01 ¦ novo mundo

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#DeusesDeMetal

Ouro, 6 de Topázio de 121 d

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Ouro, 6 de Topázio de 121 d.S. [depois de Sarang]

Park Jimin arrumou seus óculos redondos mesmo que eles já estivessem no lugar. Sentia-se pressionado pela aglomeração da estação, porque ele achava as pessoas de Sarang barulhentas e grosseiras, quase tanto quanto o trem. Ficou imaginando o aconchego do seu quarto e os cliques delicados de suas engenharias; a mente constantemente achando ideias para suas mais loucas fantasias de criação.

Ele colocaria um mecanismo de corda nos joelhos do autômato e ligaria a roda de escape a uma âncora que transmite o movimento à roda de balanço, fazendo a mola girar a cada dois segundos, para que a lebre saltasse em intervalos de tempo iguais. Mas teria que ser uma mola bem maior. Precisava confeccionar uma âncora naquela noite, tinha quase certeza que o desenho do modelo estaria na terceira prateleira da estante na direita...

— Jimin!

Ele olhou para Kim Yerim, que tinha os braços cruzados e a bota batendo incessantemente no chão de metal. Com certeza não era a primeira vez que ela o chamava, mas era a primeira vez que ele ouvia.

Jimin sorriu e passou os dedos pela borda da cartola sobre seus cabelos negros como o carvão que o trem queimava.

— Senhorita, deixe para gritar meu nome na cama.

Como resposta imediata, Yerim revirou os olhos e o puxou pelo braço. Jimin teve que se esforçar para não pisar no vestido dela, que era longo apenas atrás.

— Eu sei que você não gosta da estação, Jimin, mas colabore só dessa vez. Eu sempre lhe acompanho nas entregas dos seus autômatos. Por que não pode fazer isso por mim?

— Mas nas entregas é questão de sobrevivência. Da última vez que você não me acompanhou, eu levei um soco no estômago.

— Porque você fica dizendo e fazendo coisas desnecessárias às pessoas.

— O olho de vidro do cara estava saindo do rosto dele! O que você esperava que eu fizesse?

Yerim freou os passos, fazendo-o parar também, e o olhou.

— Que não tentasse empurrar de volta, pelo menos.

Para Jimin fez sentido no momento.

Os olhos azuis dele encararam as íris castanhas dela como em uma batalha silenciosa, e, por fim, Jimin suspirou. Ele não podia negar algo para aquelas bochechas rosadas. No entanto, era muito difícil para ele estar perto do trem. Uma máquina colossal, que mais parecia uma rebelião cortando o país do que um meio de transporte. Totalmente diferente da majestosidade dos dirigíveis, pois essa sim era uma engenharia de qualidade, Jimin acreditava.

O apito do trem soou forte e reverberou na gigantesca ponte sobre o oceano onde o país de Sarang estava localizado. As badaladas do grande relógio da estação ao ar livre indicou ser meio-dia, e a locomotiva pararia por uma hora antes de voltar a percorrer seu trajeto. Os chiados de fumaça quente e os cliques travados das engrenagens se faziam mais altos que as pessoas descendo dos vagões, com a indumentária característica de Sarang: ternos e vestidos enfeitados, com cordões apertando, fitas envolvendo e botões fechando, sempre um chapéu ou penteado na cabeça e sapatos tão únicos quanto flocos de neve. E metal, esse não poderia faltar. Estava em forma de arabescos, flores, bengalas, espinhos, óculos, meias, espartilhos, lapelas de terno; uma infinidade. A população era espalhafatosa como a terra onde viviam, feita inteiramente de metal, do chão às paredes dos prédios, que se alastravam de todos os tamanhos e formatos, como mato na selva. Seus próprios habitantes tinham medo de se tornarem selvagens na selva de metal.

imperfeitos: deuses de metal ; livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora