Quando as lágrimas caem sem pudor.

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 Enquanto corria de volta ao castelo, Severo tentou ao máximo conter as lágrimas que insistiam em borrar sua vista. Ele atravessou os corredores do colégio e entrou na primeira sala de aula que encontrou vazia, sentou num canto no chão e abraçou as próprias pernas e só então, deixou que as lágrimas caíssem sem receios.

A tarde se tornou noite e Severo sequer notou que havia passado tanto tempo. Sempre que achava que as lágrimas haviam secado e que já estava tudo esquecido, ele lembrava das palavras de Tiago e então o mar de lágrimas voltava novamente.

Então a porta da sala em que ele estava se abriu e Dumbledore entrou. Snape se levantou assustado, tentando limpar os vestígios de lágrimas em seu rosto, o que foi um ato inútil já que o mesmo já se encontrava vermelho e inchado.

— O que faz aqui?! — Severo perguntou com os olhos arregalados em surpresa. Pelo menos não era nenhum aluno.

— Sabe quanto tempo está aqui, Severo? Já passou do horário de ir para cama, sabe bem que os alunos não possuem permissão de andar pelos corredores a essa hora da noite. — Dumbledore falou em seu tom calmo de sempre.

— Eu não percebi a hora... — Severo respondeu, e aquilo era verdade.

— Presumi que não, então decidi vir pessoalmente ver o que está havendo, e agora já vi.

— Eu quero ficar sozinho. — Severo respondeu como uma criança de cinco anos que quer um doce, mas não conseguia evitar.

— Sei que quer. Sei o que está sentindo, Severo. — Disse Dumbledore com um olhar bondoso.

— Não, você não sabe.

— Sim, eu sei. Essa dor, esse vazio, a decepção, acredite, eu entendo como é. — Dumbledore respondeu meio pensativo, como se estivesse lembrando de algo há muito esquecido.

— Não, você não entende! Pare de tentar entender, você nem sabe o que aconteceu comigo para que eu me sinta assim!

— Sabe, como o bom diretor que eu me arrisco em afirmar que sei quase tudo que ocorre dentro deste castelo, isso inclui seu relacionamento amoroso com o sr. Potter. — Contou Dumbledore.

— Como é? Tem nos espionado?! — Snape arregalou os olhos e então corou violentamente.

— Oh, não. Eu jamais me atreveria a fazer algo assim. Prezo a privacidade dos meus estudantes. Mas isso não quer dizer que eu não tenha conhecimento sobre o que acontece. Os quadros costumam ser observadores, sabe?

Snape o encarou por alguns segundos antes de dar de ombros.

— Que seja. — Falou secando as lágrimas que tornaram a escorrer.

— Sinto muito por seu sofrimento, Severo. Ficar longe da pessoa que amamos é realmente doloroso e...

— Eu não o amo! — Snape o interrompeu. — Eu não o amo mais! Eu o odeio! Estou chorando por ter me deixado ser tão estúpido. Por ter acreditado nele e acreditado em suas mentiras.

— Mentir para si mesmo não o ajudará, Severo.

— Não estou mentindo para mim mesmo! Você não sabe de nada! Por que não vai embora e me deixa sozinho?!

— Seria completamente insensato da minha parte se eu deixasse um aluno sozinho em uma sala de aula durante a noite. — Respondeu Dumbledore calmamente. — E talvez, o sr. Potter tenha motivos para romper com você. Já pensou nessa possibilidade?

— Ele é um imbecil, esse é o motivo! Mas é claro que o senhor presumiria que ele tem um motivo, afinal, ele é um grifinório, não? Tem sempre que ser o bonzinho. Quer saber? Não quero mais falar sobre isso. Vai me dar uma detenção por estar aqui a essa hora? Se for, faça logo, não me importo.

Dumbledore negou com a cabeça.

— Eu jamais acreditaria que um aluno não é capaz de maldades, Severo, independente de qual seja sua casa. Apenas acho que você e o sr. Potter tenham passado tempo suficiente juntos, para que os sentimentos estejam claros. Um romance falso não duraria um ano e meio, não acha? — Ele deu uma pausa avaliando as expressões de Snape. — Venha, o levarei até sua Sala Comunal. Não lhe darei uma detenção, desta vez, por que acredito quando disse que não percebeu as horas, mas espero que não volte a andar pelo castelo durante a noite.

— Certo... vamos logo.

Severo seguiu ao lado do professor e nenhum dos dois disse mais nada durante o percurso. Severo só queria poder deitar em sua cama e dormir o bastante para esquecer o que havia acontecido.

Mais cedo naquele mesmo dia, Dumbledore havia encontrado Tiago saindo da Floresta Negra. Ele havia lhe contado seus planos antes de fazê-lo, e, mesmo que Dumbledore houvesse dito que não era o melhor dos planos e que ele deveria dizer a verdade, Tiago insistiu em fazer aquilo.

— Então, como foi? — Dumbledore perguntou a Tiago que só naquele instante notou a presença do diretor ali. — Bem, pelo estado da sua mão...

— Isso não é nada. — Tiago falou dando de ombros. — Professor... Severo algum dia irá me perdoar?

— Não há como afirmar tal coisa. — Dumbledore falou e então encarou o céu. — Contudo, um amor verdadeiro é algo que não se desfaz com facilidade, se é que em algum momento se desfaz. — Então voltou a encarar Tiago. — E, tenho motivos o suficiente para acreditar que, de uma forma ou de outra, vocês acabarão juntos.

— Eu não teria tanta certeza, professor. — Tiago enfiou a mão que não estava machucada no bolso e de lá tirou a caixinha com o anel que havia comprado para Severo. — Durante as férias, eu havia planejado fazer o pedido assim que voltassemos ao colégio. Iria assumir para todo mundo, deixar todos saberem como eu amo Severo Snape. — Tiago sentiu as lágrimas quentes caírem sobre suas bochechas novamente.

— Bem, Tiago, não acredito que houvesse uma forma fácil de fazer isso, mas, a decisão foi sua. Terá que aprender a viver com ela. E, como eu disse, no fim, tudo acabará bem.

— Como poderei ficar bem sem Severo?

— Ah, meu caro, você irá aprender. Mesmo que doa, você irá aprender. Apenas lhe garanto que irá sobreviver. Todos sobrevivemos, de alguma forma.

— Como pode ter tanta certeza, professor? — Tiago perguntou encarando o professor enquanto caminhavam de volta ao castelo.

— Já fui jovem, há muito tempo atrás, e já amei também.

— E o que houve?

— Muito similar a você e Severo, tínhamos objetivos diferentes e ficamos de lados diferentes.

— Quer dizer que nunca ficaram juntos?

— Não. — Dumbledore respondeu calmo, mas então, sua expressão se tornou sonhadora. — Mas há sempre a esperança!


Nota da autora:

Well, it's been a while. 
Peço que tenham um pouquinho de paciência, vai ficar tudo bem. 
Segundo, a fic está entrando na reta final! 
E, terceiro, como está na reta final, eu comecei uma snames/jeverus nova: Dentes-de-Leão. 
Ela é super de boas, sem as aflições dessa aqui. Apareçam por lá, deem uma chance a DDL! 
Como não dá para adicionar link, vocês vão ter que ir no meu perfil. 
Enfim, só isso mesmo! 
Obrigada por ter chegado até aqui 😍❤

Dias de um Passado EsquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora