Rafa
Dor... é o que me define... dor no corpo e no coração... não esperava essa reação dele, não esperava ser surrado e jogado no quarto como se fosse lixo... estou com fome e ansiando por um copo d'água, tento me levantar mais um dor enradia por minhas costelas me fazendo arfar em busca de ar...
Ouço a porta abrir, e um medo de que ele possa me bater de novo faz quem que eu me arraste tentando fugir, mas ao ver que era minha irmã não aguento e deixo toda angústia e choro me consumir entre soluços que quebram meu peito...
_ Estou aqui... estou aqui... nunca te deixarei Rafa... _ sou acalentado nos braços de Clara como um bebê, é tanta dor... tanta dor... no corpo e principalmente no coração. _ mana... não sabia... não sabia... que ele podia ser... tão cruel... por que... ele não me entende? .... pensei que ficaria chateado... mas ... não isso... me desculpe... ele te bateu... por minha causa... perdão maninha... será que... ele não me ama mais Clara?
Choro cada vez mais forte em seus braços... tentando entender como nunca percebe esse lado do meu pai... do homem que me criou, me deu afeto... amor... que brincou de bola comigo, me ensinou a andar de bicicleta, como pode mudar tanto assim? Apenas por meu jeito de amar ser diferente? Por isso tudo que vivemos como pai e filho tem que ser negado? Seu amor por mim foi o quê?
_ Você não tem culpa de nada... por favor não fale isso... eu te amo... e sempre estarei com você... sempre... e isso nunca vai mudar... _ fala enquanto chora comigo.
_ Vem deixa eu te ajudar a se limpar e cuidar desse machucados. _ Clara passou os próximos minutos me limpando e fazendo curativo. Apesar de ser um ano mais velha, pra mim foi como irmã e mãe... sempre cuidou de mim... sempre esteve ao meu lado. E agora não é diferente.
_ Rafa, não se levante acho que trincou uma costela, vou deixar imobilizada com essa faixa... mas por favor não se levante e... o pai deixou que trouxesse apenas pão e água... mas prometo que trarei escondido mais comida, tá? Cuidarei de você maninho _ diz
_ Obrigado... por tudo!
.......
Os dias passam e me recupero da surra pra logo levar ganhar outra... e outra... essa acaba sendo minha nossa rotina... recuperação e surra... recuperação e surra... as vezes quando esta mais nervoso chego a apanhar duas vezes no dia, até não aguentar e desmaiar sem forças... meu pai diz que está me ajudando, que me fará virar homem de versade e não passar vergonha nele... e chegará um dia que irei agradecer por tudo que ele me fez.
.....
Os dias foram passando levando aos meses... acho que ele tomou gosto, devo dizer que se atualizou seus métodos de surra... antes eram socos e chutes, agora usa fivela do cinto, fios, mangueira d-água, é ele se tornou criativo... esses meses me levaram ao primeiro ano de surra... que levam ao segundo... terceiro.... e quando vejo já estou com 19 anos... sendo surrado principalmente em locais que ninguém vê... barriga, cabelo, costas e pernas.... minha costas que antes não tinha um arranhão, hoje está marcada por finas cicatrizes consequência do seu adorado fio.
E aquele menino alegre, feliz, de bem com a vida, cheio de amigos que eu era, não aguentou as surras e humilhações, ficou enterrado em dentro de um homem quebrado, retraído, que tem medo de tudo e todos, que não suporta outro toque além de minha irmã..... não suporto falar, tocar e muito menos ficar no mesmo ambiente que meu pai... o homem que deveria me amar, cuidar e protejer transformou minha vida num inferno, que só teve um "fim" quando Clara conseguiu alugar um pequeno apartamento e me levar pra morar com ela.
Me questiono se fui realmente feliz...
Se fui amado pelo meu pai...
Se ele realmente me quis...
Ou se tudo não passou de uma ilusão...
.....
Meu mundo se tornou vazio... sombrio... onde grito e grito... mas ninguém me ouve...
Mundo este repleto de dor... onde as dúvidas e medo se tornaram constantes...
Rafa - 19 anos
Hoje é meu primeiro dia no trabalho, estou nervoso, meu coração bate forte no peito quase saindo pela minha boca seca, preciso me acalmar... respire Rafa... respire... não posso ter uma crise agora... respire... e quando vejo que estou melhor limpo minhas mãos trêmulas e suadas na calça, pego a chave de casa e seguro na maçaneta da porta... respire... preciso me acalmar, pois toda vez que me sinto ansioso começo gaguejar, travar e não consigo falar, mas não faço por querer... é por que simplesmente não consigo... coisas que eram tão simples pra mim, hoje se tornou difícil... tenho dificuldade de manter uma conversa, olhar nos olhos de alguém... e quando me tocam pânico surge me dominando... me impedindo de fazer coisas simples como conversar.
_ Rafa! _ me viro e olho nos olhos de minha irmã vendo apenas amor e compaixão, ela foi a única que esteve ao meu lado fazendo o possível pra mim proteger e quando não conseguia cuidava de mim, dos meus machucados... me dava comida e até água quando estes me erram negados, pois segundo meu pai estava me fortalecendo... me fazendo um homem, e homem de verdade aguenta tudo. Quantas vezes pedi para parar... quantas vezes pedi por um alimentos... quantas vezes pedi perdão por não ser o filho que ele queria... quantas vezes pensei se não era melhor desistir de tudo... e quantas dessas vezes revive tudo preso em pesadelos... mas nada adiantava quanto mais eu pedia... implorava... chorava... mais ele me punia...
Durante todo esse tempo encontrei apoio e carinho nos braços de minha irmã, a única que permacer ao meu lado... pois aqueles que se chamavam de amigos se afastaram, não queria contato com um doente...
Doente? Sou doente por ter um jeito de amar diferente?
_ Você consegue, tenho fé em você meu irmão. _ Sou tirado de meus pensamentos por Clara.
_ Me desculpe! _ falo com a voz embargada. _ Me desculpe por ser um fardo pra você.
_ Não diga isso nunca. Nunca. Eu te amo! Você é meu irmãozinho, nunca será um fardo pra mim. Agora vai lá para entrevista e consiga esse emprego. Eu acredito em você! _ olho em seus olhos e sei que ela realmente acredita em mim, que me ama.
_ Obrigado! _ sussuro lhe dando um leve sorriso e um beijo na testa. Abro a porta indo em busca de um novo futuro e só peço a Deus que me ajude.
Vou caminhando em direção ao ponto de ônibus, espero ele chegar, pago a condução e logo estou na porta da pizzaria Casa Mia, onde trabalharei no caixa. Respiro fundo pedindo para que tudo ocorra bem.
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Aí meu coração não aguenta desse jeito.❤E aí? Gostaram?
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Bj 💜
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Lucas - Irmãos March
RomanceMe sinto pesado... como se o mundo estivesse em meus ombros, é tanta cobrança... tantos olhares de nojo, pena... não sei qual deles é o pior. Não entendo porque meu jeito de amar é visto como errado, sujo, hediondo.... sendo tudo que quero, sinto...