Dias de um Passado Esquecido

Quando a lua cheia desponta.

 Tiago ainda se lembrava dos mínimos detalhes daquela noite como Severo. Era como se tivesse acabado de acontecer e por dias e acabou ficando um pouco desligado da vida, apenas pensando no que havia tido com o namorado. Havia sido tudo tão perfeito, e no fim, eles viram o sol nascer, tão belo, surgindo ao pouco por sob a copa das árvores.

— Deve ter sido uma noite e tanto, uh? — Sirius perguntou, contudo foi ignorado.

— Deixe o Tiago, Almofadinhas, sabe que ele não gosta de falar sobre a namorada secreta dele. — Remo falou em tom brando, embora aquilo, de certa forma, parecesse uma ordem.

— Estou louco para conhecê-la! — Sirius falou animado. — Quando irá nos contar?

— Do jeito que são, nunca! — Tiago respondeu voltando a realidade e deixando aquelas memórias um pouco de lado.

— Ah, qual é, Pontas, nós somos seus amigos!

— Justamente por isso que não tenho a menor intenção de contar nada a vocês!

— Imagine o quanto as garotas de Hogwarts iriam chorar de desespero ao saber que você não está mais disponível... — Sirius falou tamborilando os dedos. — Elas virão correndo chorar em meus braços!

— Com essa sua cara de maluco, as garotas vão sair desesperadas de medo, isso sim! — Tiago falou, provocando o amigo.

— Pense comigo, é melhor do que ser o Rabicho. — Sirius falou e ouviu Rabicho estremecer.

— Sabe que não deveria falar assim de Pedro, Sirius. — Remo falou, sempre com seu tom conciliador. — Afinal, ele é nosso amigo também.

— Ele sabe que estou apenas brincando, não é mesmo, Rabicho?

— Sim! Claro! Não estou magoado! Está tudo bem! — Pedro falou balançando a cabeça rapidamente repetidas vezes.

Sirius nunca gostou muito do garoto gordinho, mas ele era útil nas noites de lua cheia. O que lembrou a Sirius de aquela seria outra noite de lua cheia. No mês anterior, Tiago havia sumido algumas noites, Sirius não gostou daquilo. Com ou sem garota, aquelas eram as noites deles. Eram um dos momentos mais divertidos da vida de Sirius. Ele sabia o quão difícil aquilo era para Lupin, ter que esconder tal segredo de todos não era fácil, mas ficava um pouco mais tolerável com os amigos por perto. E, não ter Pontas ali, mesmo que só por uma noite, havia chateado Sirius. Aquele era o momento deles, o momento em que podiam ser eles mesmos sem receios.

O Black, ao contrário da grande maioria dos bruxos, havia achado o máximo quando descobriu o segredo de Lupin, e desde então, dos quatro Marotos, ele era o que era mais próximo de Remo. Se não soubesse o quanto aquilo destruiria o amigo, Sirius teria lhe pedido para que o mordesse.

Contudo, para a grande felicidade de Sirius, Tiago conseguiu encontra uma forma deles se tornarem animagos. Era uma magia extremamente complicada e garotos como eles definitivamente não deveriam estar fazendo aquele tipo de coisa, contudo, a vontade de ajudar o amigo era maior e eles conseguiram fazê-la. Sirius tinha a impressão de Dumbledore os havia ajudado, dando-lhes o livro com o passo a passo para que a magia pudesse ser feita, afinal não era o tipo de coisa que se acha fora da seção reservada, alunos poderiam querer tentar e uma magia mal executada poderia resultar em sérios problemas.

Não acontecia nada daquela escola sem que Dumbledore soubesse, isso era fato. Ele sabia de Lupin, era óbvio, fora ele quem fizera a casa que começavam a chamar de "Casa dos Gritos" para que Lupin pudesse se transformar sem ser incomodado e nem machucar ninguém. Também fora o diretor que colocou o salgueiro lutador diante da passagem para que nenhum aluno desavisado pudesse aparecer por lá. Dumbledore sempre pensava em tudo.

Os quatro amigos foram os primeiros a chegar no Salão Principal para o jantar e comeram mais rápido do que era seguro e correram para fora do castelo. Precisavam chegar a casa antes que a lua surgisse no céu.

Assim que chegaram ao Salgueiro, Rabicho se transformou em sua forma animago e foi até o nó da árvore e a fez parar de se mexer. Os outros amigos passaram pelo salgueiro, e adentraram a passagem, ao que Rabicho soltou o nó da árvore e o salgueiro voltou a se mexer. Quando chegaram ao túnel, Tiago e Sirius seguiram para a sua forma animago, e seguiram para a casa já transformados, com exceção, é claro, de Lupin.

Quando chegaram na casa, a lua já havia começado a subir no céu e não demorou para que a transformação de Lupin começasse. Ele já estava esperando, usava apenas a roupa de baixo, era mais fácil de substituir do que todo o conjunto do uniforme da escola.

A transformação levava alguns minutos, e os três animagos mantiveram-se e extremo silêncio enquanto viam o corpo de Aluado se metamorfosear dolorosamente. Seu corpo foi mudando de forma, os membros ficando ainda mais esguios e bastante peludos, o focinho se alongando e as orelhas ficando pontudas, enquanto as garras começavam a despontar sob seus dedos, não era nada bonito de se ver, não era tão leve e gracioso quanto a transformação de um animago, e, além de tudo, não havia a consciência. Remo perdia total consciência quando se transformava, e atacaria o primeiro humano que aparecesse em sua frente, fosse ele amigo ou não, o animal não saberia diferenciar. Contudo, ele não atacava animais. E era por isso que seus amigos estavam ali, como animagos, para lhe fazer companhia.

Quando estavam transformados, os três animagos e o lobisomem costumavam fazer competições de gritos, na verdade, a "competição" era apenas entre Aluado e Almofadinhas, uivando e gritando para lua. Outras vezes, eles corriam pela casa, os quatro participando desta vez, numa espécie de "pique-pega" animal e um tanto violento. Contudo, Lupin nem sempre estava no espírito da brincadeira e as vezes perseguia os amigos de verdade, o que acabava em estrondos terríveis, dos corpos batendo contra as paredes e dos gritos de desespero dos animagos que fugiam do lobisomem, aumentando ainda mais a fama de casa mal assombrada da "Casa dos Gritos". A principal "vítima" de Aluado era sempre Almofadinhas, o lobisomem dificilmente enxergava Rabicho, que se escondia pelas paredes, e morria de medo dos chifres de Pontas, então, sempre sobrava para Almofadinhas. Contudo, e muito felizmente, Almofadinhas conhecia a casa de cabo a rabo, ao contrário do lobisomem, que não mantinha as lembranças de Lupin ao estar transformado, além do que, Sirius era bastante rápido e seu corpo bem menor que o do lobisomem, conseguia passar por espaços pequenos.

Mesmo que um pouco desesperador, Sirius sempre achava aquilo extremamente divertido, e no dia seguinte, ria alto enquanto contava a Lupin as façanhas da noite anterior. Lupin, é claro, sempre sentia-se envergonhado do que fazia enquanto estava transformado e fora de si, mesmo sabendo que era algo que ele não conseguia controlar. Era difícil, sempre fora, mas, com amigos tão bons ao seu lado, as coisas ficavam um pouco melhor.