O Que Você Sentiu Beatriz?

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Tiago 

Vemos os créditos aparecerem na tela ao passo em que as luzes da sala acendem, indicando o fim do filme. Beatriz lentamente se endireita em sua poltrona, encerrando assim, o nosso contato. Confesso que a princípio, fiquei irritado por ela não ter contado antes, que Diego e Fabiana iriam se juntar a nós. Realmente acreditei, que seríamos somente ela e eu. Parece até que quis esconder a informação de mim propositalmente, acho que foi isso o que mais me irritou. 

No entanto, quando se desculpou silenciosamente ao entregar seu chocolate favorito para mim, esqueci todo o meu aborrecimento. Ela não tem ideia do efeito que tem sobre mim. Tampouco o quanto me tem fácil em suas mãos. Quando ela gritou de medo com as cenas do filme, inicialmente tive de controlar uma vontade de rir, pois o filme era ridículo e de assustador não tinha muita coisa. Porém depois que me pediu com aquele jeito inocente para não rir dela, me vi novamente sob sua influência. Em um ímpeto, passei o braço por seus ombros de forma protetora e tornei a encarar a tela para que o movimento parecesse casual. 

Após minutos assimilando nossa aproximação, Beatriz cedeu ao descansar a cabeça em meu ombro. Senti o delicioso perfume de coco vindo de seu cabelo e tive de me controlar para não fazer nenhum outro movimento. Ela continuou gritando de medo, mas sentia que se acalmava mais rápido quando eu apertava seu ombro de maneira carinhosa trazendo-a para mais perto. 

Na última vez em que se aninhou em mim para esconder o olhar da tela, fui pego de surpresa com o momento em que discretamente ergueu o rosto e inspirou no meu pescoço. Senti cada pelo do meu corpo eriçar e engoli em seco. 

Sou interrompido dos meus pensamentos pela voz de Diego. 

— Esse foi o pior filme de terror que vi na minha vida. - Declara enquanto passa cada braço nos ombros de Fabiana e Beatriz. 

— Concordo! Então declaro este, o último dia em que escolhemos assistir a um filme de terror. - Diz Beatriz fazendo piada. 

— Não sei porquê você está reclamando, quase não assistiu o filme... - Fala Fabiana em um tom sugestivo ao passo em que troca um sorriso cúmplice com o Diego. 

Diego e Fabiana se tornaram amigos DO NADA! Um dia ela chamou ele de idiota sem-vergonha e no outro eles simplesmente estavam conversando como pessoas civilizadas. Só acho que tá rolando alguma coisa. Mas não vou perguntar nada, afinal se eu abrir o assunto pro meu amigo, ele vai ver uma oportunidade de me infernizar com sua cisma sobre a minha amizade com a Beatriz não ser uma boa ideia. Então vou ignorar minha curiosidade dessa vez. 

Beatriz parece ignorar completamente o deboche dos dois, mas a mim ela não vai. Hoje vou confrontá-la. 

***

— Tchau gente... Não façam nada que eu não faria, viu? - Diz Fabiana dando um piscadinha cúmplice para Beatriz e eu. E então segue para o andar onde Diego estacionou o carro. Preferi não comentar o fato de que os dois vieram e estão indo embora juntos, pois tenho os meus próprios assuntos a tratar. 

Noto a Beatriz murmurar algo aborrecido e capto os dizeres "como se você não fizesse de tudo palhaça". 

— O que foi? - Pergunto para atrair sua atenção. 

— Nada... - Diz sem graça - Então... Qual livro você vai ler quando chegar em casa? - Pergunta para fugir de qualquer assunto desconfortável. 

— O Estrangeiro - falo e ela sorri animadamente. Mas não vou perder o foco aqui. - E você? - Pergunto um pouco antes de chegarmos ao último andar de estacionamento do shopping. 

— Não decidi ainda... - Fala para minha surpresa - Acho que vou ler o Estrangeiro de novo, assim a gente debate sobre ele. - Diz abrindo mais um sorriso em minha direção. Normalmente, eu retribuiria com um ainda maior, só que hoje ela me deve respostas. 

Chegamos ao meu carro e antes que pense que abrirei a porta para ela entrar:

— Beatriz? - Peço sua atenção e vejo como reage preocupada por eu não ter a chamado por seu apelido - Por que você não avisou que o Diego e a Fabiana iriam vir? 

Ela baixa os olhos ao terminar de ouvir minha pergunta. Sinal de que sabe que vacilou. Depois de alguns segundos volta a me encarar. 

— Eu não queria complicar as coisas Tiago - confessa após suspirar. 

— Isso eu entendo... Quero saber por que você me convidou e me fez achar que seríamos só nós dois. - Falo insistindo ainda sem desviar meus olhos dos seus. 

— Eu... - Começa, mas exita para pensar no que dizer em seguida - Eu achei melhor convidar eles dois para a gente não ficar sozinho, sei lá. - Fala nervosamente e eu passo a mão pelo cabelo em um movimento involuntário. 

É um noite iluminada pelo luar, por isso consigo ver que seus olhos escureceram com o que acabaram de ver. O mesmo olhar que me deu antes de me convidar para sair. O mesmo que tinha quando me beijou naquela noite. 

Não consigo mais suportar. Preciso ouvir algo dela. 

— Sabe o que eu acho? - pergunto me sentindo agitado - Que você ainda se sente atraída por mim, mas que não sabe lidar com isso e fica se escondendo atrás dessas situações. 

Ela escuta minha acusação e então abre a boca por um segundo, mas ainda não sabe o que dizer. Espero que ela encontre as palavras, porque estou ficando impaciente.

— Eu posso saber de que situações você tá falando? - Pergunta em um tom de irritação. Ótimo, quem sabe assim chegamos a algum lugar. 

— Você me encarando na sala de estudos e depois me chamando para sair; deixando a entender que viríamos sozinhos; pra depois anunciar no momento em que chegamos que o Diego e a Fabiana viriam também - Falo ao passo em que enumero os itens com os dedos. Percebo seu olhar vacilar em direção a minha mão erguida, e está de novo com aquele semblante de antes - E agora está me encarando de novo com esse olhar de cobiça. - Termino e percebo ela acordar de algo, como se estivesse em transe. 

— Não sabia que você era esse tipo de cara, Tiago. - Fala voltando ao tom aborrecido. 

— Não entendi... - Comento enquanto inclino a cabeça de lado em confusão.

— Do tipo que sabe que é bonito e acha que todas as mulheres não conseguem fazer outra coisa, a não ser, ficar te secando. - Diz em um tom baixo e firme.

A Beatriz tem uma paciência quase infinita. Para ela estar assim, quer dizer que o assunto está mexendo com ela... Que eu estou mexendo com ela. Sei que deveria recuar e apaziguar tudo. Mas é simplesmente insuportável ignorar o desejo que tenho por ela. 

Me aproximo lentamente e ela não vacila em seu olhar, ainda parece descontente. Apoio a mão esquerda no muro a fim de delimitar nossa aproximação e a vejo vacilar o olhar para o movimento. 

Inclino o rosto em sua direção: 

— Você sabe que não sou assim Bia - Digo em um sussurro e noto ela prender o ar - Se você soubesse... - Falo, mas interrompo a frase. Fecho os olhos e encosto minha testa na dela. 

— O quê? - Pede Bia em uma voz baixa e entregue. 

— Se você soubesse o efeito que tem sobre mim... - Digo erguendo o seu rosto com a outra mão e fazendo com que ela olhe para mim - Você tem noção do quanto me tem nas mãos? 

Vejo ela engolir em seco. E tento reprimir uma vontade de beijar o seu pescoço. Eu preciso saber. 

— Eu... Tiago... Não sei... Mas e o nosso trato? - Pergunta confusa. 

— Só me responde uma coisa - imploro para os lindos olhos azuis que me encaram com expectativa - Durante o filme, quando se escondeu em mim e inspirou no meu pescoço, o que você sentiu Beatriz?



PX. CAPÍTULO DISPONÍVEL!

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O Silêncio das PáginasOnde histórias criam vida. Descubra agora