Acordei com carinhos em meu cabelo e ao abrir os olhos vi só a parte de cima da cabeça dela que permanecia com o rosto enterrado em meu peito, beijei seus cabelos e ela me abraçou, a apertei de volta e ouvi seu suspiro cansado, talvez devesse deixar para mais tarde mas preciso saber o que aconteceu ontem, ela não estava nem um pouquinho bem.
— Amorzinho... você realmente foi ver seus parentes ontem? Quem te deixou beber daquele jeito? — perguntei e ela deu uma leve risadinha demonstrando seu cansaço.
— Isso logo de manhã? Não dá pra deixar pra depois? — respondeu com outra pergunta claramente fugindo disso. Ela passou a pontinha de seu nariz pelo meu peito até meu pescoço parando ao deixar um beijinho debaixo do meu queixo. — Eu vou fazer um cafézinho pra gente... aí depois nós conversamos se você não tiver nenhum compromisso.
Ela tentou se levantar mas a segurei firme contra mim, se pensa que vou ceder tão facilmente está enganada, nunca tinha visto ela tão machucada quanto estava ontem, aliás pedia pra eu machuca-la, juro que nunca imaginei ouvir isso dela que é sempre tão carinhosa com todos. Não consigo por em palavras a proporção da dor que senti em meu coração apenas por vê-la chorar, mas piorou quando me pediu para puxar seu cabelo, eu não faria isso sem um bom motivo, me assustei demais quando ela simplesmente surtou e socou suas coxas, foi como um estalo em minha cabeça dizendo "ela não tá nada bem" coisa que eu já deveria ter percebido àquela altura, acho que sou tão cego de amor por ela que não vi que estava a beira de um surto.
— Eu preciso saber agora! Me preocupo com você! Por favor... só me diz onde você foi ontem... — minha voz acabou saindo um pouco tremida, não consigo me controlar 100% perto dela.
— Eu fui conversar com o Erick... de certa forma não estava mentindo sobre me encontrar com minha família pois ele é meu "meio-primo/conhecido". — ela disse com a cabeça deitada sobre meu peitoral enquanto brincava com os botões da minha camiseta.
— Eu conheço esse Erick?
— Sim, é aquele imbecil que eu bati no nosso segundo encontro. — acabei rindo lembrando do ômega de voz esganiçada que apanhou pra minha princesa. — A mãe dele que me criou então temos uma relação de irmãos. Ontem ele queria conversar comigo sobre o almoço de família que vai ter hoje, o almoço vai ser na casa do meu tio por parte de pai e o jantar na casa da minha avó por parte de mãe. Eu não quero ver nenhum dos meus parentes do lado do meu pai, não gosto deles, de certa forma me dizerdaram depois que me mudei, antes eu só trabalhava, escutava meu pai bêbado, eles nos visitavam pra jogar e beber, e etc. Agora, só vejo eles uma vez por ano pra dizerem que engordei e não vou conseguir um namorado desse jeito além de tentarem arrumar algum alfa pra mim.
— M-mas o que vocês falaram? Quer dizer... o que você acabou de contar é horrível, por mim você não iria mas a escolha é sua, só quero saber sobre o que você e esse Erick conversaram dessa "reunião de família". — eram tantas informações passando pela minha cabeça em um segundo que acabei me enrolando pra falar. Ela respirou fundo e começou a fazer desenhos imaginários em meu peito com seu dedo indicador provavelmente para se distrair da situação em que se encontrava ou para se concentrar melhor.
— Vou começar de novo pra você entender direitinho. — disse agora com a voz mais firme apesar de parecer sonolenta. — Eu tenho sérios problemas com minha família. A mãe do Erick que me criou, ela é minha tia, por isso ele vive implicando comigo de um jeito insuportável. Meu pai é... uma pessoa complicada... depois que a minha mãe morreu no parto dizem que ele virou outra pessoa, uma pessoa bipolar, que se depender da bebida me odeia mas no seu normal diz que me ama por ser seu bem mais precioso. Nesse almoço vão estar todos os tios que falaram pro meu pai me dar pra adoção ou largar na porta de alguém, de certa forma quero mostrar pra eles como dei a volta por cima mas ao mesmo tempo não quero respirar o mesmo ar que eles. Entendeu?
— Entendi... sei que pode soar muita intromissão da minha parte mas se quiser eu posso ir com você. Afinal, nós somos companheiros. — ao falar isso parece que um peso saiu do meu peito, como se chamar ela de companheira melhorasse tudo em questão de segundos.
— Mas você não tem coisas pra fazer hoje?
— Eu posso cancelar. Você é minha princesa e merece ser tratada como uma. — afirmei beijando o topo de sua cabeça e ouvi ela rir baixo com a demonstração de carinho.
— Esteja preparado pra tudo nesse caso... mas se vai conhecer meu pai também precisa ir no jantar conhecer minha mãe adotiva. — finalmente ergueu a cabeça grudando seus olhinhos inchados nos meus, meu coração apertou um pouco mas seu sorriso me fez relaxar em uma proporção incrível. — Agora que conversamos vou fazer um cafézinho e vamos pro dormitó-
— Ainda não conversamos tudo! — cortei sua fala e ela pareceu ficar pensativa mas se calou me escutando. — Quero saber por que bebeu tanto ontem. Aliás, como chegou em casa se estava caindo de bêbada?
— O Erick me trouxe. Eu só bebi pra afogar uns medos. E você tem que se sentir culpado pois metade da cachaça de ontem foi culpa sua! — falou dando um leve tapa no meu peito com a expressão de raiva mais fofa que eu já vi e olha que eu já vi o Jimin com raiva. — Se não fosse tão gostoso talvez as pessoas não ficassem te secando! Talvez eu não teria tanto medo de perder meu posto de companheira! Você deveria ser feio e chato por que aí seria só meu!
— Tem medo de me perder?
— É claro!!! — falou um tanto alto. — Você tem tantas fãs mais bonitas que eu! Tem ômegas lindos a sua volta! Pessoas menos complicadas que iriam se dar tão bem com você! Eu sou só uma conchinha quebrada em uma praia cheia de conchas lindas e inteiras!
— Meu amor... — comecei e ela parou de falar afoita desfazendo sua expressão de desespero, me olhou com os olhinhos molhados apenas pelo apelido carinhoso e senti vontade de guardar ela num potinho pro mundo nunca mais voltar a machucar. — Você também está rodeada de alfas... acha mesmo que eu não tenho medo de te perder? Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida, acredito que se desaparecer de repente eu posso acabar morrendo. Ninguém conseguiu me fazer sentir isso, um alívio na alma, um ardor gostoso no peito que esquenta o corpo todo, uma euforia instantânea só de te ver. Você, só você, me fez assim. Não vou te trocar por qualquer ômega meia boca por aí.
— ... eu já disse que te amo? — perguntou depois de um tempinho abrindo um sorriso bonito, mas eu ainda não havia esclarecido tudo, afinal, por que ela queria que eu a machucasse? Eu nunca conseguiria fazer isso com ela.
— Já... mas eu quero saber de só mais uma coisinha... — falei levantando o dedo indicador para mostrar a quantidade e ela sorriu fofa. — Por que você pediu pra eu te machucar? Isso não é saudável, eu nunca conseguiria te machucar, você é minha metade.
Ela desfez seu sorriso e desviou o olhar para a janela do quarto enquanto brincava com seus dedos, tive um tempo para admirar sua beleza e aparência frágil enquanto ela pensava em alguma resposta convincente. — Hoseok eu tava mal, queria sentir dor pra diminuir a dor que estava no meu peito. Queria que me machucasse por que aí eu iria amar cada marquinha já que seria você que fez.
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Flores e Baunilha
Teen FictionPor causa de seu instinto de alfa, mesmo quando esta dando autógrafos para as fãs, no fanmeeting, eu devo ficar sentada aos pés dele embaixo da mesa, as garotas não me veem ali e ele se mantém calmo pois sabe que estou a salvo. Isso começou quando...