capítulo 4

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Maia:

Sábado no morro começa cedo — ainda mais quando a festa é na minha casa.

Levantei com o sol batendo na cara e o celular vibrando com mensagem atrás de mensagem. Era sempre assim: bastava eu avisar que ia rolar um churrasco, que o povo já se agitava. Mas hoje o clima era diferente. Hoje, além de celebrar a recuperação da minha irmã, eu queria ver uma certa garota de novo... A tal da Beatriz. Ou Bia, como a Safira vivia falando. Aquela mulher me tirou do sério desde o dia em que apareceu na porta do hospital, toda corajosa, coração batendo forte e olhar afiado.

Desci pra organizar a área externa. A casa já tava no grau: pintura feita, flores arrumadas, piscina cheia, churrasqueira no ponto. Ser dona do morro não é só ter respeito — é manter o ambiente firme, bonito e de portas abertas pra quem é de verdade. E hoje era dia de celebrar isso.

Pé de samba rolando na caixa de som, latinha gelando no isopor e a Safira mais animada do que nunca, mesmo depois de tudo que passou. Orgulho da minha irmã.

Quando o relógio bateu 11h, já tinha gente chegando. Conhecidos, amigos, vizinhos. Risada pra cá, piada pra lá. A quebrada respira quando a gente vive com leveza.

Aí ouvi a buzina. Fui lá fora e vi o carro estacionando. E desceu ela.

Beatriz.

Morena, bonita, com aquela postura que mistura curiosidade e segurança. Veio acompanhada de uma amiga, a Pérola. Boa energia também. Mas foi na Bia que meus olhos grudaram de novo. Sabe aquela sensação de déjà-vu com desejo? Pois é. Era ela.

— Quanto tempo, sua vaca! — Safira gritou, correndo até ela, rindo.

As duas se abraçaram, e eu fiquei só observando da varanda, encostada na grade com uma latinha na mão, vendo o desenrolar.

Elas entraram. E eu saí da linha de visão, como quem não quer nada, mas com o radar ligado.

Vi quando Bia me notou. Aqueles olhos me rastrearam como quem sabe exatamente o que quer. E eu... bom, eu gosto de jogo. E ela parecia disposta a jogar.

Fui pra piscina depois de um tempo, de short jeans e top branco. A galera armou um vôlei improvisado, e lá estava ela, do outro lado da rede, tentando manter o foco. Quase tive pena. Quase.

Depois do jogo, fui até o canto da piscina onde ela tava com os pés na água. Sentei do lado, sentindo o calor do corpo dela mesmo com a brisa leve soprando.

— E aí, novata… tá curtindo o rolê ou ainda tá tímida?

Ela respondeu na lata, com um sorriso provocador.

— Tímida eu não sou, não. Só tô observando.

Gosto disso. Mulher que observa. Que lê o ambiente. Me instiga. E foi ali que percebi que aquela conversa podia ir longe.

— A casa tá de portas abertas. Só não vale querer sair depois e deixar saudade, hein?

Ela riu. Me encarou de volta. E nesse jogo de palavras, ela já tava dançando comigo, mesmo sem música.

Daí pra frente, foi tudo fluindo. Convidei ela pra piscina. Quando entrou, o biquíni preto dela me fez perder o compasso por um segundo. Mas disfarcei — dona do morro não se entrega fácil. Brincamos na água, empurrões, guerra de risadas, aquela tensão elétrica no ar. Se alguém visse de fora, ia achar que a gente já se conhecia há anos.

Quando Safira trouxe a caipirinha e o brinde foi feito, cheguei mais perto e perguntei baixinho:

— Tu bebe devagar ou é das minhas?

Love Is LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora