CAPÍTULO XXIII-É SOBRE DEREK ALLEN-PARTE II NARRADO POR DEREK ALLEN

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10 MESES ANTES


ANTERIORMENTE... DEREK ACORDA APÓS SER SEQUESTRADO POR SUA EX NAMORADA JUDY. O VAMPIRO DESCOBRE QUE ELA SEMPRE ESTEVE VIVA, E QUE SÓ O TRANSFORMOU EM VAMPIRO, PARA QUE SEU CORPO FOSSE POSSUÍDO PELO SEU PAI, TITONO.

Dez meses antes

Dessa vez acordei sentado em uma cadeira. A dor havia se intensificado em mil, e eu estava com muita sede mesmo. Demorou um tempo até eu me situar sobre o que estava acontecendo. Minha visão estava turva e eu queria muito vomitar e só depois do que pareceu séculos eu consegui erguer a cabeça e ver Judy de braços cruzados, encostada na parede. Foi aí que lembrei que é uma traidora e que meu corpo está prestes a ser usado para habitar o corpo do pai dela, que se chama Titono e é um imortal amaldiçoado pelos deuses ou algo assim.

Tentei observar a movimentação ao meu redor, havia alguns híbridos fazendo um círculo de carvão a minha volta e outros estavam acendendo velas azuis nas direções Norte, Sul, Leste e Oeste, olhei para o meu lado direito e percebi que não estava sozinho dentro do círculo. Um senhor de idade estava ao meu lado, ele tinha o rosto sujo de fuligem, barba grande e cabelos maiores ainda, grisalhos e bagunçados e roupas esfarrapadas, tinha aparência de um mendigo, entretanto não foi isso que chamou minha atenção. Ele parecia completamente apavorado, seus olhos estavam arregalados e suas mãos tremiam.

Ele é um mundano, isso é óbvio, entretanto o que ele faz aqui?

- Quem é o senhor? – perguntei com a voz fraca e ele olhou para mim apavorado, entretanto não respondeu. – Eu também sou a vítima aqui.

Mas o senhor continuou sem responder, na verdade ele caiu no chão, agarrou as próprias pernas e começou a gritar, ninguém deu a atenção para o pobre senhor e eu fiquei horrorizado com a cena, sentindo as pernas tremerem, eu queria ajudá-lo, mas estava fraco e cansado.

- Está tudo pronto para começarmos. – ouvi um homem falando com Judy.

- Vá em frente. – ela disse se ajeitando.

Seu olhar se encontrou com o meu por meio segundo e depois ela olhou para o mendigo gritando, provavelmente porque é menos doloroso. O homem que falou com Judy se posicionou na frente da vela Norte. Ele era baixinho, seus cabelos com dreads. Um homem negro de olhar maligno era o que via. Quando ele viu o pobre mendigo gritando sussurrou alguma coisa e de repente tudo ficou silencioso. O senhor ainda estava de boca aberta, entretanto nenhum som saia dela. Feiticeiro, pensei amargurado.

O homem começou a falar em outra língua que eu reconheci como latim. Não sei falar nada da língua dos feiticeiros, entretanto quando ele começou a recitar o feitiço eu percebi que era algo muito ruim. As chamas começaram a balançar freneticamente e adquiriram uma cor preta, vultos começaram a rodopiar ao meu redor e eu perdi o ar, minha cabeça foi jogada para trás e eu vi imagens passarem diante dos meus olhos, elas são confusas, mas entendi que é a vida de uma pessoa que viveu muito tempo.

Tentei me concentrar em outra coisa e assim que olhei para o senhor ao meu lado vi que ele estava flutuando, um vulto diferente dos outros que me cercam saiu de sua boca, totalmente preto, exatamente igual as chamas da vela e em súbito de desespero percebi que o vulto veio em minha direção. Antes que eu pudesse gritar ou fazer qualquer coisa o vulto entrou em mim e foi a pior dor que eu senti em toda minha vida.

Meus músculos contraíram, meus ossos pareceram queimar e meus olhos reviraram completamente, tudo aconteceu muito rápido, todavia parece que durou uma eternidade. Quando cai não senti mais dor, meu corpo não sentia mais nada, apenas um leve formigamento na ponta dos dedos. Me surpreendi quando percebi que estou no chão e pelo canto do olho vi o senhor ao medo lado, os olhos vidrados e a boca aberta em horror. Morto.

Senti alguém me puxar para cima e percebi que era Judy e eu ainda não sintia meu corpo, entretanto ela colocou uma bolsa de plástico com líquido vermelho na minha frente e algo gritou dentro de mim, minha garganta arranhou e não sei como, mas consegui esticar o braço e pegar a suculenta bolsa de sangue e beber tudo com muita rapidez. De repente me senti mais forte, os meus ferimentos cicatrizaram e eu voltei a sentir meu corpo, lentamente. Encarei Judy.

- Como se sente? – ela me perguntou com os olhos lívidos de curiosidade.

- Estranho. – confessei, agora me sentindo mais forte. Ela me encarou e depois encarou o feiticeiro que tinha acabado de fazer o feitiço, ele parece cansado.

- Hank...— ela chamou. – Deu certo?

- Sim, mas ele ainda não se estabilizou no corpo, precisa de tempo. – explicou o feiticeiro que se chama Hank.

Eu não precisei perguntar sobre o que eles estavam falando, eu sabia exatamente o que acabou de acontecer. Soube o que aconteceria quando Judy começou a contar sua história. Eu estou possuído, Titono o pai de Judy está possuindo meu corpo, de repente me senti mais estranho, tendo plena consciência de que agora dividiria meu corpo com outro ser. Fiquei tão atônito com essa informação que só percebi que estou sendo levado para fora da sala em que estou quando já estou na metade do caminho.

- Senhora. – um dos híbridos chamou Judy. – Como saberemos se é Titono ou Derek no corpo, senhora?

Judy olhou para mim, fico imaginando como deve ser estranho para ela imaginar o próprio pai no corpo de um garoto de dezoito anos, um garoto que já foi seu namorado, imaginar que agora ela vai chamar de pai um corpo do qual ela já foi muito íntima, um corpo que ela dividiu segredos. Mentiras e mais mentiras pensei amargurado e triste.

- Conheço meu pai a muito tempo. – ela respondeu, ainda me encarando. – Quando desconfiarem de que ele está no comando, me chamem, eu saberei na hora.

Os híbridos confirmaram e voltaram a me puxar para o meu quarto, eu queria desmaiar de novo e acordar em Crossfield, ao lado de Jonathan, tomar café com os irmãos Collins, treinar com os vampiros, perturbar Meredith, mas não, isso não ia acontecer, eu sabia disso. Tinha plena consciência de tudo que acontece ao meu redor.

Fui jogado no quarto e a porta atrás de mim trancada, entretanto não importa mais. Me encostei na porta e fui me arrastando até o chão, depois agarrei meus joelhos e chorei desesperado. Chorei pensando nos meus amigos, chorei pensando em Judy e na sua traição, chorei pensando que agora eu estava possuído e talvez nunca mais vá ter controle do meu corpo. Finalmente eu me rendi ao cansaço, me arrastando fui até a cama de dossel e me deitei nela, me cobrindo até o queixo. Foi chorando que eu adormeci.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO... CONTINUAREMOS A SABER A TRAJETÓRIA DE DEREK NOS ÚLTIMOS 10 MESES.

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