1 ✦ Ministro das Arenas

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#DeusesDeMetal

 *este é um capítulo especial e sua leitura é opcional*

gatilho: tortura e morte infantil (não explícita) e parricídio

É preciso sentir o medo das trevas antes de ser capaz de reconhecer a esperança da luz. Da mesma forma, não se aprecia de fato a felicidade até passar pelo real sofrimento.

Seojjog - 104 d.S.

Em um surto de raiva, o pequeno Yoongi jogou a xícara cheia de chá quente na criada que o serviu. A moça gritou e se escolheu quando o líquido ensopou sua roupa, queimando a pele por baixo.

— Eu não quero chá, eu quero ir para casa! — ele disse depois da porcelana se espatifar no chão de madeira. — Odeio essa selva!

A Ministra das Arenas de Sarang, e mãe de Yoongi, liberou a criada com um gesto de mão e ao mesmo tempo espantou um mosquito que a rodeava. Era uma das consequências de passear de barco no rio, cercados pela mata ciliar densa e úmida.

— Você vai pedir desculpas à moça depois.

— Não vou mesmo. — Ele cruzou os braços. — Ela é nossa servente.

Os cabelos curtos e escuros da mulher emolduravam seu rosto bonito e severo, de olhos profundos.

— Se você não quer pedir perdão às pessoas, não faça mal a elas em primeiro lugar. Eu não quero você abaixando a cabeça para criados, contudo, educação é importante. Traz respeito e admiração.

— Ora, Naeum, ele é apenas uma criança — disse o pai, sentado ao lado deles na mesa e calado a maior parte do tempo. Tinha os olhos verdes de quem Yoongi puxou, mas cabelos loiros que não vingaram em seus dois filhos. — Não precisa ter o respeito e admiração de ninguém ainda.

Naeum se inclinou na direção do marido e falou com seus lábios vermelhos como o vestido que usava.

— Yoongi não é como as outras crianças — ela sussurrou. — Você sabe que ele é diferente, Seojun.

— Eu posso ouvir, mãe. E você está certa: eu não sou como as outras crianças; sou melhor.

Yoongi se levantou sem pedir licença e saiu batendo o pé no chão do segundo andar do barco. Seus pais se entreolharam, sabendo que pedir para ele voltar de nada adiantaria.

O garoto passou pelos outros passageiros e tripulação sem realmente olhar para eles. Apenas conseguia pensar no quanto aquela viagem era idiota. Primeiro uma hora de trem depois um dia inteiro de barco até chegar na capital de Seojjog, onde ele ficaria preso num casamento e teria que ser o bom e educado menino que esperavam dele.

Ele desceu as escadas até a polpa e viu Woojin, seu irmão mais novo, apoiado na amurada e olhando o movimento do rio com sua babá. Yoongi queria ser pouco cobrado como ele. Entendia que Woojin tinha seis anos e ele nove, mas desde sempre Yoongi foi obrigado a participar de chás e cumprimentos, enquanto o outro podia ficar rindo e olhando a natureza como um bobo.

Não precisavam lhe dizer, ele já sabia que Woojin era o preferido de todos.

Aproximou-se dele e olhou para o rio também. A água era escura e refletia um pouco do céu e das árvores, como uma ilusão.

— Por que você não pula, Woojin? Pode treinar seu nado.

— Senhor Yoongi! — a babá o repreendeu. — Não fale isso para ele.

— Yoon, eu vi um peixe e ele era bem grande assim. — O pequeno abriu os braços e sorriu, não percebendo a malícia nas palavras do irmão. Era a imagem cuspida da mãe, mas com olhos e bochechas bem mais dóceis.

imperfeitos: deuses de metal ; livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora