Foi Real ou Parte de Um Sonho?

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Tiago

Acordo com o som do despertador.

Levantando vagarosamente, pois dormi ainda menos que o habitual. Me direciono até o banheiro para tomar banho. Espero a água gelada me despertar e fico aliviado que ajuda, pois está um frio desgraçado hoje. Me arrumo com agilidade e saio do quarto. 

Assim que saio do corredor avisto Beatriz. Ela como sempre, está linda. Os cabelos volumosos caem soltos um pouco depois dos ombros e noto que cortou a franja. Quase abro um sorriso em sua direção, mas então percebo que minha mãe também está a mesa.

— Bom dia. — Digo educadamente enquanto puxo uma cadeira. 

— Bom dia. — As duas me respondem quase em uníssono. 

Um silêncio desconfortável se propaga e vejo que Beatriz vira longos goles de café preto para se esconder. Começo a me servir e penso no porquê minha mãe ainda está aqui. Geralmente ela sai cedo para não enfrentar  trânsito até Balneário Camboriú.  

Como se pudesse ler meus pensamentos, ela diz: 

— Tive alguns cancelamentos pela manhã, então decidi tomar café da manhã com vocês. 

— Entendi. — Comento curtamente. Se a Beatriz não estivesse aqui, juro que nem me incomodaria em sentar em silêncio com ela por longos minutos. Ela provavelmente não aguentaria os quinze primeiros e sairia com alguma desculpa. 

— Então Beatriz, como vai a faculdade? — Pergunta minha mãe em uma tentativa de tornar a situação mais confortável. 

— Vai bem, hoje é o último dia da semana de provas, então é um alívio. — Termina e ri nervosamente. Coitada. Isso deve ser uma tortura para ela. Confiro meu relógio e vejo que ainda faltam quinzes minutos para ela acordar o Miguel.

— Imagino — fala minha mãe com um curto sorriso — Onde você estuda? — Pergunta e Beatriz se empertiga na cadeira. 

— Na UNILLE. — Fala sem jeito e eu espero que minha mãe não dê a mesma mancada que eu quando soube disso. 

— É uma excelente faculdade — observa e seu tom não carrega nenhuma surpresa, Beatriz sorri aliviada e assente — Tiago também estuda lá, não é mesmo filho? — Pergunta a mim esperando uma confirmação. 

— Sim. — Respondo monossilábico e minha mãe começa a me dirigir um olhar de reprovação. Ela acha que estou sendo mal educado, e eu fico aliviado que não tenha percebido qualquer vínculo entre Beatriz e eu. 

Miguel surge na sala com uma coberta sobre si, que arrasta no caminho. Sorrio para ele, mas seus olhos semicerrados indicam que ele está ainda em um estado de sonolência.

— Bom dia filho — diz minha minha mãe em um tom carinhoso. Fecho a cara no mesmo instante e Beatriz nota minha reação com um olhar preocupado. Tento dizer com meu semblante que estou bem. 

— A tia chegou? — pergunta Miguel em uma voz preguiçosa e seus olhos percorrem com dificuldade a mesa a fim de encontrá-la.

— Estou aqui Miguel — responde Beatriz ao levantar e ir de encontro a ele — Vem, vamos tirar essa coberta, você tá parecendo uma fantasminha. — Fala em um tom terno enquanto passa o braço pelo seu ombro para guiá-lo. 

Observo os dois indo em direção ao quarto e abro um sorriso afeiçoado. Minha guarda fica completamente baixa quando flagro esse tipo de momento. Noto um par de olhos azuis me olhando curiosamente. Em um ímpeto baixo a cabeça para a comida e tento esconder minhas emoções.

— Fico feliz que o Miguel e a Beatriz estão se dando bem. — Fala minha mãe. Sinceramente, não sei o que espera de mim. — Não te contei a novidade, mas seu pai e eu vamos ao exame de faixa dele. — Comenta e o barulhos dos meus talheres batendo no prato entregam minha irritação. 

O Silêncio das PáginasOnde histórias criam vida. Descubra agora