Coração Partido e Encontro Inesperado

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4 meses depois...




Beatriz



Se falassem há alguns meses que eu, Beatriz Campos estaria trabalhando como chefe de revisão na editora Leia antes mesmo de formar, eu responderia algo como "aah, claro" com uma revirar de olhos bem dramático. Mas aqui estou sentada na minha mesa (eu tenho uma mesa, que emoção!), contemplando o espaço de trabalho que divido com meus outros colegas de setor. 

A Leia tem uma politica de manter seus funcionários unidos através do compartilhamento de espaço de trabalho, portanto não temos divisões de mesas, ou muitas portas. Assim somos acessíveis uns aos outros e confesso que isso deixa o clima mais leve e produtivo. 

Por falar em produtividade, estamos todos muito animados com o próximo lançamento. Janine Vasconcelos é uma escritora experiente que após muitos anos de anonimato em plataformas de publicação de histórias, decidiu abandonar o pseudônimo e enviar sua mais recente história para nossa editora. Eu que sou fã de um bom romance, dei gritinhos de alegria enquanto revisava o material e mal tivemos trabalho, pois ela é sensacional. 

Me sinto tão grata por trabalhar com algo que eu amo! Esse emprego tem mudado a minha vida e da minha família de um jeito que nunca pude imaginar. O Lucas se matriculou em um cursinho preparatório para o vestibular, minha tia Izabel não fica mais tão sobrecarregada com as contas e eu estou mais tranquila quanto a pagar o financiamento estudantil. E além do mais, estou usando essa nova experiência na área de revisão para fazer meu trabalho de conclusão de curso. 

Nossa, um dos livros que eu mais curto é aquele Maus, já leu? É muito bom! — Ouço um fragmento da conversa de Alexandre com Anny. 

Maus, o livro favorito de Tiago. 

Droga. Droga. Droga.

Levanto de minha cadeira e sigo em direção ao que nós chamamos de Nirvana, que é o local onde temos todo o tipo de café e lanches que poderíamos querer. Alcanço uma cápsula de latte macchiato e espero a máquina fazer o resto do trabalho. 

Segundos depois saboreio minha preciosa bebida que cura quase tudo menos esse aperto que sinto no peito. 

Após semanas chorando abraçada ao diário que Tiago me deu, e ao qual não tive coragem de ler até hoje, fui lidando com os estágio tristes de um coração partido que tenta desesperadamente ser reconstruído. Claro que eu não me ajudei muito, pois assisti a filmes como: Como Eu era Antes de Você, 500 dias com Ela, Um dia, A Culpa é das Estrelas e é claro, ouvi diariamente a minha fiel playlist adolescência sofrida que conta com músicas como Say Ok de Vanessa Hudgens até All to Well de Taylor Swift. 

Ou seja, só piorei minha situação. 

Então decidi mudar a abordagem graças às indicações de Janine, que virou uma grande amiga nesses últimos tempos, a dita cuja escreve um romance como ninguém, mas tem uns gostos paralelos por livros um tanto quanto peculiares. Em sua lista de indicações constam livros que narram os autores de massacres em escolas, serial killers, histórias sobre demônios e por aí vai. 

Dali em diante, consumi conteúdos que me fizeram ficar acordada durante a noite por medo e não por lágrimas e um coração em pedaços. E o pior é que depois de um tempo, eu comecei a realmente a gostar e pesquisar na internet mais informações sobre os casos. Quando soube disso, Janine deu pulinhos de alegria e me deus boas vindas ao mundo sanguinolento que ela vivia. 

Fofa, romântica e bizarra. Essa é a Janine. 

Com os meses passando, foi ficando mais fácil. Afinal, eu não via mais o Tiago na universidade, dado que os prédios que estudamos são longe um do outro. Fabi não tocava no assunto, mas vivia tagarelando sobre o Diego, que segundo ela eram só amigos. Hmrum, sei. No entanto, as lembranças eram ativadas sempre que ia a biblioteca, ou quando via um homem alto loiro que  de relance parecia com ele, ou por comentários aleatórios sobre livros que ele gosta. Nesses momentos meu coração dói e me lembra de que as cicatrizes ainda existem.

O Silêncio das PáginasOnde histórias criam vida. Descubra agora