto mais. Subo as escadas e começo a procurar o meu quarto por aqueles "corredores infinitos", era assim que eu chamava quando era criança. Encontrei um empregado e ele me levou até lá. Entrei e encostei-me à porta. As nossas malas já estavam separadas de acordo com a cama que ficaríamos, nem isso tivemos escolha.
Desencosto da porta e jogo a minha mala no chão, abrindo ela logo em seguida. Separo uma roupa bem calorenta; uma blusa social e uma bermuda, bem aleatório. Abro o armário e pego uma toalha. Saio do quarto e olho para os lados, agora só falta descobrir qual dessas portas é o banheiro. Para a minha sorte, é mais perto do que eu imaginava. Tomo um banho quente bem demorado, me seco assim que desligo o chuveiro, coloco a roupa e volto para o meu quarto. Jogo a roupa suja em cima da mala, passo desodorante, perfume e desço.
Todos começam a me olhar como se eu fosse o garoto mais doido de todos, pois estavam todos de casaco e eu de bermuda, blusa social e com o cabelo molhado. Procuro algo para beber, vou para a varanda e sento na chaise. Não demora muito para o Zeus aparecer e pular em cima de mim, ele deita na minha perna e eu começo a fazer carinho.
Alguém aparece na minha frente e eu não olho para o lado, contínuo olhando para o Zeus.

– Você gostou mesmo desse cachorro! – olho para cima e era a minha mãe – Você até sorriu. – ela me mostra a foto que tinha acabado de tirar nossa. – Eu vou deixar você ficar com ele.

– Como eu disse antes, eu não preciso de sua aprovação.

– Não seja arrogante! – ela aumenta o tom de voz.

– Não seja forçada! – olho para baixo e começo a fazer carinho no Zeus – Você quer reconquistar a minha confiança? Não força a barra!

Ela sai dali sem falar mais nada. Pelo visto eu tinha deixado ela magoada, de novo. Talvez esse seja o meu dom, magoar a todos em minha volta.
Meu celular vibra e era minha mãe mandando a foto.
Abro o meu Instagram e posto. 

@im_otto New Dog!!A hora do lanche não demorou a chegar, nem a da janta

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@im_otto New Dog!!

A hora do lanche não demorou a chegar, nem a da janta. Eu não parava de comer, assim como todo mundo, pelo visto quando eu voltar para a Europa, também terei que voltar a frequentar a academia. Acabando o jantar, todos levantaram e foram para um canto. Alguns foram dormir, outros foram bater papo e eu entrei no grupo dos que foram dormir, assim como Félix. Primeiro eu fui ao banheiro escovar os dentes e depois para o quarto. Algumas coisas do Zeus já estavam espalhadas pelo quarto. Arrumei a cama dele ao lado da minha e fiz carinho nele antes de apagar a luz. Quando olhei a cicatriz novamente, lembrei-me que deveria ter denunciando o pet shop, mas como está tarde e eu estou com sono, vou deixar pra manhã. Apago a luz e deito. Estava sentindo algo me encarando e não é o Zeus. Está me deixando agoniado.

– O que você quer Félix? – pergunto.

– Ham?

– Por que está me encarando? Tem outra pergunta para fazer? Faça logo! – digo sem paciência.

– Não tenho.

– Ótimo, então vai dormir!

Virei para o lado e apaguei.

O Novo ClássicoOnde histórias criam vida. Descubra agora