Tiago
Estaciono o carro na garagem. Viro a chave para desliga-lo e descanso a testa sobre minhas mãos que ainda agarram o volante. Não consigo conter um sorriso.
Relembro dos beijos da Beatriz, a proximidade dos nossos corpos e da sua ousadia ao me envolver com sua boca enquanto estava ajoelhada no chão da biblioteca. Foi sensacional. Estou contando os minutos para o momento em que a terei por completo.
Caminho em direção ao elevador e aguardo pacientemente até finalmente entrar. Segundos depois estou no meu andar, quero me trocar rapidamente e ir treinar. Felizmente este condomínio tem uma academia que não tem horário limitado de funcionamento. Provavelmente se deve ao fato de muitos médicos morarem aqui e terem um horário não convencional para realizar a maioria das suas atividades. Eu não posso julgar, afinal eu também não me exercito num horário comum. Eu prefiro treinar a noite, porque posso botar para fora qualquer merda que eu tenha vivido ou sentido durante o dia antes de dormir. Eu durmo apenas umas cinco horas por dia, então tento assegurar que sejam de qualidade.
Ao passar pela porta vejo minha mãe sentada no sofá com uma taça cheia de vinho tinto. Ela encontra o meu olhar e vejo que está chateada. Ela tenta parecer indiferente e composta na maior parte do tempo e quase sempre consegue. Mas em momentos como esse, no final da noite e com uma das inúmeras taças de vinho que vai tomar, ela não liga em estar vulnerável... Na verdade ela não parece ligar para nada. Provavelmente meu pai fez alguma merda muito grande. Infelizmente isso é algo habitual.
— Boa noite. — Digo educadamente e em um tom formal.
— Boa noite. — Ela me cumprimenta de volta no mesmo tom.
Se alguém presenciasse essa cena, acharia estranho a maneira fria que tratamos um ao outro. Um dia já achei estranho também, eu era bem mais novo e não entendia o que estava acontecendo. No entanto tive anos e anos para me acostumar. Hoje em dia fico até surpreso que ainda trocamos algumas palavras.
Vou até o quarto do Miguel em passos silenciosos para checar se está bem. Está praticamente escondido debaixo das diversas camadas de coberta, não me admira, pois o garoto faz questão de ligar o ar condicionado mesmo durante o inverno. Esse quarto está um gelo.
Saio devagar e me dirijo agora até o meu quarto. Abandono minhas coisas em uma cadeira e troco rapidamente de roupa. Ainda estou cheio de energia por conta do momento que compartilhei com Beatriz, e só deus sabe o quanto vou precisar treinar para acalmar os meus ânimos. Me retiro do quarto e quase passo direto pela minha mãe sem dizer uma palavra sequer, mas então lembro de algo importante.
— Eu esqueci de comentar — Começo a dizer em um ímpeto — O Miguel vai fazer exame para faixa azul. — Termino de contar e espero por sua reação.
Seus olhos azuis parecem tão distantes, tão vazios e cansados. Ela é uma mulher bonita, inteligente, independente financeiramente, mas parece tão miserável... Chegaria a ser triste. Mas tenho dificuldades em me compadecer com a dor dela.
— Que ótima notícia. — Fala em um tom baixo e sem emoção. Já estou arrependido de ter trazido esse assunto a tona — Quando será o exame? — Pergunta e sinto uma ponta de interesse em sua voz.
— Daqui a duas semanas, na quarta-feira durante a tarde. — Digo esperando qual será sua desculpa para dispensar o convite. Na verdade, Miguel já nem conta mais que ela vá. Acho que a última vez que ela compareceu em algum evento por ele, foi em alguma homenagem ao dias das mães quando ele tinha quatro anos. Fora isso, só nos reunimos de fato quando o meu pai quer exibir a "família perfeita" dele para algum investidor importante.
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O Silêncio das Páginas
Любовные романыBeatriz está desesperada! Seu contrato de estágio chegou ao fim e ela precisa encontrar um novo emprego urgente. Após conversar com Rosa, amiga de sua tia, consegue uma entrevista de emprego para ser babá na casa da família Guimarães. Cuidar de u...