Tiago
Encaro meu reflexo no espelho por alguns minutos.
Não estou procurando por uma falha, tampouco estou admirando minha escolha de roupas, que como sempre é básica. Não é a primeira vez que faço isso, mas nunca entendo bem o que busco com meu olhar.
Desisto novamente.
Estou atrasado para uma festa que não quero ir. Tenho certeza que Diego já deve ter enviado milhares de mensagens ou feito inúmeras ligações para me apressar, então decido ir logo para que eu possa voltar para casa o mais breve possível.
Pego o celular e as chaves do carro enquanto ignoro mais uma vez a ligação do meu amigo. Após alguns minutos, já estou dirigindo até a sua casa. Ouço mais um aviso de ligação chegar e atendo pelo sistema do carro:
- Daqui a pouco chego na sua casa seu mala - Anúncio em tom de brincadeira para Diego.
- Tá bom amor, tô te esperando. - E então desliga.
Uma das partes que eu mais gosto na minha amizade com ele é que se eu quiser espaço ou quiser me perder nos meus pensamentos por um tempo, ele não se incomoda. Anos de convivência fizeram ele perceber que esse é o meu jeito, e felizmente me aceitou assim.
Me pego pensando sobre como algumas pessoas tentam moldar as outras para que caibam no seu 'amor'. Justificam suas exigências com argumentos do tipo, "quando a gente ama, muda pelo outro", mas até que ponto isso é saudável?
Será que existiu um amor pela pessoa, ou pelo ideal do que ela representaria na sua vida? Porque quando eu penso na primeira situação, vejo alguém conhecendo o outro em todos os aspectos: bons e ruins. E até isso é relativo, afinal o que é bom para mim, pode não ser para a outra pessoa. Mas enfim... Quando aceitamos que o outro nunca vai ser perfeito, podemos desfrutar da companhia, aprendizado e evolução que um relacionamento pode oferecer.
Decido não pensar mais sobre o assunto, pois me remete a lembranças ruins e não quero correr o risco de chegar em uma festa deprimido. Nunca resulta em algo bom.
Após mais alguns minutos, chego em frente a casa do Diego.
Como o bonito adora exagerar na bebida alcoólica, ofereci uma carona para que ele em hipótese alguma fosse de carro. Só agora percebo como pareço um pai desnecessariamente preocupado, pois estou ciente que quando o Diego vai a festas, utiliza aplicativos de transporte para ter uma noite segura.
Não é que eu não confie nele, não confio é nos outros. Agora sim, fiz o papel completo do pai super protetor.
Ele entra no carro e me dirige um olhar divertido.
- Vamos amor, que hoje o rolê será épico! - Anuncia e torço para que épico não signifique Diego bebendo de mais, vomitando pelos cantos e me fazendo de babá (não seria a primeira vez).
- Partiu. - Digo enquanto coloco para tocar uma playlist com as melhores músicas do Foo Fighters.
-
Chegamos a uma enorme casa de festas. Esta fora alugada pela turma de Medicina que está se formando neste ano. O lugar fica nos limites de Joinville e fica distante de outros imóveis dando um ar de privacidade ao local.
Perfeito para a maioria dos planos dos estudantes que compareceram.
Estaciono em um lugar onde eu não corra o risco de ser bloqueado ou muito menos ter o meu carro danificado por algum irresponsável.
Diego é o primeiro a sair. Se comporta como uma criança em uma loja de brinquedos. Eu juro que não entendo esse constante desespero por mulheres... Quem vê, pensa até que ele não fica com ninguém... Pelo contrário, o Diego dificilmente fica sozinho e tem uma lista de garotas que são louquinhas para mudar o status de relacionamento dele no facebook.
Já o questionei por que age dessa forma, mas ele sempre se reduz a dizer, "que há muitos peixes no oceano e ele é um tubarão guloso". Eu sei... Perturbador.
De repente sinto um abraço não solicitado de um Marcos extramente bêbado, isso me faz estar completamente arrependido de ter vindo e não faz nem cinco minutos que eu cheguei. Me desvencilho dele da melhor forma possível.
Diego como sempre, acha graça, mas logo torna a olhar em volta do lugar a procura (provavelmente) de Nathalia.
Seguimos em direção ao bar. Diego pede uma cerveja. Já eu, peço uma água e recebo um sorriso debochado do barman. Mas isso não me incomoda.
Parte da minha essência é fingir que não ligo para o que os outros dizem. Depois de tantos anos de prática, eu realmente deixei de ligar para o que a maioria pensa, mas confesso que em alguns momentos opto por ativar um escudo emocional que me faz passar por indiferente. Assim, me tornei invisível para a maior parte das pessoas, pois elas logo desistem de tentar decifrar a minha estranheza.
Infelizmente, Nathalia não faz parte da maioria, penso enquanto a percebo vindo em nossa direção.
- Oi Ti, você veio! - Me cumprimenta com um beijo demorado no rosto e já penso em alguma desculpa para dar o fora. Felizmente tenho um amigo que não vai desistir fácil da garota que está a nossa frente.
- Oi Nath, tudo bem? - Cumprimenta-a e só agora tem sua atenção.
- Oi Diego, tudo e contigo? - Retribui educadamente. E essa é outra coisa que me incomoda na Nathalia... Ela é linda, inteligente, educada e interessante, mas não percebe o quanto é ruim estar atrás de mim dessa forma. Eu já dei todos os indícios de que não estou interessado, no entanto ela continua insistindo. Ela facilmente conseguiria namorar com um dos inúmeros caras que babam nela diariamente, então me perturbar?
- Tô ótimo... E a propósito, você tá linda. - Comenta dando um de seus sorrisos conquistadores. Por um segundo Nathalia parece ficar lisonjeada, mas para meu azar também não desiste tão fácil.
- Obrigada Di - Diz sorrindo para meu amigo - Gente, eu adoro essa música... - Comenta animadamente - Vamos dançar Tiago? - Me pergunta e eu não vou cair nessa.
- Poxa Nathalia, não vai rolar... Na verdade, só vim marcar presença. Já estou indo. - Falo suavemente enquanto me preparo para sair. No entanto ela não se dá por vencida:
- Ah para, você acabou de chegar... Fica mais um pouquinho vai. - Oferece ao passo que pousa a mão no meu peito. A proximidade indesejada desperta algo em mim e me faz decidir ser mais firme:
- Nathalia, pela última vez... Não estou interessado! - Falo deixando claro que não estou me referindo somente a dança. Ela arregala os olhos verdes assim que assimila minhas palavras. E assente derrotada.
Diego me olha um pouco decepcionado. Talvez eu tenha sido direto demais dessa vez, mas em minha defesa ela não me deu muita escolha. Espero que tenha entendido de uma vez por todas.
- Acho melhor você ir cara. - Sugere Diego e sinto em seu tom que não está preocupado em ficar com a Nathalia, mas sim amenizar o desconforto que ela está sentindo com minha presença. É nesses momentos em que percebo que meu amigo tem um lado mais sensível, que faz de tudo para deixar soterrado.
- Tá bom. Toma cuidado na volta, ok? - O relembro ainda sem necessidade e ele apenas assente enquanto viro para ir embora.
Consigo ouvi-lo dizer a ela: Vem Nathalia, senta aqui um pouco para você se acalmar.
Viro a tempo de vê-lo pegando uma água da mão do barman e entregando a ela. Esse é outro daqueles momentos, Diego realmente é um cara legal.
Não consigo evitar de sorrir com esse lado do meu amigo, no entanto assim que meus olhos percebem um vestido vermelho entre a multidão de estudantes, sinto o sorrio e o sangue sumirem do meu rosto.
Beatriz me encara com curiosos olhos azuis e eu não consigo disfarçar como estou surpreso com sua presença. Mas não é só com isso...
Estou extasiado com a beleza dela.
Pessoal, amanhã tem mais, prometo! Estou tão ansiosa quanto vocês, acreditem.
Não esqueçam de votar e comentar sobre o que vocês acham que vai acontecer em seguida :*
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O Silêncio das Páginas
RomanceBeatriz está desesperada! Seu contrato de estágio chegou ao fim e ela precisa encontrar um novo emprego urgente. Após conversar com Rosa, amiga de sua tia, consegue uma entrevista de emprego para ser babá na casa da família Guimarães. Cuidar de u...